Deus e o bóson de Higgs, por Carlos de Brito Imbassahy

Tempo de leitura: 6 minutos

Carlos de Brito Imbassahy

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A verdade é que nada existe sem uma causa, desde a ínfima partícula subatômica até as maiores formações siderais do Universo, como galáxias e demais grandes estruturas cósmicas. Até o próprio Universo, para se formar, a partir de um Big Bang – seja ele qual for – jamais teria auto condições para se estruturar, admitindo-se, portanto, que haja um Agente Superior a tudo que o faça. Mas, daí a se dizer que este agente seja um “Deus” religioso, vai longa distância porque este dito cujo tem que ser compatível com toda a imensidão cósmica e não apenas à consistência humana, insignificante perante a formação universal.

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Se a energia, por si só, não se altera, algum agente

externo a ela atua para formar as partículas materiais.

Terence Browns.

 

Desde 1975, quando Murray Gell Man, no acelerador de partículas da Stanford University, descobriu a existência dos quarks muita coisa mudou no conceito da formação da matéria. A primeira comprovação foi a de que Werner Heisenberg, ao enunciar o Princípio da Incerteza estava certíssimo em dizer que as partículas que se desviavam da trajetória de emissão eram comandadas por vontade própria, qual ovelhas desgarradas.

Esta vontade própria seria a ação do agente responsável pela sua estruturação.

A primeira hipótese, portanto, contestando a criação divina, foi a de que, se cada partícula atômica teria um agente estruturador correspondente para formá-la, um corpo maior – a própria molécula – igualmente para se formar, também teria que possuir os agentes correspondentes, capazes de reunir as partículas inferiores e originar, desde o átomo, passando pela molécula, até a substância em si. Em se resumindo à vida inorgânica.

A Ciência sempre negou o Deus religioso porque Ele seria algo correspondente exclusivamente à criatura humana, a ponto de “tê-la criado à sua imagem e semelhança”, o que, por si, não é nada recomendável esse Criador. O homem teria sido feito a partir de um modelo cheio de defeitos desde os morais até os físicos.

Para Mathew Stanley, Deus é a própria natureza e Guerra Junqueiro, em “A Velhice do Padre Eterno”, conclui os versos de “Pássaro Cativo” com a frase: – “Ó natureza! A única Bíblia verdadeira és tu!”.

Mas a verdade é que nada existe sem uma causa, desde a ínfima partícula subatômica até as maiores formações siderais do Universo, como galáxias e demais grandes estruturas cósmicas. Até o próprio Universo, para se formar, a partir de um Big Bang – seja ele qual for – jamais teria auto condições para se estruturar, admitindo-se, portanto, que haja um Agente Superior a tudo que o faça. Mas, daí a se dizer que este agente seja um “Deus” religioso, vai longa distância porque este dito cujo tem que ser compatível com toda a imensidão cósmica e não apenas à consistência humana, insignificante perante a formação universal.

Indubitavelmente, não há efeito sem causa e, como tal, a matéria não poderia existir sem que houvesse algo que atuasse sobre a dita energia cósmica, amorfa, e a modulasse, formando suas partículas desde as mais elementares às mais complexas, inclusive, as que permitem transformá-las em seres biológicos. Tudo dentro da mesma regra.

A primeira etapa, contudo, seria descobrir que tipo de agente seria capaz de estruturar as mais elementares partículas e, daí, partir para a vida ou algo mais. Contudo, parece que o assunto não empolga os pesquisadores, de modo que pouco se fala a seu respeito. Uma corrente parapsicológica a encampou, transformando os ditos “agentes estruturadores” em frameworkers.

Por outro lado, as raras correntes científicas que se preocuparam com o assunto se dividiram em dois grupos diversos: os que julgam que este agente é um elemento de outro domínio, seja ele qual for (a Espiritualidade, por exemplo) e os ditos “materialistas” como Peter Higgs que, após equacionar a existência de tais agentes, determinou hipoteticamente a vida material de uma partícula que obedece às estatísticas de Bose-Einstein – um bóson – e que satisfaz às condições de criação da matéria; no caso, isto seria o verdadeiro “deus criador”.

Tive ocasião de comentar o assunto em dois capítulos do meu livro “Arquitetos do Universo”. Na época, ainda estava funcionando o LEP (Laboratório Elétron-Próton) no CERN e que deveria ser, como o foi demolido para dar lugar ao LHC, um novo acelerador de partículas – o maior do mundo – superior a tudo o que os laboratórios já haviam construído e cuja principal proposição seria a de investigar o dito “bóson de Higgs”. E, sem dúvida, o referido acelerador de partículas já se encontra em funcionamento, mostrando a todos, através da televisão, de portas escancaradas, seus verdadeiros propósitos em busca do que seja real.

Primeiramente, vejamos o que vem a ser um bóson: é de conhecimento geral que um átomo se compõe de diversas partículas ditas elementares, como o elétron, o próton, o nêutron e outras mais, algumas leves e outras pesadas. Entre elas o méson (intermediário). Mas acontece que todas essas partículas têm um comando para que possam atuar em suas devidas funções. Satyendranath Bose, físico natural de Calcutá (1894-1974), assistente de Einstein, fez uma estatística do comportamento das partículas que tinham exatamente esta propriedade de orientar as demais em suas funções. Estas, em sua homenagem, passaram e se chamar “bósons”.

Ocorre que, em 1935, um físico japonês natural de Tóquio, chamado Hideki Yukawa (1907 – 1981) equacionou a existência de uma partícula intermediária entre as leves (léptons) e as pesadas (hádrons) às quais denominou de mésons, cuja finalidade, exatamente, seria a de comandar estas outras a fim de que as mesmas estruturassem o átomo. Foi o nosso caro César Lattes (1924-2005) quem teve a ocasião de obter a primeira foto em um fermilab de uma das aludidas partículas, comprovando a sua existência.

Experimentalmente, verificou-se que o méson não era gravitacional (partícula cinética, ou seja, que se movimenta, como os elétrons), nem inercial (que não se move, como os nêutrons). Ela estava em determinado ponto e desaparecia dele, surgindo em outro lugar, sem que se deslocasse para lá. Para explicar aos meus alunos tais fenômenos, usei como exemplo um grão escuro, uma formiga e uma pulga sobre uma toalha branca: o grão não saía do lugar (partícula inercial), a formiga ia andando e se locomovia sobre o pano (gravitacional ou cinética) e a pulga, ao pular, saia de onde estava e surgia em outro lugar, sem se deslocar sobre o pano. O méson apresentava essa mesma propriedade, só que sua fuga era pela dimensão magnética conhecida como quarta dimensão (comprovada por um aparelho conhecido como TEEM – Tensor de energia eletromagnético), pois os nossos sentidos não conseguem captar tal realidade.

Isso inspirou Yukawa – depois que foi comprovada a existência de alguns mésons distintos, cada qual com sua função específica –, a dizer que a ação da referida partícula seria a de ser o liame entre a vida material do átomo e o seu respectivo estruturador. Ele era reencarnacionista (talvez budista) e admitia a vida espiritual fora da matéria. O méson é um bóson.

Com o advento dos LEP (aceleradores de partícula) outros bósons foram descobertos, cada qual com uma propriedade diversa, atuante, cuja finalidade seria a de comandar a estrutura do átomo. Destaque para o gráviton que comanda a força gravitacional interna, o glíon aglutinador dos quarks, e o fóton característico pela propriedade de ser responsável pela emissão das ditas frequências luminosas, estes os mais conhecidos dentre outros.

Em resumo e numa linguagem bem simples, pode-se dizer que todo bóson é uma partícula estruturadora responsável pelo comando de ações interatômicas dessas partículas elementares.

Do mesmo modo como Yukawa equacionou a existência de seu primeiro méson, também Higgs determinou matematicamente a existência de uma partícula semelhante, mas que ainda não comprovada experimentalmente. Para ele, a partícula hipotética teria a função de agir sobre a energia fundamental e transformá-la em átomo. Em síntese, para ele, tal partícula faria o trabalho que a religião atribui a Deus: criar a matéria e dar-lhe vida ou existência.

Evidentemente, seria a glória para os ditos materialistas!

Tudo seria muito simples se se pudesse provar que esta partícula agiria por “vontade” própria, sem qualquer outro comando, contrariando a hipótese inicial de Gell Mann que, para interagir sobre a energia fundamental, que compõe 27% do Universo, teria que haver um agente externo a ela. E mais uma vez surge a indagação: de onde teria surgido tal partícula? Do nada?

Este é outro assunto que merece uma abordagem específica.

Voltemos às partículas estruturadoras. Elas estão diretamente ligadas ao átomo e, como tal, são constituídas de energia;. Isto nos leva a indagar: quem ou o quê a estruturou? Seria ela autoestruturável? E, nesse caso, de onde teria surgido? Porque, sem qualquer dúvida, a hipótese de Gell Man ainda não foi contestada.

Esta seria a primeira falha que se me afigura, relativamente ao bóson de Higgs: como foi formado? Quem ou o quê o comanda? Do mesmo modo que a matéria estruturada por ele, ele próprio não poderia ter saído do nada. E, pelo que tudo indica, ele só existe dentro do átomo.

Da mesma forma que os religiosos pecam por quererem impor um Deus semelhante ou compatível apenas com a criatura humana, esquecendo-se de que nada somos perante a imensidão cósmica, também os materialistas se esquecem de que, quando Einstein determinou a equação de transformação da energia em matéria (E = mc²) declarou que, sendo efeito desta condensação, a matéria, como efeito, não poderia ser causa de nada. E toda partícula, por mais elementar que seja, é matéria. Inclusive os bósons.

E agora a pergunta: como a partícula de Higgs se condensou? No máximo, ela poderá ser o agente materializado da ação – divina ou não – de algo estranho à energia que a teria formado e, como tal, seus poderes criadores só irão existir em decorrência deste agente externo ao domínio material que a comandaria.

E voltamos à questão anterior: quem ou o que será esse Ente que a comandaria?

Por mais repetitiva que seja esta indagação, ela continua procedente.

Aguardemos, todavia, as pesquisas que estão sendo feitas pelo LHC do CERN (o mais moderno acelerador de partículas) a fim de analisarmos com procedência os seus resultados. Assim, quem sabe, numa próxima etapa será possível analisar o conceito universal da formação sideral a partir do que os observatórios astrofísicos tiverem detectado, para apresentar os eventuais contrastes existentes com a ideia atômica do “bóson divino”.

 

Notas do Autor:

CERN – Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear).

LEP – Large Electron-Positron Collider (Grande Colisor de Elétrons e Pósitrons. Colisor é um acelerador de partículas).

LHC – Large Hadron Collider (Grande Colisor de Hádrons).

 

Imagem de NVD por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “Deus e o bóson de Higgs, por Carlos de Brito Imbassahy

  1. Muito interessante o artigo do Prof. Imbassahy! Higgs teve frustrada sua intenção de transformar seu bóson na “partícula de Deus”, que, hoje, se sabe não é a única a comandar a estruturação da matéria – MATÉRIA -, ainda sem pistas da “partícula” espiritual.

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