Deus, uma necessidade, por Carmem Imbassahy

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Carmem Imbassahy

O Deus que se adora é uma terrível incoerência, porque, como onipotente e onisciente, tudo por Ele teria sido feito, e, como tal, a existência do mal também seria Sua vontade e, como sendo infinitamente bom e justo permite que haja tal anomalia?

Quando tinha nove anos, uma colega minha que regulava a mesma idade, muito amiga, embora não aparentasse nenhuma doença, veio a falecer naquela tenra fase. Eu, pequena, fui ao velório na casa dos seus pais e lá, quando entrei, uma senhora, referindo-se ao falecimento da minha querida amiga, comentou: – Foi Deus quem quis!

Aquilo me causou terrível revolta contra a Vontade divina, a qual não podia compreender porque minha amiga era uma ótima colega e não merecia morrer tão cedo.

De fato, sem dúvida, o Deus que se adora é uma terrível incoerência, porque, como onipotente e onisciente, tudo por Ele teria sido feito, e, como tal, a existência do mal também seria Sua vontade e, como sendo infinitamente bom e justo permite que haja tal anomalia? A lenda de Lúcifer, o anjo caído, sem dúvida, não satisfaz a mais ninguém porque, afinal, se Deus é perfeito, só poderia ter elaborado anjos perfeitos como os demais e não lhes daria a oportunidade de se rebelarem contra Ele nem adotar o mal, se este não existisse.

A Igreja seria o símbolo do Cristianismo que, afinal, nasceu com Constantino em 972 quando ele mandou que os sábios da época codificassem a religião romana tendo como Guia o próprio Jesus e a Bíblia como seu livro sagrado, incluindo nela o Novo Testamento. Portanto, como todas as demais linhas de pensamento religioso cristão são posteriores a este fato, tem-se como origem do Cristianismo a dita Igreja Católica (do grego: – Universal), Apostólica, Romana.

O grande contestador da Igreja, no século XVIII em França foi Voltaire, mas, se pensam que ele não aceitava a existência de Deus, eis um ledo engano, bastando para isso, lermos sua quadra em versos que, traduzida sem ritmo e sem rima nos daria:

  • Tudo proclama de um Deus a eterna existência;
  • Não se pode compreendê-lo nem se pode ignorá-lo;
  • Voz do universo atesta seu poder;
  • E a voz de nossos corações diz que é preciso adorá-lo.

Portanto, para este grande enciclopedista Deus estaria acima das religiões e seria a grande necessidade do homem em confiar em um Ser superior responsável por sua existência.

De fato, imaginar a existência de um Universo supremo com leis absolutas e perfeitas, só nos leva à conclusão que esta seria uma Criação de algum Ente superior a tudo o que o homem possa imaginar; além de admitir que nada existe sem que tenha uma causa e tudo o que nos cerca é mero efeito do “desconhecido” que não se pode ignorar embora não se possa também compreender.

O que não se admite, todavia, que Ele seja antropomórfico, isto é, que nos tenha criado à sua imagem e semelhança porque tal coisa pareceria admitir que ele não seria perfeito, afinal, não existe nada mais imperfeito do que o homem e seus defeitos inquestionáveis.

Uma outra verdade que temos que admitir é que a conceituação original do Criador data praticamente da pré-história, dos homens primitivos e os textos da própria Bíblia foram escritos numa época em que se desconhecia por completo a existência do Universo incomensurável, tendo-se nosso planeta como centro de tudo mais que, pela própria aparência, giraria em nosso entorno.

Ora, portanto, para aqueles povos, o que se poderia imaginar de mais perfeito seria o próprio homem, pelo menos, nos limites conhecidos da sua existência; nada mais justo e narcisista do que supor que fôssemos à imagem deste Criador.

ACESSE OS TEXTOS DA EDIÇÃO:

EDITORIAL: Eu adoro, tu adoras, eles adoram…

O espírita perante Deus, por Miguel Vives y Vives (in memoriam)

Precisamos nos afastar de deus-es, por Marcio Cardoso

Adoração, a Lei, por José Fleuri Queiroz

Sobre a Lei Natural e a Lei de Adoração, por A. C. Amorim

Religião e Adoração, por Ary Lex (in memoriam)

Deus, uma necessidade, por Carmem Imbassahy

Crendices e Superstições, por Milton Felipeli

A cabeça das mulheres, por Célia Aldegalega

 

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