Desigualdade e Lei de Igualdade, por Maria Cristina Rivé

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Por Maria Cristina Rivé

A história do Planeta e a história das mulheres se confundem. Pensar história de vida é também pensar história de morte. Conta-se que Deus teria criado o homem à sua imagem e à sua semelhança, para não deixá-lo sofrer as agruras da solidão, de sua costela, fez a mulher, a fim de que lhe servisse de companheira. Se fora verdadeiro esse mito, poderia se dizer que a misoginia – horror ao feminino – aqui teve seu início.

Em uma sociedade masculina, onde se desvaloriza o feminino, suas lutas, seus anseios, seus conflitos, o mote parir com dor não é simplesmente uma metáfora alarmante; é, sobretudo, um sinal de alerta. É o evidente sinal de que a mulher foi silenciada e estigmatizada como seres a desfilar com o desprezo daqueles com os quais deveriam caminhar, mas que se arvoram em detentores de condições mais elevadas de atuar na sociedade. Ao citar Simone de Beauvoir, filósofa francesa:

“Não se nasce mulher, torna-se mulher”, procura-se aprender, dentro de uma sociedade de homens, tornar-se mulher, ou seja, abrir o caminho a cada dia, a cada palavra, a fim de ratificar a contribuição feminina para o desenvolvimento da estrutura social em que se vive. Abrir espaço, em especial, nos seres ora em corpos femininos, mostrar o quanto se tem a construir nesta sociedade excludente e arrogante.

A história do ser humano, contada sob a ótica masculina, leva a crer que a mulher teve papel secundário no desenvolvimento humano. Parece que não possuiu, nem construiu o plano em que está como se silenciadas e sem memória dentro de uma estrutura fundada para que o homem se sobressaia, mesmo que a custa da subjugação do suposto “sexo frágil”.

Seriam as contribuições femininas irrelevantes? Marie Curie, Nobel de Física e de Química, com uma vida em um laboratório junto a sua família não desempenhou o suficiente? Joana D’Arc e suas vozes libertadoras da nação francesa não prepararam o caminho para a mudança necessária à chegada da Luz que transformará o Planeta? Patrícia Galvão, poeta e ativista política, primeira mulher, aos quinze anos, presa política do Brasil, não lutou o suficiente para iniciar a participação da mulher no cenário político-social, demonstrando, inclusive, a força da poesia modernista? Leila Diniz e sua linda barriga a desfilar pelas praias cariocas a mostrar a vida que corre e passa pelo feminino. Olga Benário exilada por defender suas convicções não viveu a força feminina no cenário mundial?

E o que falar então de todas as demais mulheres, as quais deixaram em cada ser a impressão do trabalho que o Criador lhes confiou? Esse segundo sexo camuflado nesta sociedade hostil, a qual define o que deve ser o feminino e como deve se portar e em quais áreas pode ser reconhecida?

Michelle Perrot, filósofa francesa afirmou em seu aforismo: “no teatro da vida as mulheres são uma leve sombra”.

Por quê? Se a força do homem é visível no seu corpo estruturado para tal, na mulher não é diferente. Ela conduz, se aprimora, desconstrói mitos instalados nos primórdios da civilização. É a gana da mulher que impele suas crias ao Bem e à construção de uma estrutura social mais dinâmica e mais inclusiva. A vocação natural da mulher é o seu desenvolvimento psíquico e moral, não é, tão somente, a maternidade ou a família de acordo com o que acreditam ser o “normal e o certo”. Além, muito além, a vocação feminina está junto daquelas e daqueles que lhe compartilham o espaço, trabalham e confrontam o status quo, a fim de transformar o preconceito em conceitos renovados onde o certo e o errado não têm lugar.

Para isso, é necessário entender a construção dos mitos que ajudaram a subjugação feminina e não temer, mas enfrentar, levantar e se comportar para tal: abrir espaços, não aceitar a inferioridade como algo natural. Não! É preciso levantar a voz feminina para destronar o androcentrismo a angustiar e a sufocar as criaturas. Numa sociedade repleta de muros a separar indivíduos, a mutilar esperanças, a instalar a competição ao invés de a cooperação, não se quer mais ouvir as vozes sofridas e o sangue jorrado por mulheres que não se deixaram calar. Porque delas, de seus corpos foi construído o mundo. É aí que se tem a história de morte para se ter a vida.

Mundo ainda hostil, todavia através dos atos, das vozes, do esforço de seres que ao compreenderem a caminhada espiritual a ser vencida, construirão o mundo melhor, tão almejado por todos. Mundo esse que trará a plenitude do Espírito, o qual não é mulher, mas também não é homem. É o princípio inteligente do Universo. Metaforicamente são os braços Divinos a trabalhar e a estruturar uma sociedade justa, alegre em que todos temos a condição de viver como o que somos verdadeiramente: IRMÃOS.

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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