Editorial: Espíritos são seres sociais, por Marcelo Henrique e Claudia Jerônimo

Tempo de leitura: 4 minutos

Marcelo Henrique e Claudia Jerônimo

A convivência do homem com seus semelhantes é uma necessidade e uma oportunidade. A primeira, porque nem o mais evoluído dos seres consegue suprir suas próprias deficiências na busca dos recursos de que carece para a subsistência no plano físico-existencial. A segunda, de vez que o próximo é sempre o instrumento para a nossa própria progressão, seja como orientador do rumo de nossos atos, seja como orientando nosso, quando prestamos qualquer colaboração ou auxílio.

Sociologicamente, a vida social principia no núcleo familiar, onde o ser estagia, recebendo informações e estímulos, os quais irão contribuir para a formação de seu caráter e personalidade atuais. Espiritualmente, tais elementos serão acrescidos ao conjunto de vivências e experiências pregressas, formando o indivisível ser espiritual, que somos, cada um de nós.

Esta edição – a sexta do ano de 2022, enquadrando as dez leis morais à luz do Espiritismo – se compõe de sete artigos meticulosamente escolhidos para, a partir da diretriz contida no conjunto das obras de Allan Kardec, enquadrar temáticas da atualidade, buscando entender o Homem e a Sociedade, suas inter-relações e influências, considerando-se que um e outro, reciprocamente, estão em permanente simbiose e ambivalente correspondência.

Vale dizer que viver em sociedade, com todos os seus desafios, é algo que precisa de uma pausa para viver a cultura da Humanidade. Nela nos reconhecemos nos palcos em histórias que nos fazem viajar. Momentos com distintos sentimentos, em dramas e comédias que trazem a emoção e a alegria em dias tão agitados. Nesta trajetória, também nos deliciamos com as histórias, fazendo-nos viajar na leitura, assim como nos acalmamos ao ouvir canções que enchem o nosso coração e a nossa alma de prazer e de vontade de viver. Pois, dentro desta edição, embora não haja o relato de histórias de vida, os textos nos remetem a distintas situações da existência humana, para que possamos refletir e nos conscientizarmos para as tarefas “em sociedade”.

Vamos aos textos desta edição, então.

Alexandre Mano, nosso amigo português, desfila pela vez primeira em nossas páginas com uma abordagem, em seu “O Espiritismo e a Sociedade”. Em pontuais pinceladas, o autor revisita elementos importantes constantes de várias das obras de Kardec, encadeando-as em um agradável tecido. Para ele, “Kardec nunca pretendeu excluir da Doutrina Espírita as preocupações de ordem social; pelo contrário, deixou sempre bem claro que é um dos pontos centrais da Filosofia Espírita”, não sendo possível “dissociar o conhecimento da Doutrina Espírita e a experiência do homem na sociedade em que se insere”.

Em “A Lei de Sociedade e o Brasil, país do futuro”, percebe-se a acidez moderada de Maria Cristina Rivé que nos endereça à necessária superação dos “tempos macabros” em que ainda vivemos, marcados pela “disparidade de oportunidades e de crescimento”. Como especialista em linguística, Rivé relembra o uso da nossa linguagem com sentido pejorativo, sugerindo que se erradique do nosso vocabulário palavras que são indignas, assim como piadas, “de mau gosto, excludentes e desumanizadoras”.

A partir da poesia contida no célebre e homônimo livro de Ernest Hemingway, Nelson Santos trabalha em seu “Lei da Sociedade: por quem os sinos dobram?”, a evolução do pensamento e da cultura humanas. Neste sentido, o advento do Espiritismo “e o pensamento analítico kardeciano tecem, de modo didático, firmados conceitos acerca da vivência social como o instrumento de progressão moral e ética da sociedade”.

A marca socialista da Doutrina dos Espíritos e a ênfase do aspecto social da prática espírita, no extramuros das instituições espíritas é a tônica do artigo “Socialismo Espírita”, de Luiz Dantas. O texto, escrito na década de 1930, está plenamente em vigor, concitando os espíritas do Século XXI para fazerem o Espiritismo avançar, tomando “um impulso mais forte”, que é o do “sentido social da doutrina”, porque “ser espírita não consiste apenas em evocar Espíritos”, mas, “erguer da lama os seres sem consciência dos seus altos destinos”.

Já em “A vida moderna e o futuro”, Cláudio Bueno da Silva reflete sobre os tempos atuais, a era cibernética e das redes sociais, sugerindo o desenvolvimento, nas instituições espíritas, de “um trabalho estrutural de contínuo esclarecimento, de informação útil, de educação das massas” , para reverter o quadro de desigualdades e injustiças sociais existente.

No seu “Sociedade Solidária, Comunidade Saudável”, Denizard de Souza parte das lições de Daniel Goleman, no sentido de patrocinar ações que possam levar “civilidade às ruas, inteligência às emoções e envolvimento à comunidade”, citando iniciativas que materializam o “envolvimento direito da comunidade nas questões sociais”, onde o “crescimento significativo de projetos, tecnologias, instituições e modelos de ação social” permite divisar, á frente, um novo paradigma: o de uma comunidade justa e saudável.

Por último, resgatamos, em tradução de Marcelo Henrique, o texto “Necessidade do Espiritismo Sociológico”, do grande filósofo argentino Humberto Mariotti, para quem todas as “questões sociais, que agitam o mundo contemporâneo, devem receber a contribuição da escola kardecista”, mas que tal contributo seja na forma da “ação dos homens e mulheres espíritas”, que têm “repercussão sobre os fatos sociais e particulares”, já que “o Espiritismo reconhece um verdadeiro encadeamento entre o particular e o coletivo” e, nisto, promove uma compreensão mais acurada e verdadeira das próprias relações sociais.

Os artigos, assim, de per si e no conjunto, representam a visão que o Grupo “Espiritismo COM Kardec” tem expressado, em textos, manifestações e lives, desde a sua criação, de que não é possível (nem adequado) um Espiritismo “de centros espíritas”, dissociado do tecido social e dos ambientes em que os Espíritos encarnados convivem e atuam. A Filosofia Espírita, assim, é um compêndio propositivo para as ações humanas NA SOCIEDADE, patrocinando a implementação de uma nova ordem social, melhorando-se as sociedades e as legislações humanas, erradicando os maiores problemas de nossa era, sobretudo os fundados na injustiça, na violência e na incompreensão.

Esperamos que você, leitor, aprecie esta nossa edição sobre a “Lei de Sociedade”, meditando sobre a argumentação genuinamente espírita contida em cada parágrafo de cada texto. E, que isto lhe motive, a partir da divulgação destas ideias, para a ação social espírita, urgente para nossos dias e para os futuros.

Lembrando, uma vez mais, o Professor francês, devemos procurar no Espiritismo aquilo que possa nos melhorar: “Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural; trabalhando pelo progresso moral, lançareis os mais sólidos fundamentos de todas as melhoras” (“Revue Spirite”, fevereiro, 1862).

Melhorando-nos, espiritual e individualmente, melhoraremos o conjunto, a Sociedade!

Foto Unsplash

LEIA OS TEXTOS:

Editorial: Espíritos são seres sociais, por Marcelo Henrique e Claudia Jerônimo

O Espiritismo e a sociedade, por Alexandre Mano

A Lei de Sociedade e o Brasil, país do futuro, por Maria Cristina Rivé

Lei da Sociedade: por quem os sinos dobram?, por Nelson Santos

Socialismo Espírita, por Luiz Dantas (in memoriam)

A vida moderna e o futuro, por Cláudio Bueno da Silva

Sociedade Solidária, Comunidade Saudável, por Denizard de Souza

Necessidade do Espiritismo Sociológico, por Humberto Mariotti

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