O Espiritismo no contexto das “novas” Religiões, por Paulo R. Santos (in memoriam)

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Paulo R. Santos (in memoriam)

A estagnação e a cristalização de métodos, valores, ideias, conceitos e concepções do pensamento espírita, só podem lhe trazer prejuízos pela efetiva elitização e distanciamento das camadas mais pobres da população, tão necessitadas quanto as outras de dar um sentido e um propósito à existência, além de esclarecimentos – alternativos que sejam – acerca da vida espiritual.

“O novo parece ser a sua proliferação, bem como a sua propensão a “combinar elementos opostos presentes em outras religiões e a reorganizar prioridades enraizadas em outras tradições religiosas.

Os Novos Movimentos Religiosos ofereceriam um refúgio ao relativismo que resulta da desintegração da ética na sociedade atual. Desintegração da identidade individual, perda de sentido da vida, anomia pessoal. As adesões aos NMR costumam ser minoritárias em relação às confissões tradicionais e institucionalizadas, verificando-se uma circulação rápida de membros entre os distintos movimentos, ou o simultâneo pertencimento a mais de um.

Ao traduzirem a espiritualidade em ações práticas diárias, repensam e readéquam a relação entre o espiritual e o temporal, diferentemente do que ocorre com a religiosidade esporádica, circunscrita a momentos extra cotidianos, típica da religiosidade tradicional.”
(Rolando Lazarte – Max Weber e a religiosidade atual).

Vivemos um momento em que parece acontecer uma revanche do sagrado contra o mundo profano da pós-modernidade ou da radicalização da Modernidade, como outros preferem. O certo mesmo é que são momentos confusos. As pessoas não sabem exatamente o que querem da vida, tornando-se marionetes nas mãos de desavisados da política ou da religião, diante do predomínio da mentalidade de rebanho.

Questiona-se o escasso crescimento do Espiritismo, embora não se duvide da expansão do pensamento espírita através de sua vasta literatura. Uns dizem que o Espiritismo é de difícil entendimento, uma crença exclusiva para os letrados. Portanto, excludente com relação àqueles que não são alfabetizados ou que o são de modo precário. Num país como o Brasil isso deve ser considerado se levarmos em conta o elevado número de semialfabetizados existentes.

Há certas críticas também quanto a elitização do Espiritismo devido a vários fatores, dentre eles: o nível de linguagem utilizado por palestrantes ou escritores, a postura professoral ou mesmo arrogante de certos difusores da doutrina espírita, ufanismo improcedente, uso de arcaísmos e pedantismo em palestras, mesmo diante de um público por demais heterogêneo, debates por rádio ou tv que adquirem cunho acadêmico, perdendo-se em temas ou detalhes de pouco interesse geral ou de difícil entendimento, etc.

Procedentes ou não, as críticas e comentários nesse sentido devem ser analisados com o máximo de isenção, pois uma coisa parece-nos inquestionável: a necessidade de se atualizar o discurso espírita, contextualizando o repertório conceitual utilizado e usando mais e melhor os recursos de interatividade. Até mesmo o uso ou o abuso de recursos de mídia deve ser avaliado para verificar até que ponto são sucedâneos adequados ao relacionamento humano simples, direto e cordial. Por outro aspecto, já não convence querer explicar tudo com base no reducionismo em torno da obsessão e do Karma. Trata-se aqui de levar a sério a humildade intelectual. Kardec deu o exemplo de um esforço de simplificação ao compor “O livro dos Espíritos” na forma de perguntas e respostas, sem prejuízo do conteúdo.

Ainda dentro do texto que usamos como suporte para essa reflexão, encontramos alguns pontos relevantes para o entendimento da religiosidade atual e de suas práticas: 1) autodesenvolvimento pessoal, 2) universalismo, 3) integração do corpo na busca espiritual, 4) convergência da religiosidade com a ciência, 5) privatização da religião. Resta-nos avaliar até que ponto o espiritismo (ou o movimento espírita) está na corrente da história atual, e mesmo deve estar, se situando em níveis análogos às demais crenças.

Qualquer que seja a opinião ou posicionamento do prezado leitor ou leitora com relação a esse tema, é de se supor que a estagnação e a cristalização de métodos, valores, ideias, conceitos e concepções do pensamento espírita, só podem lhe trazer prejuízos pela efetiva elitização e distanciamento das camadas mais pobres da população, tão necessitadas quanto as outras de dar um sentido e um propósito à existência, além de esclarecimentos – alternativos que sejam – acerca da vida espiritual.

Acesse cada texto da edição:

E D I T O R I A L: Religião? Entre a fé e a razão

O conceito de Religião, por Carlos de Brito Imbassahy

A diferença entre Religião e Religiosidade, por Magali Bischoff

Uma Religião Espírita?, por Sergio Maurício

Espiritismo Laico ou Religioso?, por Eliseu F. Mota Jr.

O Espiritismo no contexto das “novas” Religiões, por Paulo R. Santos (in memoriam)

Espiritismo e Misticismo na Religião Espírita Brasileira, por Marcelo Henrique

O Espiritismo e a Religião dos Espíritos, por Wilson Garcia

O Espiritismo e a Religião, Milton Medran Moreira

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