Crede, por Luís Filipe Sarmento

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Luís Filipe Sarmento

Crede em deus, nos deuses, nos anjos, nos saltimbancos dos céus e dos infernos;
crede nos papas, nos sacerdotes, nos imames, nos guias espirituais, nos xamãs; crede na virgem e não corrais;
crede nos bancos e nos banqueiros, nos governos e em governantes, nos economistas e nos cleptocratas;
crede em médicos, nos hospitais, em advogados, nos tribunais, nos engenheiros, nos estaleiros, nos militares;
crede nos templos da alimentação manipulada, no consumo infinito, nos empréstimos bancários, no comércio e na traficância;
crede na militância dos ecologistas encartados, nas ongs, nas parcerias públicas e privadas, crede nos rendimentos que vos permitem a miséria;
crede na parlapatice das uniões dos Estados, nas armas e nas bombas;
crede na educação das fardas, no autoritarismo de todos os tipos de fascismo nas democracias avançadas, musculadas e infames;
crede nas promessas e nas valsas, no vómito das multinacionais;
crede nos gases intestinais que respirais cada vez que os líderes mundiais abrem o buraco terminal do aparelho digestivo;
crede no exclusivo multiplicado da contrafacção;
crede que vós sabeis em primeira mão o que vos ocultam na confiscação;
crede nos chás contra o cancro, nos barbitúricos, nos sonos sem sonhos;
crede nos ilusionistas sociais, nos pactos instrumentais, nas associações patronais;
crede nos sindicatos institucionais e que a loucura se trata nos hospitais; crede em tudo, em tudo que enxovalhe a vossa dignidade e talvez no fim da idade percebeis que acreditastes em tudo menos na vossa micro felicidade.

E, nesse momento, o espelho será apenas uma redundância da vossa vida miserável, restando-vos apenas a função letal de fazerdes o papel final de pai natal no edénico mundo patriarcal. E o vento será o contentamento das vossas cinzas sem memória, sem história, que intoxicará quem irá respirar o pó da vossa crença.

Senhoras e senhores não vos esqueçais que também podeis acreditar na revolução multicolorida da paixão. Feita à mão. Tão artesanal como a vossa saúde mental.

Ide-vos na paz de Satanás. Que como se vê nem em si crê.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

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