Estética na Arte Espírita, por Evandro Oliva

Tempo de leitura: 4 minutos

Evandro Oliva

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Temos, pois, como artistas e espíritas, um propósito comum e de alta responsabilidade! Dediquemo-nos, assim, com amor, treinamento, conhecimento e intensidade!

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A arte espírita sem rodeios

Quantas vezes nos deparamos, no meio espírita, com inúmeros artistas (cantores, atores, pintores, etc.) executando peças com base nos textos da Doutrina Espírita, ou de obras mediúnicas, ou, ainda, com base em outras fontes, nas artes em geral, com execuções sofríveis, desafinadas, mal ensaiadas, mal produzidas? Certamente, este desempenho em vez de nos proporcionar “elevação espiritual” acaba tendo o efeito contrário.

Pois isso é mais comum que se imagina, uma vez que, existe um senso comum no meio que é o de aquele que faz algo “voluntário”, o faz com boa vontade, o que significa, na prática, que pode ser feito de qualquer jeito, e no tempo pessoal que sobra, diante das obrigações e compromissos cotidianos.

No entanto, o conceito de “voluntariado” é bem diferente de malfeito.  A única diferença entre o que é profissional e o que é voluntário está no fato de haver ou não remuneração pela apresentação artística. Em regra, no mercado, artistas ruins não têm público pagante (e até bons artistas sofrem para conseguir ter e, na maioria das vezes, não o tem). E quando são artistas espíritas voluntários, estes, mesmo sendo ruins, até terão público nas casas ou encontros espíritas, mas não o serão por causa da sua “arte”. Os frequentadores ou interessados estarão pela atividade doutrinária ou assistencial ou pelo evento em si e, assim, nem irão conferir importância para a qualidade da arte. Inclusive porque será um “trabalho voluntário”…

Já presenciamos, em muitos corais de casas espíritas, que o próprio regente sequer é respeitado: os coralistas faltam aos ensaios e aparecem, como num passe de mágica, nas apresentações (será vaidade?). Todavia, em assim procedendo, culminam por estragar o trabalho daqueles que ensaiaram muito para a apresentação.

Que arte?

Não se enganem: a ARTE, para ser assim, “maiúscula” mesmo, é aquela composta pela seguinte equação: 1% de inspiração e 99% de transpiração.

O conceito de que as pessoas já nascem com um “dom” artístico, é, no mínimo, humilhante e desarrazoado, em face de anos e anos de ensaios, rotinas de tentativas e erros, bem como estudos e mais estudos. Ora, senhoras e senhores, respeitável público, nada acontece por “dom divino”! Se você já disse isso para algum artista, saiba que, ao ouvir isso e silenciar ou sorrir amarelo, ele foi bastante educado com você! Isto porque, mesmo que você profira essa frase, “de coração”, ela acaba soando como uma grosseria e um desrespeito para aquele que batalhou muito para alcançar aquele resultado. O único “dom” possível neste contexto é o de possuir saúde (e isto já é, por si só, extraordinariamente maravilhoso) para poder trabalhar as suas aptidões. E, vale dizer: teimosia, no sentido de perseverança, também é uma baita virtude comum em todos os verdadeiros artistas.

O que dizem os espíritas?

León Denis escreveu uma série de artigos que foram publicados em 1922, na “Revue Spirite”, o periódico fundado em 1858 por Kardec (que a dirigiu até a sua morte, em 1869, sendo a edição de abril deste ano a última com o “dedo” do Professor francês. Em tais dissertações, Denis procurou tratar da questão do belo na arte (nas “modalidades” da arquitetura, da pintura, da escultura, da música e da literatura).

Depois, o conjunto destes textos foi publicado, no Brasil, na forma de livro – “O Espiritismo na Arte”, publicado pela Editora Lachâtre, em 1994.

Este conjunto de textos denisianos demonstra a importância que a ARTE tem no mundo físico e no mundo espiritual.

Ele diz, introdutoriamente:

“O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites.

A comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as indicações fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o Universo vêm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos inesgotáveis de inspiração.”

A dicção espírita, conforme Kardec

Kardec, muito antes, em “O livro dos Espíritos”, no item 565, também se interessou por este tema. Vejamos o questionamento que ele fez às Inteligências Invisíveis: “Os espíritos examinam os nossos trabalhos de arte e se interessam por eles?”.

E eles responderam:

“Examinam o que pode provar a elevação dos Espíritos e seu progresso.”

Na sequência (item 566), Kardec interroga: “Um espírito que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um arquiteto, por exemplo, interessa-se, preferencialmente, pelos trabalhos que constituíram o objeto de sua predileção, durante sua vida?”.

 E os Espíritos consultados declaram:

“Tudo se confunde num objetivo geral. Se ele for bom, interessa-se por eles, na medida em que isso lhe permita auxiliar as almas a se elevarem para Deus. Além disso, esqueceis que um espírito que cultivou uma arte numa existência em que o conhecestes, pode ter cultivado uma outra, em outra existência, pois é preciso que saiba tudo, para ser perfeito; assim, conforme o seu grau de adiantamento, pode não haver, para ele, uma especialidade; foi o que eu quis dizer, afirmando que tudo isso se confunde num objetivo geral. Notai, ainda, o seguinte: o que é sublime para vós, no vosso mundo atrasado, não passa de infantilidade, comparado aos mundos mais adiantados. Como quereis que os espíritos que habitam esses mundos, onde existem artes desconhecidas para vós, admirem o que, para eles, é apenas uma obra de colegial? Eu já disse: eles examinam o que pode demonstrar o progresso.

Por fim, Kardec comenta (item 566, “a”): “Concebemos que deva ser assim, para espíritos muito adiantados; mas falamos dos Espíritos mais comuns e que ainda não se elevaram acima das ideias terrestres…”.

 E os interlocutores desencarnados concluem: “Para esses, é diferente; o ponto de vista deles é mais limitado e podem admirar o que vós mesmos admirais.

Conclusivamente

Por estas breves instruções dos Espíritos, percebe-se que a ARTE no meio espírita, infelizmente, é tratada de maneira desrespeitosa e envolve muita vaidade individual. Enquanto isso continuar a ocorrer, teremos mais a lamentar do que a comemorar.

A estética, assim, está tanto na forma com que a arte é realizada, quanto em face da mensagem espiritualizante que ela transmite. Um duplo espectro, portanto.

Que cada Artista, então, reflita em sua atuação no meio espírita: se está honrando a importância da ARTE, conforme relatada nos ensinamentos dos Espíritos. E, também, que cada produtor, ator, musicista, cantor, pintor, escultor, poeta, etc., reflita: se o que tem feito é o seu melhor, com empenho e humildade, levando ao público um “gostinho” da Arte Universal, ou Celestial, ou, pura e simplesmente, ARTE, que emociona, que transforma, que educa, e que faz pensar.

Temos, pois, como artistas e espíritas, um propósito comum e de alta responsabilidade! Dediquemo-nos, assim, com amor, treinamento, conhecimento e intensidade!

A ARTE é a bondade divina atuante em nós. Pois ela nos permite sentir DEUS presente em nós e no outro, assim como em tudo, no Universo!

Imagem de Nacho por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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3 thoughts on “Estética na Arte Espírita, por Evandro Oliva

  1. A arte é a doçura que ameniza a nossa vida. A minha preferida é a música, é nela que encontro a terapia dos meus dias. Música e Filosofia fazem de nós mais humanos e mais empáticos. Obrigada Evandro.

  2. Evandro tem a coragem de expor o que há no coração de todo artista espírita! Como cantou Milton Nascimento, “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, todo artista tem de ir aonde o povo está”. E “fazer arte espírita” é estar com o povo, é ser povo, é nutrir-se do povo, devolvendo a este, o seu melhor, na técnica, na essência, na memória, no coração! Bravíssimo!

  3. Excelentes o texto e as reflexões, meu amigo. De fato, levar a sério a arte em todas as frentes da sociedade é essencial. Gratidão por estarmos juntos no ECK.