A Destruição… E um mundo mais fraterno, por Maria Cristina Rivé

Tempo de leitura: 3 minutos

Maria Cristina Rivé

As ocorrências de destruição podem (e devem) ser utilizados pelo ser humano para ajustar-se ao ambiente, observar e encontrar soluções.

Olha-se para o céu. Há o prenúncio de uma tormenta. O calor abrasador já nos conta, prevendo uma grande mudança no tempo. A chuva irá lavar as ruas e a vegetação e limpará o ambiente, tão quente e poeirento. Mas, os pingos, que caem fortes, e o vento, castigam tudo o que encontram pela frente. Árvores caem, casas são destelhadas, não há energia elétrica… Por onde passa, o temporal deixa suas marcas: limpeza, ar puro, mas também muita destruição.

Seria um castigo divino para tempos tormentosos, em que as criaturas se rebelam? O materialismo toma conta da humanidade, assim como a beleza física é almejada como um troféu. Sem olhar para os lados para não ter o desprazer de desencantar-se ao ver “O Bicho”, descrito anteriormente pelo Manuel. Poucos possuem lugar de destaque na estrutura social em que vivemos. Muitos trabalham e poucos usufruem. As escrituras ditas sagradas corroboram essa visão, pois bem se escreveu “muitos os chamados, poucos os escolhidos”. Tudo soa natural e nada é passivo de questionamentos.

Todavia, é preciso aprender e ter uma visão de futuro. Ao se construir uma casa em local inadequado, como nas encostas e nas beiras de sangas, está-se fadado a perder tudo com a primeira chuva. É fato que, vez por outra, as autoridades retiram os sobreviventes, mas o que se pode fazer se eles voltam, pensam muitos…

Fica, então, muito simples e cômodo justificar as intempéries dessa forma. A Filosofia Espírita, contudo, na questão 737, de “O livro dos Espíritos”, parece justificar o pensamento acima descrito e equivocado. Num primeiro olhar, parece que estamos diante de um Deus antropomórfico, cheio de características humanas, sendo a raiva e a vingança algumas delas – “Com que fim Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores?” – pergunta Kardec. O verbo “castigar” pode remeter ao leitor a outra constatação: a de que se existem disparidades sociais e alguns indivíduos são mais penalizados do que outros pelos, neste caso, fatores climáticos. Assim é porque há uma causa e essa causa se justifica pela necessidade de progresso. Em paralelo, aqueles seres acometidos por uma doença adquirida decorrente da falta de nutrientes necessários à boa saúde, ou da ausência do saneamento básico, ou por não ter um agasalho para se proteger do frio estariam colhendo os frutos do que plantaram – Deus castiga! E, então, tal fato fará com que eles se desacomodem e busquem melhores condições de vida por meio da dor.

Século XXI… E a humanidade continua pensando e analisando os fatos de forma concêntrica. É preciso entender o uso do verbo na língua do autor, a contextualização e a tradução. Ao se analisar a obra kardeciana, percebe-se que existe uma nova maneira para começar a entender a vida e tudo o que ela encerra. Ela nos apresenta um “novo” Deus. Sem caracteres humanos e, para grande parte das criaturas, ainda difícil de alcançar. Mas “O livro dos Espíritos” busca no Espiritualismo Racional os atributos facilitadores do entendimento acerca dessa Inteligência. “Justo e bom” é o que está escrito; todavia, nenhum castigo pode ser depreendido de bondade. A bondade entende e ensina, como faz o professor, o pedagogo, ao levar o seu aluno pela mão, auxiliando em suas necessidades e em seus desajustes.

Não se nega que as entranhas do nosso Planeta se revolvem, ocorrendo os tornados, os ciclones e os desabamentos, entre tantos desafios. Mas, esses podem (e devem) ser utilizados pelo ser humano para ajustar-se ao ambiente, observar e encontrar soluções. Também não se deve esquecer que os problemas ocorrem, também, para testar o desenvolvimento das criaturas em sua intelectualidade e, consequentemente, em sua moralidade. Contudo, a emersão de alguns e a imersão de tantos não pode ser justificada tão-somente pelos fenômenos naturais, os quais, provavelmente, ocorrerão sempre. A sociedade precisa ser pensada com mais amplitude, destruir os grilhões de um pensamento pequeno e para poucos e colocar as dificuldades a serviço da estruturação de um mundo mais fraterno a todos.

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