Marcelo Henrique
A nossa indignação
É uma mosca sem asas
Não ultrapassa as janelas
De nossas casas – In (dig) nação, Skank.
Primeiro eles vieram com a exaltação à “santidade” e à “pureza”, ou “perfeição” do Homem de Nazaré. Deturparam textos de Kardec, com traduções bizarras.
E você se calou!
Depois, resolveram editar “Os quatro evangelhos” e, de modo massificado, utilizaram o expediente da publicidade em sua revista oficial, a da Reforma – não por acaso – divulgando a obra com o seu epíteto “a revelação da revelação”, porque “precisavam” de “novidades”.
E você, novamente, se calou!
Então, foram introduzindo, um a um, livros ditos psicografados ou escritos por literatos espíritas, editando-os, em sequência, apresentando um Jesus “fluídico” (sem sofrimentos físicos) e a virgindade de Maria, sua mãe, para celebrar os “mistérios”.
E você, também, se calou!
Elegeram um “anjo” – materialização da fábula católica – como “guia espiritual” do planeta, e você achou sublime, porque a ideia da angelitude é uma metáfora em relação ao ápice do percurso espiritual.
Você se deixou convencer e… se calou!
Adiante, aproveitando-se de uma prodigiosa (mas, também, ingênua) mediunidade, que produzia muito, deram-lhe o caráter de “continuador” doutrinário, sem examinar e criticar os textos que provinham de um velho sacerdote católico, impregnado de suas crendices e visões igrejistas.
E você, mais uma vez, se calou!
Dizem, alguns, que os originais destas obras foram destruídos. Porque não havia necessidade alguma de mantê-los, pois já tínhamos, editados, os livros físicos.
E o silêncio foi a sua resposta!
Foram, um a um, muitos, desistindo da filosofia e da ciência, entendendo que o edifício estava pronto e que as manifestações de “espíritos eleitos” e “médiuns escolhidos”, do ontem e do hoje, eram todas “autorizadas” pela “Espiritualidade”.
E você silenciou, novamente!
Capciosamente, tocaram o teu coração com a simbologia da mensagem sublime, sobre amor e caridade, sobre perdão e não-discórdia, para tê-lo como cordeiro diante do Pastor.
E você não esboçou qualquer reação!
Resgataram velhos e ultrapassados conceitos de temor e culpa, tão comuns entre as Igrejas, desde Constantino, instituindo “prêmios” para bons comportamentos, bonanças, definindo lugares imaginários para o regalo das almas submissas à meia-verdade, com departamentos e ocupações similares às da Terra, e você deixou “barato”, porque desejava uma esperança de que, na outra vida, as coisas se parecessem com a “atmosfera” da vida física.
E você se aquietou!
Agora, resgatam textos evangélicos diferentes dos escolhidos como relevantes por Kardec e pela Verdade, publicando oficialmente “O Novo Testamento” e projetando, ainda, uma “nova versão” da Bíblia (Antigo Testamento), porque, afinal, um é a consequência do outro e que voltar aos textos antigos é buscar a “sinergia” entre as mensagens.
E você até está pensando, silente, em comprar as obras!
Disseram-te, também, que o tal controle das mensagens espirituais só era necessário na época de Kardec, porque a doutrina estava iniciando e era necessário filtrar as muitas comunicações, evitando a desfiguração da “árvore cristã”.
E você até aplaudiu, inconscientemente, entendendo que a diretriz vinha, mesmo, do “Alto” e calar-se, para aprender, seria a única alternativa!
E os pastores, então, prosseguem, tangendo as almas pacatas, desfigurando a mensagem e aproximando-a das vaidades e das honrarias do mundo. Todos se maravilham, assim, ante os “dotes” artísticos, literários e de oratória de um ou outro “virtuose”, enquanto grande parte dos grupos de aprofundamento espírita, de discussão e de promoção de saudáveis debates em busca dos conhecimentos progressivos minguam e se esvaem, no tempo.
Contando, pois, com a tua aquiescência e timidez, silenciosas!
Dizes (ou dizemos), por vezes, que não tens (temos) tempo, nem energia, para gastar com contendas, que precisas (precisamos) cuidar de coisas mais importantes e os que estão no “movimento” não devem “procurar confusão”, e os dias vão passando…
E a você só resta o silêncio de sua intimidade, a conversa com seus botões, e aquela indignação quase morta, que não ultrapassa os limites de sua boca, de sua letra, ou de sua própria casa…
Quanta inércia e omissão nossa. A neutralidade e o silêncio encorajam a continuidade das deturpações.