Editorial: Igualmente, mas diferentes, por Claudia Jerônimo e Leopoldina Xavier

Tempo de leitura: 4 minutos

Claudia Jerônimo e Leopoldina Xavier

“O Sol brilha para todos, e com isso enunciais uma verdade maior e mais geral do que pensais.”

Nesse capítulo tão importante das Lei Morais em “O livro dos Espíritos”, percebemos o quanto nossas diferenças são importantes para termos iguais oportunidades de evoluir. Essas diferenças se completam à medida que entendemos que precisamos, de fato, aprender uns com os outros.

Fomos criados iguais, mas com experiências diferentes durante nossa jornada evolutiva. Cada qual com suas aptidões nessa engrenagem belíssima de um vasto Universo.

As desigualdades sociais presentes no cenário planetário existem por conta do nosso orgulho, preconceito e egoísmo. Um dos nossos cruciais papéis – de suma importância –, será o de combater esses sentimentos, para assim só restar a desigualdade do merecimento (espiritual).

Nesta edição do Harmonia, a nossa expectativa é a de que, com textos de diferentes abordagens, a igualdade de sentimentos e de ações, tanto individuais como coletivas, as chamadas “diferenças de classe, de cor, de gênero e de intelecto” sejam compreendidas, de modo que cada um dos leitores se sinta igualmente diferente daqueles que não vêm (e não querem ver!) a Doutrina dos Espíritos como uma doutrina essencialmente comprometida com o lado humano, social, político e espiritual, no sentido do intercâmbio sério das ideias espíritas na sociedade, para fazer progredir homens, sociedades e legislações humanas.

Assim, começamos a presente edição com “a alteridade” e terminamos com “a novidade’. Apreciem, amigos leitores, sem moderação e sintam o carinho em cada frase dessa série de artigos feitos com dedicação e voltados para a efetiva compreensão dos ideais espiritistas, propostos para o nosso orbe em transformação permanente.

Marcelo Henrique, no seu artigo “Alteridade Jurídica e Igualdade dos Direitos e Oportunidades”, defende que a Alteridade Jurídica se fundamenta na estreita obediência ao Direito de todos, porque todos nascem iguais e, portanto, são a eles consagrados os mesmos direitos humanos e as mesmas oportunidades, espiritualmente. Ao privilegiar a Igualdade, se proclama o valor democrático e da Justiça Social que é a eterna busca da felicidade individual e coletiva. Esta última se realiza através de ações públicas, mas também de legislações e decisões judiciais, devendo se buscar criar um estado de solidariedade que repudia a exclusão social – de guetos sociais que são as minorias –, da erradicação discriminatória, elevando a paz e fraternidade entre as nações, fazendo evoluir a capacidade humana para a construção e efetivação de uma vida material e espiritual dignas.

Então, é de se perguntar, como o faz Nelson Santos em seu artigo “Há igualdade na desigualdade ou desigualdade na igualdade? Os paradoxos possíveis”. O autor, após discorrer sobre os vários conceitos filosóficos de Igualdade, chega ao do Professor Rivail, onde os seres, embora iguais, são desiguais em aptidões e em graus de desenvolvimento. Aponta, ele, que essa desigualdade minimizará com a decadência do orgulho e do egoísmo, enquanto, na desigualdade de mérito, sua libertação se dará pela evolução progressiva espiritual, na depuração moral e ética, com a finalidade de atingir os princípios da solidariedade universal, fraternidade, igualdade e liberdade. Assim, exorta Santos, que cabe ao meio espírita para o alcance dessas conquistas sair da sua inércia e assumir a responsabilidade coletiva, pois é nesse diapasão que se encontra o verdadeiro valor da caridade.

O desenvolver de Paulo Dias, no artigo “Livres e Iguais”, é no sentido de enfrentar nas causas econômicas que aumentam a pobreza, que esta aprofunda o racismo ao permitir ao povo negro menor oportunidade no mercado de trabalho como fonte de lucro e renda. E que a fonte de um capitalismo desajustado tende a inferiorizar a mulher por enaltecer o homem como ser privilegiado socialmente. Portanto, na Lei Natural, todos nascem iguais, mas nas Leis dos Homens cria-se a diversidade para discriminar as aptidões humanas que, por vezes, dificulta a Lei do Progresso a que o encarnado deve encampar para atingir o ideal de liberdade, igualdade e solidariedade, os quais dependem de uma economia mais justa, igualitária e humana.

“Igualdade divina e desigualdade humana”, por Alexandre Júnior, pretende estabelecer os significados entre a lei divina e a lei dos homens, estabelecendo que a igualdade está presente no sujeito espiritual. Alexandre, assim, vincula as relações das leis humanas com as divinas, numa ação educativa e de aprendizado. Entretanto, quando objetivamente se olha para a lei dos homens, a desigualdade humana surge com a discriminação e o preconceito, causando dores e sofrimento. Nesse contexto, cabe ao homem o dever de estancar as injustiças sociais, por meio de uma atitude ativa de interferência nas causas, única forma de evoluir e fazer evoluir a sociedade.

Em “Felicidade social e cidadania no pensamento espírita”, Jerri Almeida lembra que Kardec abominou qualquer forma de preconceito, fanatismo, intolerância e ignorância, bem como Leon Denis que enfatizou o papel da cidadania e da democracia. Assim, como destaca Almeida, nossos pensadores maiores escreveram para mostrar a responsabilidade social que deve estar presente em cada espírita com a participação ativa na sociedade visando o seu aperfeiçoamento.

Resgata-se, ainda, um texto do saudoso Deolindo Amorim, intitulado “O Espiritismo e a questão social, em que ele discorre acerca de que o bem-estar humano se deve ao aperfeiçoamento do mundo material, das instituições sociais, do equilíbrio entre o capital e o trabalho, e que, para o Espiritismo, entretanto, a solução econômica não pode ser a única, esta deve estar sempre acompanhada das reformas materiais-sociais.

“Ó mundo tão desigual”, por fim, de Marcus Vinícius de Azevedo Braga, conta a história de um cidadão que se torna bilionário por ganhar na loteria e que vive o dilema entre a pobreza vivida e a nova vida de riqueza. Assim, surge a decisão de doar uma parte da fortuna, diante da insatisfação pessoal de ser bilionário, já que a “sorte grande” não é a solução para transcender a miséria. No escopo do texto, tem-se a discussão sobre o objetivo (natural) de enriquecimento, mas que, em face da condição espiritual, isto reforça o egoísmo e não contribui para a superação da desigualdade para o desenvolvimento. Do contrário, acaba caindo na malha da “racionalização” pelo merecimento, num emaranhado que não consegue proporcionar o progresso espiritual.

São, assim, sete artigos, desiguais na forma e na abordagem, mas tendentes à análise – o mais completa possível – da aplicação da igualdade possível neste “mundo de expiações e provas”, para fazê-lo, enfim, ascender para o estágio de “regeneração social”, possível e previsível, mas não sem a participação dos homens, espíritos encarnados.

Boa leitura!

Alteridade Jurídica: a Igualdade dos Direitos e Oportunidades – O Paradigma da Justiça Social, por Marcelo Henrique

Há igualdade na desigualdade ou desigualdade na igualdade? Os paradoxos possíveis. por Nelson Santos

Livres e Iguais, por Paulo Dias

Igualdade Divina e desigualdade humana, por Alexandre Júnior

Felicidade social e cidadania no pensamento espírita, por Jerri Almeida

O Espiritismo e a questão social, por Deolindo Amorim (in memoriam)

Ó, mundo tão desigual, por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

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