Lento e doloroso progresso, por Milton Medran Moreira

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Milton Medran Moreira

Individual e coletivamente, somos sempre responsáveis por nossos erros. Eles produzem efeitos que geram dor e sofrimento. A sabedoria, no entanto, consiste em transformar esses efeitos danosos em estímulos que levem ao bem e às reformas.

Como chega o Brasil a este segundo semestre? Melhor ou pior do que nos anteriores? Mais esperançoso ou francamente desesperançado?

É possível que estejamos no limiar de um novo tempo. Quem sabe, o Brasil, a partir daí, comece a encontrar-se consigo mesmo. Inicie uma grande reflexão acerca de coisas que se passavam sem que percebêssemos. Ou percebíamos, mas, habituados com elas, as tínhamos como normais. Um comportamento só se torna padrão quando a média dos indivíduos que compõem uma sociedade aceita-o como útil e válido. Os valores de um povo não se introjetam em sua alma coletiva sem que antes sejam experienciados pela média das consciências individuais.

Por isso mesmo, a denúncia com meros fins políticos sempre soa falsa. Feita por quem não abriga em sua própria alma valores de honestidade e dignidade, termina por distorcer fatos, agravando o mal. Gera o escândalo. Este cria nuvens de fumaça encobrindo intenções que não são exatamente em favor do bem comum, pois buscam vantagens individuais comprometidas com interesses escusos.

O ano que passa da metade será simplesmente caracterizado pela marca do escândalo? Ou será o limiar de um novo tempo a se traduzir em reformas? Reforma, para ser sólida e fazer morada na alma coletiva de um povo, precisa, necessariamente, estar ancorada em reais valores plantados e cultivados na consciência de cada componente da sociedade.

Bem, nós, espíritas, defendemos que isso não é tão fácil de acontecer…

Tampouco acontece de uma hora para outra. É um processo lento, porque produto da conjugação dos tantos fatores que despertam e impulsionam a lei da evolução e do progresso. Por isso mesmo, mais do que nos comprazermos com o escândalo, entendemos nos caiba cerrar fileira com aqueles que acreditam na potencialidade humana de progredir ética e moralmente. Mesmo que o impulso inicial desse movimento progressista tenha sido a mera intenção do escândalo. O Homem de Nazaré, cujo aniversário é, simbolicamente, comemorado em dezembro pelo mundo cristão, numa de suas preciosas lições, afirmou: “O escândalo é necessário”. Advertindo, em seguida: “Ai daquele, no entanto, através do qual venha o escândalo” (Mateus, cap. XVIII, 7). Nessa mesma linha, os espíritos entrevistados por Allan Kardec deixaram escrito: “Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e do progresso” (“O livro dos Espíritos”, item 784).

Individual e coletivamente, somos sempre responsáveis por nossos erros. Eles produzem efeitos que geram dor e sofrimento. A sabedoria, no entanto, consiste em transformar esses efeitos danosos em estímulos que levem ao bem e às reformas.

Se assim pensarmos, mesmo que envergonhados de nossos erros, como indivíduos ou como nação, sempre haverá lugar para comemorarmos o fim de um período no calendário. Inevitavelmente, ele sinaliza algum progresso. Lento e doloroso. Mas progresso.

Imagem: Tim Foster – Unsplash

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