A Lei de Destruição e o Instinto de Preservação, por Neves de Almeida Couras

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Neves de Almeida Couras

Cada ser, cada criatura, nasce com uma função diferente. Passamos por transformações e aprendizados, mas com forma e objetivos diferentes. Somos, deste modo, todos, criações do Pai, e nascemos para servir a um propósito, mas com objetivos diferentes em seu projeto.

Quando Kardec perguntou aos Mentores se a destruição seria uma Lei da Natureza, a resposta foi: “É necessário que tudo e destrua para renascer e se regenerar, porque isso a que chamais destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos”. Assim, a Lei de Destruição a qual se referem os Espíritos, no Capítulo VI, Item I, de “O livro dos Espíritos”, justifica a necessidade de que tudo se destrua, como condição para que tudo se renove e se regenere. Ou seja, a transformação só acontece com a destruição do antigo. Ou, mesmo, a transformação do que não esteja de acordo com as Lei Divinas, e que precisará ser refeito.

Foi observando a transformação pela passa um grão plantado que compreendi essa Lei. Tínhamos comprado um sitiozinho, e nossa expectativa, como filhos de agricultores, era que pudéssemos plantar uma grande quantidade de milho. Fizemos, então, nosso primeiro plantio. Cavamos o chão e colocamos três sementes de milho; cobrimos levemente com as mãos e esperamos elas nascerem. Passei a observar aquele processo e percebi que a morte daquele grão que fora enterrado era fundamental, assim como para nós, seres humanos, para nascermos verdadeiramente.

Compreendi que aquela semente, somente ao passar por todo o processo de apodrecimento, embaixo da terra, teria força e determinação para atravessar toda a terra que foi colocada sobre ela, compactada pela ação da água e do tempo. Ainda que com toda dificuldade, já não estaria mais sozinha. Traria seu rebento já transformado um uma outra planta, para ver a luz e, assim, iniciar seu novo processo. A semente de milho não perdeu sua essência; apenas deixou a antiga casca que a envolvia e se transformou em um pé de milho que daria muitas espigas. E, assim, todo o processo recomeçaria…

O homem, ao passar pelo mesmo processo, chega o dia da finitude de seu invólucro. Tal é a condição necessária para uma das formas de sua transformação. Não fomos criados para vivermos eternamente com o mesmo envoltório. Esse processo, de morte e renascimento, se faz necessário até que tenhamos atingido a plenitude de nosso aprendizado e, neste, passamos por burilamentos e aperfeiçoamentos.

Quando nos referimos ao milho ou a qualquer outro grão, ele foi criado pelo mesmo Pai que nos criou. Cada ser, cada criatura, nasce com uma função diferente. Assim, como falamos do grão, que vai nos servir de alimento, com relação ao homem – que já é um ser pensante – esse também passa por transformações e aprendizados, mas com forma e objetivos diferentes. Somos, deste modo, todos, criações do Pai, e nascemos para servir a um propósito, mas com objetivos diferentes em seu projeto.

Voltando ao primeiro livro de Kardec, em uma das perguntas (728-a) ele indaga: “O instituto de destruição teria sido dado aos seres vivos com fins providenciais?”. Se essa pergunta já nos surpreende, nos fazendo refletir que cada individualidade já traz, ao nascer, o instinto de destruição, a resposta dada pelas Inteligências Invisíveis nos provoca uma grande curiosidade. Os Mentores, então, dizem a Kardec: “As criaturas de Deus são instrumentos de que Ele se serve para atingir os seus fins. Para se nutrirem, os seres vivos se destroem entre si, e isso com o duplo objetivo de manter o equilíbrio da reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e de utilizar os restos do invólucro exterior. Mas é apenas o invólucro que é destruído, esse invólucro não é mais que o acessório, não a parte essencial do ser pensante, pois este é o princípio inteligente indestrutível, que se elabora através das diversas metamorfoses por que passa”.

Essa afirmativa nos dá a garantia de que o que morre é o nosso corpo, a casa provisória que nos dá a condição de exercemos a nossa missão. O Espírito continua sua jornada e engendra a sua preparação para o retorno. Não necessariamente a esse Planeta, mas onde se fizer necessário, de acordo com as nossas conquistas.

Retornando à obra pioneira, no item 729, Kardec pergunta aos Benfeitores: “Se a destruição é necessária para a regeneração dos seres, por que a Natureza os cerca de meios de preservação e conservação?”. A resposta dada pelos Espíritos nos traz uma grande lição, porque isso se dá “Para evitar a destruição antes do tempo necessário” ou estabelecido, uma vez que que se tal acontecesse, isto seria um entrave ao desenvolvimento do princípio inteligente. E eles arrematam: “Deus deu a cada ser a necessidade de viver e de se reproduzir”.

Adiante, Kardec, na questão 730 da citada obra, faz uma afirmação e, posteriormente, questiona se a morte nos levaria a uma vida melhor e nos livraria dos males desde mundo, de modo que seria mais razoável desejá-la do que temê-la. Por que, então, indaga, finalmente o Professor francês, o homem sente instintivo horror por ela, a ponto de estar sempre apreensivo por sua causa? A resposta dos Mentores aponta para o fato de que cabe ao homem “procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa”, tarefa essa ele se comprometeu a realizar. O que é importante que se diga é que o instituto de conservação que achamos só existir nos animais, faz parte de nossa existência para que isto nos impulsione a realização daquilo que viemos fazer. Caso o instinto não existisse, nós talvez não suportaríamos as tarefas e nos entregaríamos ao desânimo. Os Mestres, ainda, se referem a uma voz que nos protege e nos faz repelirmos a morte, e que ainda pode fazer alguma coisa para nosso progresso. E finalizam com uma advertência: quando o perigo ameaça o homem, ele deve aproveitar o tempo concedido, mas, por ingratidão, o homem acredita que teve sucesso graças mais à sua boa estrela do que ao Criador.

Também é interessante a pergunta feira por Kardec, referindo-se à afirmativa da pluralidade dos mundos: se “A necessidade de destruição é a mesma em todos os mundos?”. Ao que os Instrutores lhe responderam que seria proporcional ao estado (mais ou menos) material de cada orbe, deixando de existir quando as condições físicas e morais se acharem mais depuradas. Isto nos faz realmente concluir que a Lei de Destruição é tão necessária que, sem ela, paralisaríamos a nossa evolução. Entretanto, ao nos tonarmos mais evoluídos, mais espiritualizados, essas Leis vão se tornando mais lentas ou, quem sabe, mais desnecessárias de serem aplicadas.

Por fim, os Luminares Espirituais ainda nos afirmam que a necessidade de destruição vai se enfraquecendo no homem à proporção em que ele vai dominando a matéria, e não o contrário. Eis, realmente, a grande lição desse Capítulo, pois ela reforça o que tanto Jesus nos ensinou: que, para o seguirmos, precisamos deixar tudo. Só precisamos, aumentar a nossa bagagem – não em nossas mãos, mas em nossos sentimentos e nossas ações.

Conclusivamente, tendo o Criador ciência da nossa passividade de erro e do fardo, ainda necessário, da Lei de Destruição, Ele nos presentou com uma aversão nata a esta realidade. Da mesma forma que a semente mantém sua capacidade germinativa, as vezes por séculos, a missão dos seres humanos é a manutenção do instinto de preservação que nos faz lutar para cumprirmos a nossa jornada. A Lei de Destruição é o que rege a dança dos planetas no Cosmos, mas é o instinto de preservação que faz com que nós, pobres habitantes desta esfera azul, tenhamos a capacidade de nos admirarmos com o brilho das estrelas.

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