Os avanços da Biologia perante o Espiritismo, por Jorge C. Daher

Tempo de leitura: 14 minutos

Jorge C. Daher

Cabe à Ciência Espírita o estudo do Princípio Espiritual e sua relação com o Mundo Espiritual, sendo a mediunidade um instrumento para se alcançar esse fim. Kardec, em “A Gênese”, trata da aliança da ciência material com a ciência espírita, duas ciências distintas, que utilizam meios, materiais e métodos totalmente diferentes. A união dessas fontes de saber, para ele, trariam ao homem não somente o conhecimento de si mesmo enquanto ser biológico, mas de suas origens, sua destinação final, seu real objetivo na Terra.

O Espiritismo surgiu em uma época em que a Ciência alcançava notáveis feitos. O final do século dezenove assistia às descobertas das ruínas dos Incas, à decifração dos hieróglifos egípcios e às escavações dos templos gregos, a mecânica impulsionava a indústria com suas
descobertas, o microscópio seria o instrumento de perquirição da Biologia, levando o homem a devassar seu corpo, para curar doenças e buscar suas origens. A época de Kardec é a época de Darwin, é um pouco antes da época de Mendel, mas é a época da glória da sociedade
burguesa, do caldeirão de filosofias de exaltação do homem, que nos levaria a duas grandes guerras, sem que perdêssemos a empolgação com as conquistas, tornando a Ciência, definitivamente, possessão do homem, algo que o aproximava em pés de igualdade à divindade.

Charles Darwin, talvez o homem de Ciências mais genial de sua época, não inventou a ideia que o homem descende do macaco, derrubando a mitologia judaico-cristã da descendência adâmica. Coube a ele muito mais, além de concluir que o homem e o macaco tiveram, em alguma ocasião temporal, ancestrais comuns, do mesmo tronco, que depois se diversificariam naquilo que coube a ele desenvolver com primazia, a seleção natural. Seleção natural não é a lei do mais forte, mas sim a constatação que os seres evoluem graças a mutações aleatórias em seu interior, capazes de fazê-los modificar sua interação com o meio externo, tornando-os, nessa interação, mais aptos a sobreviverem. As ideias de Darwin influenciam não apenas a Biologia, mas mesmo a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia. Muitos se utilizam de sua teoria
com fins notadamente racistas e muita polêmica gerou no meio acadêmico o livro “A Curva de Bell”, uma abordagem racista, que associa a miséria de negros e hispânicos a questões raciais, de seleção de uma raça mais apta, no caso os brancos caucasianos, sobre as demais. Os autores dessa obra esqueceram do grande legado de Darwin, que diz: “Se a pobreza e a
miséria de um homem for causada não pelas leis da Natureza, e sim por nossas instituições, grande é nossa sina.”

Separados pelo distante tempo interior, pois se Darwin se interessava pelo palco da Ciência, o monge Gregor Mendel, que por seu amor à Botânica e acurado senso científico descreveu as leis da hereditariedade e as regras por elas seguidas, permitiu ao homem a estruturação da idéia de transmissão de um sistema de memória capaz de determinar características dos pais aos descendentes, que hoje sabemos estar em sequências de DNA que chamamos genes. A genética começa com Mendel, mas, apenas o descobriu no século XX, apesar de seus trabalhos
datarem do final do século XIX, mais precisamente 1885. Com a caracterização que os cromossomas eram formados de DNA, e que esse era composto de ácidos nucleicos, dois pares desses ácidos nucleicos, que suas sequências formavam uma espécie de alfabeto que codificavam a formação de componentes das proteínas, gerou-se uma corrida para
determinar-se a forma estrutural do DNA. Coube a Linus Pauling a descoberta que as proteínas têm estrutura tridimensional e algumas delas uma estrutura helicoidal, mas o mérito quanto ao DNA coube à dupla Watson e Crick, que descreveram o DNA como dupla-hélice, que se
abria na sua face interior para que fosse feita a “leitura” do alfabeto genético.

A sequência de nucleotídeos que formam cada um dos vinte aminoácidos essenciais do organismo humano, seguida do avanço na codificação das sequências genéticas e localização dos genes nos cromossomas, abriu as infindáveis possibilidades de pensar e sonhar que a mente humana é capaz. Os genes tornaram-se explicações de tudo o que ocorre no homem,
quer em seu organismo quer em sua vida de relação, quer ainda em seu estado mental, sua capacidade de amar, de ser egoísta ou altruísta.

Poderosos, os genes eram o código de Deus nos seres vivos que agora o homem era capaz não apenas de identificar, mas de manipular. Conta-nos a mitologia grega que Zeus, o supremo deus do Olimpo, vendo que Prometeu, que criara os homens, detinha enorme prestígio e poder, desceu à terra em seu carro de fogo, e tirou dos homens a luz, num castigo ao titã e às suas criaturas. Em meio à escuridão que reinava, partiu em rota ascendente ao Olimpo, mas Prometeu, com um graveto, rouba o fogo do carro de Zeus, devolvendo aos homens aquilo que lhes havia sido tirado. Os deuses ficaram furiosos e prepararam vingança. Coube a Afrodite criar Pandora, uma mulher belíssima que trazia em suas mãos uma caixa, onde todas as pragas que abateriam os homens estavam comprimidas, saindo assim que fosse a tampa retirada. Não aceitando o presente de Afrodite, Prometeu, o que pensa antes, talvez não
imaginasse que seu irmão, Epimeteu, o que pensa depois, ficasse encantado com Pandora e pedisse o presente a Afrodite. Recebeu Epimeteu a Pandora, junto com sua caixa, que, depois de aberta, espalhou sobre os homens todas as pragas e maldições ainda hoje conhecidas e que nos afetam. Da caixa de Pandora, a última a sair será a Esperança.

Impossível não relacionar o presente recebido por Epimeteu, principalmente a caixa que Pandora trazia, com o momento em que vivemos no que tange às conquistas da Biologia.
Desde a década de sessenta que a genética molecular alcança progressos incríveis no diagnóstico de doenças raras, desde o período intrauterino. Muito se fala em tratamento gênico de doenças, bastando identificar o gene deficiente e substituí-lo. Até hoje, mesmo
conhecendo os genes de doenças letais, ainda não se foi capaz de promover terapia gênica adequada. Muita expectativa se criou entre os portadores de Fibrose Cística, mas ninguém foi curado por terapia gênica. A manipulação gênica é a proposta de avanço da ciência a ser
analisada nessa palestra, pois assim pude entender a partir da correlação entre fertilização in vitro, clonagem e transplante de órgãos. Para entendermos um pouco da caixa de Pandora aberta a partir daquilo que os colegas médicos da Associação Médica Católica da
Inglaterra e Gales chamam de “o homem brincando de ser Deus”.

Desde a década de 50 os investimentos na Genética Molecular são enormes, não faltando verbas de pesquisas e isso propiciou a capacidade de sequenciar e manipular genes. À época do projeto Genoma Humano, especulava-se muito sobre as descobertas que estariam no cromossoma 22, pois dali sairia a cura da Esquizofrenia, a doença mais cara do mundo,
segundo a Organização Mundial de Saúde. Nada se descobriu, para a frustração de muitos cientistas. Isso não impediu de sequenciar-se genes importantes e outros ainda pouco conhecidos.

Questão de grave impacto, quando tratamos de manipulação gênica, é a evidência de que permanece vivo o Eugenismo, que é a tentativa de aprimoramento da raça humana. Essas idéias marcaram dolorosamente o homem durante o Nazismo, quando atingiu o clímax no sacrifício de milhares de judeus, na quase erradicação dos povos ciganos, no uso de cobaias humanas em experiências somente permitidas com animais. A eugenia é uma idéia atuante na mente de alguns brilhantes cientistas que, ou não se apercebem do risco em promover tal idéia, pelas consequências que o homem já experimentou, ou simplesmente desconsideram qualquer risco em favor de seus ideais.

O racismo a partir dos estudos científicos sempre foi encoberto por elaborações estatísticas complexas, que manipulavam dados em favor de determinado objetivo, ou era encoberto por visão viciada do pesquisador. O conhecido psiquiatra forense italiano, que se consagrou no Espiritismo a partir de sua conversão, Césare Lombroso, defendia que os criminosos tinham um crânio típico, menor em volume, que se apresentava exteriormente pela fronte pequena, mãos e pés grosseiros e sulcos faciais acentuados. Assim eram os criminosos que Dr. Lombroso
conheceu, alguns cérebros que analisou, mas são características de uma raça explorada pelos europeus, que viveram à margem de qualquer conquista social na Europa do século passado.

Hoje a Eugenia está presente nas propostas de concepção a partir de fertilização in vitro após cuidadosa análise genética dos embriões, descartando os menos aptos em favor dos que os comprometidos com a seleção de raça pura chamam de amostra selecionada. Fazem às avessas aquilo que a Natureza faz de modo aleatório, escondendo uma sabedoria capaz de ser analisada apenas sob as vistas da Moral, despida de moralismo barato, mas sustentada por uma visão que garanta ao homem a autonomia e a dignidade desde as formas iniciais de vida.
Autonomia e dignidade, devendo ser respeitadas no homem desde sua fase embrionária, faz com que a manipulação gênica de embriões fira profundamente esses princípios chave da Bioética? Caso consideremos o embrião como dotado de vida, a partir de quando isso se dá legalmente?

O Espiritismo traz o conceito transcendente de vida, que não se inicia no berço, nem se encerra no túmulo. Se a visão muçulmana, expressa pelo geneticista radicado na Inglaterra, Abid Sharim, permite a manipulação gênica de embriões por entender que a alma se liga ao embrião a partir do 40º dia, muito ainda temos que avançar, inclusive para determinar quando a ligação do espírito com o corpo efetivamente se dá no estrito senso da palavra ligação.

Os genes não transmitem caráter, não dão as características da alma. Quando o projeto genoma demonstrou que temos poucos genes a mais que os animais vulgares, como camundongos, muitos deixaram o queixo cair. Aqueles que afirmaram em alto e bom tom: “Dêem-me o programa genético que farei um homem”, pouco falaram, agora já sem o tom bravatoso. Muitos pensaram ter descoberto o Espírito, não para exaltá-lo, mas para rebaixá-lo a epifenômeno, não do cérebro, mas resultante dos genes.

Caindo na realidade, a programação genética serve apenas para estocar informações para o maquinário celular. Ela não explica as sinapses cerebrais, pois precisaríamos de um número de genes três vezes maior que o contido em nosso DNA para justificar as sinapses já conhecidas,
que se contam a menos de um terço das que possivelmente existam. DNA é molécula morta, tanto é que é encontrada em fósseis, sem o maquinário celular nada pode fazer. Na verdade, quem faz é a célula, esse ser microscópio quem utiliza as informações dos genes no processar de seu metabolismo.

Os testes genéticos muitas vezes são oferecidos como um pacote para descobrir-se as doenças que acometerão o indivíduo no futuro, numa clara enganação de incautos, quer pela imprecisão dos testes, quer pela não seleção dos testados, quer pelo desconhecimento que o gene não gera por si só a doença. Muito se tem explorado, muito dinheiro tem sido gasto para alimentar pavores infundados ou certezas cada vez mais incertas, em nome do ganho, da celebração da fama.

A genética nunca esteve em tamanha evidência entre os leigos e não iniciados quanto a partir de 1997, ano em que foi anunciado, na Escócia, o nascimento de Dolly, primeiro ser vivo clonado através de uma técnica chamada Transferência de DNA. Os cientistas recolheram o
material genético da mãe de Dolly e implantaram em células mamárias cujos núcleos foram esvaziados visando receber o material que formaria Dolly. A equipe do Dr. Willmutt formou 277 embriões e apenas um se mostrou capaz de desenvolver, no caso a ovelha tão famosa.
Com Dolly o vislumbre de clonar-se humanos passou a tornar-se realidade quase palpável.

Um número crescente de publicações dá conta da clonagem de vários animais de laboratório, a partir da transferência de DNA, gerando já uma estatística de taxa de sucesso de 2%, com um gritante fracasso de 98%. Interessantemente, desses 2% de sucesso, um número grande deles apresenta doenças graves e já são descritas pelo menos 150 doenças entre os animais gerados por clonagem através da transferência de DNA. O porquê da alta taxa de fracasso ainda não se sabe.

Se o clone humano virou realidade entre nós a partir de uma novela televisiva brasileira de anos atrás, a China anunciou, mesmo antes do médico italiano Severino Antinori, que tinha dez clones humanos. Estabeleceu-se uma corrida para saber-se quem será o primeiro a mostrar seu clone humano, um troféu que terá o prêmio não apenas da opinião pública, mas o grave peso político. A técnica que fez gerar Dolly é aparentemente simples, mas a pífia taxa de sucesso mostra como é complexo o processo. Quando o espermatozoide se funde ao óvulo, descarregando seu material genético a fundir-se com aquele da célula receptora, esse par de cromossomas diferentes entre si, partindo de um estado de repouso engendra no mecanismo celular um processo de rápida multiplicação celular, o que virá a ser um embrião. Esse processo de reprodução a partir de cromossomas em repouso garante um risco mínimo de alterações nos cromossomas que, em alguns casos, geram doenças como a Síndrome de Down
e em outros são incompatíveis com a vida. Na técnica de clonagem, uma célula receptora tem seu núcleo vazio preenchido pelo material genético do doador. Não se tem garantia de que esses cromossomas estão em estado de repouso e o fato de se ter uma probabilidade elevada de estarem em atividade, faz surgir o alto índice de fracasso e, mesmo nos poucos casos de sucesso, o risco de alterações cromossomiais é grande.

Isso nos leva fatalmente à pergunta para mais essa questão saída da caixa de Pandora, supondo o sucesso e a aceitação plena da clonagem humana, que tipos de desenvolvimento anormal deveremos aceitar? Aceitar para quem? Não esqueçamos que não estamos formando um objeto, mas estamos diante de uma vida humana que surge.

Ainda refletindo sobre o que vai saindo da caixa de Pandora, superando essas questões graves sobre o desenvolvimento do embrião humano clonado, caímos em questões éticas mais graves. Se uma mãe tem um filho morto em acidente, mas dele é retirado tecido vivo, qual o limite a ser aplicado ao desejo dessa mãe em fabricar um clone dessa criança? Por mais que saibamos o processo gera corpos, e não espíritos, como mais adiante iremos debater, se é válido o desejo de substituir o filho morto por um geneticamente quase idêntico, será válido o desejo de outra mãe querer ter um filho sobressalente congelado no nitrogênio líquido, pronto para vir ao mundo após implante em um útero receptor, em caso de morte ou doença grave do original? Existe fronteira demarcada entre o desejo de uma e de outra?

Clonar seres humanos com finalidades reprodutivas tem gerado tanto problema atualmente que quase já não se fala nesse tipo de clonagem, a não ser nas saudades da novela, pois a moda agora é falar-se em clonagem terapêutica, a utilização da clonagem para que se formem
doadores de células-tronco, que se transformarão em qualquer tecido ou órgão humano.

Os transplantes de órgãos realizam-se com uma taxa de sucesso importante, chegando, no caso de transplante de rins, a uma sobrevida de 85% em dez anos, isso desde a década de 80, graças à descoberta de uma substância imunossupressora chamada Ciclosporina. Essa droga
revolucionou os transplantes, mudou todos os parâmetros de sobrevida. Os argumentos a favor da clonagem terapêutica pesam pela escassez de doadores em todo o mundo, mas o peso de se usar órgãos como mercadorias inibe os prudentes e engana os afoitos.

Saindo da caixa, mais uma questão se põe à reflexão: uma vez desenvolvida a técnica de clonagem terapêutica, é justo que toda a população tenha um clone como reserva técnica de órgãos? Aqueles que já nascerem com problemas genéticos não podem fazê-lo, pois o clone também teria problemas, mas não seriam esses com predisposições e doenças
genéticas os que mais seriam favorecidos com o transplante de órgãos obtidos a partir de células-tronco. Para confundir um pouco mais, estudos de há poucos anos mostram que pâncreas transplantados a pacientes diabéticos também desenvolveram diabetes, após 11 anos, em 100% dos casos. Com órgãos fabricados a partir da reserva de um embrião
clonado teriam destino diferente? Infelizmente, creio que a resposta ainda é não.

Continua aberta a caixa de Pandora, dela saindo todas as pragas e males que o homem poderia experimentar. Todavia, lembra-nos a Mitologia que a última coisa a sair da caixa que trazia a bela Pandora era a Esperança. Apesar de todos os males, de todas as pragas, deveria por
último dali sair um sentimento de renovação, mostrando que os deuses do Olimpo não condenaram perpetuamente a humanidade e que o mito de Pandora talvez seja o mito da ciência moderna. Para nós, essa Esperança tem nome, poderíamos chamá-la de Consolador, sem que carreguemos o rótulo religioso, mas ampliando sua perspectiva a todos os movimentos de regeneração surgidos na Terra, desde o final do século XIX.

Cabe à Ciência Espírita o estudo do Princípio Espiritual e sua relação com o Mundo Espiritual, sendo a mediunidade um instrumento para se alcançar esse fim. Assim nos diz Allan Kardec em “A Gênese”, ao tratar da aliança da ciência material com a ciência espírita. Ao distinguir duas
ciências, pois utilizam elas meios, materiais e métodos totalmente diferentes, não quis Allan Kardec separá-las, mas vislumbrava a união dessas fontes de saber, que trariam ao homem não somente o conhecimento de si mesmo enquanto ser biológico, mas de suas origens, sua destinação final, seu real objetivo na Terra. O Codificador percebeu que a Ciência teria um limite, que não avançaria além das leis materiais e a aliança com a Ciência Espírita, que trata do que está além da matéria, seria a instrumentação que propiciaria o conhecimento pleno e útil ao homem.

Mas a tão esperada aliança entre as ciências espírita e material não ocorreu. Especificamente na questão da clonagem, que causa espanto a muitos, como se relaciona o princípio espiritual com o corpo que se forma? Existe total identidade entre clone e doador? O que transmitem os
genes, realmente?

A ideia que transmitimos pelo sangue características não apenas do corpo, mas também as características da alma, sempre esteve presente entre os homens e passou a se fazer mais forte desde o final do século XIX, reforçado pelo encantamento com a Ciência, a mãe de todas as descobertas que impulsionaram o homem ao auge conquistado no século XX e ainda hoje desfrutado. O romance do genial Charles Dickens, chamado Oliver Twist é exemplar modelo dessa ideia.

Existe um estudo interessantíssimo onde o caule de uma planta mãe foi dividido em três porções e cada uma dessas partes plantadas em altitudes diferentes. Essas plantas eram clones da planta original, que serviu de modelo de comparação. A depender da altitude, as plantas reagiam de modo diferente, gerando plantas outras distintas em maior ou menor intensidade em relação à matriz.

Outro ponto de estudo interessantíssimo é o da evolução dos rinocerontes. Temos dois tipos de rinocerontes, que surgiram no mesmo período cronológico, um na África, que tem dois chifres no nariz, outro na Índia, que tem apena um pequeno chifre em seu nariz. Partiram da
mesma matriz e não se explica a diferença entre eles por alterações em seus genes. O que está além dos genes e nos toca diretamente o sentido, chama-se fenótipo. Por fenótipo podemos descrever todas as características palpáveis, mensuráveis do ser vivo, as plantas geneticamente idênticas têm fenótipos distintos; dá-se o mesmo com os rinocerontes.

O que faz a diferença de resultados entre o que seria esperado para determinado genótipo e o fenótipo efetivamente encontrado é chamado pela ciência de normas de reação. Essas normas de reação são as alternativas de resultados oferecidos ao genótipo, que podem ser totalmente distintas do esperado. Se ainda não se pode descrever os fatores responsáveis pelas normas de reação que interferem no genótipo para a formação de fenótipos (seres!) distintos, permitam-nos especular, vamos buscar no Princípio Espiritual, objeto da Ciência Espírita, a causa!

Ao campo mental das células, que já é um fator a determinar normas de reação distintas, sobrepõe-se o campo mental do espírito, expresso através do perispírito que, ao reencarnar, impõe sua programação própria, sua identidade. Esse ser complexo, descrito como energético
por partilhar de leis sutis e interferir nas leis biológicas que regem o corpo físico, influenciado por essas leis enquanto reencarnado e no instante mais ou menos longo da desencarnação, serve de molde, não de cópia, para comportamentos celulares únicos, no campo hoje limitado da genética.

Os estudos do Dr. Ian Stevenson, principalmente seu livro “A Biologia em Face da Reencarnação”, mostram a ocorrência de marcas de nascença, que ocorrem no ser reencarnante sem substrato genético, relacionando com eventos que geraram a morte traumática do ser, em reencarnação imediatamente anterior. O Dr. Ian Stevenson publicou o trabalho com o peso de um autor consagrado no meio científico, respeitado pela seriedade de seus trabalhos, ocupando dois volumes de obra extensamente documentada.

Mais que fatores genéticos a influenciar nos resultados do fenótipo, existem características humanas como a linguagem, o comportamento, as emoções, que não são transmitidas geneticamente. O clone de um brasileiro criado no Japão, falará japonês, pois a linguagem não é transmitida pelos genes. Sua capacidade mental será única e poderá ser totalmente distinta de seu molde, pois as sinapses cerebrais não obedecem a modelos genéticos para seus desenvolvimentos. Mais que isso, o clone poderá apresentar doenças que jamais serão apresentadas pelo molde, uma vez que alterações estruturais nos cromossomas são muito
plausíveis de ocorrer em clones.

O Espírito é elemento constitutivo da Natureza e anima as formas materiais dos seres vivos, inicialmente como princípio espiritual, mas nas formas humanas encontram a plenitude do que entendemos por marcas do Criador em cada criatura, de forma mais vibrante e desafiadora, somente no homem o princípio espiritual torna-se Espírito com conotação
moral, pois somos seres morais.

Se temos a capacidade de gerar e aprimorar corpos, não temos a capacidade de gerar Espíritos. A primazia sobre o corpo não é obtida através dos genes, mas a partir do corpo espiritual que o Espírito reencarnante traz. Ainda que tentemos aliviar doenças, porque algumas doenças são perfeitamente evitáveis, talvez estejamos distantes da capacidade de aliviarmos sofrimentos. O ser humano não sofre porque adoece ou tem a morte próxima. Esse erro é consequência da visão utilitarista da sociedade ocidental, desenvolvido nos últimos 60 anos.

Paradoxalmente, a necessidade de erradicar-se toda forma de sofrimento, desde as mais legítimas, que dizimam pela miséria vidas inocentes, até as mais bizarras, que visam retardar o envelhecimento e prolongar a vida no corpo, vendem a idéia de que tudo o que é contrário
ao bem-estar físico é causa de sofrimento. Os espíritos amigos, tratando da medida da felicidade que podemos obter, lembram-nos, em “O livro dos Espíritos”, que temos um senso que diz o que é abuso, que são nossos sentidos. A comida excessiva, que às vezes gera prazer, é causa de doenças que matam mais que a fome; as emoções obtidas por experiências quase extremas, desequilibram a homeostase; a necessidade de ser feliz, traduzida pelo consumo de bens pouco duráveis, pelas aparências que não enganam a si mesmos, por não viver conforme as próprias convicções, ou não ter qualquer convicção própria, geram a depressão e a demência.

Ante as pragas saídas da caixa de Pandora, calmamente espera o Espiritismo sua vez de ser auscultado pelos homens, pois é o hino de esperança a lembrar-nos que nossa pátria verdadeira não se conta entre os limites do mundo físico, que somos essencialmente Espíritos, que nossos corpos são sagradas vestes, mas apenas vestes que teremos de despir quanto estiverem rotas e sem serventia.

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A Nova Ética Espiritual a partir da Lei de Conservação, por Marcelo Henrique e Cláudia Jerônimo

Conservar, por Maria Cristina Rivé

Valorização da Vida Humana, por Rubens Policastro Meira (in memoriam)

Ecologia e Espiritismo, por André Trigueiro

Educação Espírita e Desenvolvimento Sustentável, por Orlando Villarraga

Aspectos jurídicos e espíritas nas questões socioambientais, por Cynthya Michelin Locatelli

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