Valorização da Vida Humana, por Rubens Policastro Meira (in memoriam)

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Rubens Policastro Meira (in memoriam)

O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Para secundar o movimento da renovação o Espiritismo é a mais apta das doutrinas.

Por que temer a superpopulação? Por que temer a falta de alimentos? A Terra é um dos principais bem de produção e como tal deve seus produtos serem estendidos a todo ser humano, pois nela, na Terra, reside um dos meios de conservação da vida. A Terra sempre produzirá de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, uma vez que somente o necessário é útil. O supérfluo nunca o é [1].

Mas, aparentemente, parece que a Terra não produz o suficiente. É que o homem não sabe contentar-se com o necessário e emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário [2].

No mundo deparamos com milhões e milhões de seres humanos em estado de miserabilidade, de fome, de falta de recursos. A que atribuir isso? Existirá realmente falta de alimentos? Qual a causa da carestia dos gêneros em relação à falta de recursos da imensa maioria da população?

Assistimos através da imprensa escrita, falada, televisionada a quantidade fabulosa de toneladas de alimentos estocados, deteriorando, apodrecendo, nos armazéns deste imenso país.

Para que? Qual ou quais os objetivos? Para a manipulação de preços, maiores lucros, maior fome, miséria.

Qual a fonte, a causa da miséria, da fome? A fonte está no egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre.

Se é certo que a civilização, que o aumento populacional, multiplica as necessidades, também o é que multiplica as fontes de trabalho e os meios de viver. A natureza, a Terra, não pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelas consequências do egoísmo, da ambição e do amor próprio [3].

A necessidade de viver implica logicamente o direito de uso dos bens da Terra [4]. Aqueles que esquecendo-se das leis de Deus, açambarcam os bens da Terra com prejuízo daqueles a quem falta o necessário à subsistência, terão de responder, perante as Leis Naturais da Vida, pelas privações que houveram causado aos outros. Os que vivem, os que acumulam riquezas, à custa das privações dos outros, exploram, em seu proveito, os benefícios da civilização, que pertencem à humanidade [5].

Falávamos no estudo anterior, que não haveria como compreender e aceitar em nossas consciências, uma queda com dissociação entre o conhecimento espírita e as exigências éticas a propósito da vida, com certos comportamentos inaceitáveis.

Não podemos tergiversar ante o erro. Não devemos, por comodismo, por subterfúgios tentar adaptar o conhecimento consciente, aos nossos interesses pessoais.

Não há temeridade ante a superpopulação quando o homem olhar seu semelhante como seu irmão, quando amá-lo como a si mesmo.

A Doutrina Espírita entende e demonstra que as leis do progresso saberão criar, necessariamente, novas condições da vida, eliminatórias dos receios da superpopulação, uma vez o homem passe a caminhar ao lado destas leis, construindo uma sociedade alicerçada nas leis do Amor e da Solidariedade.

Para renovar a cultura da vida mister se faz permitir ao homem (Espírito imortal) realizar seus desejos e aspirações, crescer, aperfeiçoar-se. Para tanto impõe-se que a renda social seja distribuída de forma a evitar a disparidade aberrante, clamorosa, em que parcelas ponderáveis da população vivem em estado de miséria absoluta, determinado pelo sistema social vigente na Terra. É imprescindível que os resultados da vida social sejam distribuídos e que todos possam ter acesso. Se a base imutável do governo é a democracia, a base imutável da democracia é a unidade dos direitos humanos, consubstanciados na necessidade do direito de viver, livremente e em paz, inerente a todo ser humano.

Conforme já vimos, numa sociedade organizada segundo a lei do Amor, ninguém deve morrer de fome [6].

Então, qual a mensagem, a chave, que o Espiritismo mostra ao homem? Para mudar, transformar, renovar a cultura da vida, necessário se faz que os bons, que são tímidos, queiram preponderar, pois são a maioria, e os maus por serem intrigantes e audaciosos, mas em minoria, sobrepujam os bons [7], pela sua intriga, audácia e astúcia.

Uma das conspirações existentes contra a vida encontra-se nos obstáculos à função natural do exercício da maternidade. Nos povos onde reina o princípio egoísta, de manter a abundância ao lado da escassez, do luxo ao lado da miséria, a prole numerosa cria situações insolúveis por falta de meios de subsistência, de saúde, de educação e cultura. Tais fatos não ocorreriam em uma sociedade a serviço do homem, espírito encarnado, sob a égide de Jesus.

A sociedade atual, dirigida por “cristãos” (sem o Cristo) em sua maioria, através de seus filósofos, “consideram” a fome e a miséria, à conta do crescimento populacional, motivo pelo qual procuram resolver o angustiante problema, conspirando contra a vida, impingindo a cultura da morte.

Os “programas” governamentais que visam obstaculizar a reprodução como uma regra legal, são contrários à Lei da Natureza e obviamente contrários à Lei Geral [8] para alguns, e para outros, consiste na satisfação da sensualidade, comprovando a predominância do corpo sobre o espírito, demonstrando quanto o homem ainda é materialista [9]. O termo sensualidade aqui empregado não se restringe somente à lascívia, à luxúria, mas sim e, também, ao amor aos prazeres materiais, ao luxo, a opulência, ao desperdício, dentro de uma sociedade tipicamente hedonista.

Obstando a natalidade por quaisquer métodos, programas, estaremos obstando a reencarnação, impedindo que os Espíritos progridam, se aperfeiçoem.

A renovação da cultura da vida pede a participação de todos, educando, ensinando, lutando, expondo a Verdade objetiva e que liberta, não a verdade mentirosa, falsa, que cria cadeias, algemas, ao espírito sequioso de progresso.

O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Para secundar o movimento da renovação o Espiritismo é a mais apta das doutrinas [10].

O Espiritismo diante da renovação da cultura da vida, nos ensina que não será ele (o Espiritismo) que fará as instituições do mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império de justiça, de caridade, de fraternidade, de solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo [11], destruindo uma das chagas da sociedade, o materialismo [12]. Por materialismo não se deve entender somente a crença ou descrença de Deus, mas sim, ao espírito, à conduta de lascívia, luxúria, impiedade, de exploração, de desperdício dos bens da Terra, de impunidade, de corrupção e todos os outros males que assistimos no momento presente.

Para a conquista deste desiderato, lembremo-nos de Jesus, de quem Rui Barbosa comentou: “Foi como agitador do povo, e subversor das instituições, que se imolou Jesus”. A missão de Jesus concentrou-se na defesa, espiritual e material do povo, e por isso mesmo, foi perseguido por motivos políticos. Na sua sentença de morte, inscreveu-se que foi condenado como “homem sedioso, contrário ao grande imperador Tibério Cezar. Congregrando muitos homens ricos e pobres, não tem cessado de promover tumultos, negando o tributo a Cezar”.

Vamos seguir Jesus e Kardec? Quem se habilita?

Notas do Autor:
[1] “O livro dos Espíritos”, item 704.
[2] Idem, item 705.
[3] Idem, item 707 e comentário de Allan Kardec.
[4] Idem, item 711.
[5] Idem, item 717 e comentário de Allan Kardec.
[6] Idem, item 930.
[7] Idem, item 932.
[8] Idem, item 693.
[9] Idem, item 694.
[10] “A Gênese”, Cap. XVIII, item 23.
[11] “Obras Póstumas”.
[12] “O livro dos Espíritos”, item 799.

* Artigo originalmente publicado na edição impressa da Revista Espírita “Harmonia”.

 

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