Da ação dos Espíritos sobre a matéria, por Carlos A. P. Parchen

Tempo de leitura: 6 minutos

Através da vontade ou pensamento, o espírito pode provocar mudanças ou alterações na própria essência da matéria sobre a qual vai agir, provocando ações que podem ser meramente físicas (fenômenos de efeito físico – manifestações físicas) ou que demonstrem um resultado inteligente (fenômenos de efeito inteligente – manifestações inteligentes).

O espírito pode estar desencarnado (ou na erraticidade), ou seja, no plano espiritual, sem um corpo material, ou encarnado, constituindo o que se chama de complexo humano. Em qualquer das possibilidades, existe um elemento comum, presente sempre junto ao espírito: o perispírito.

O perispírito é o “corpo” do espírito, é o que lhe dá limites e interação com a natureza. O perispírito é constituído de uma matéria muito sutil, fluídica, energética, que poderíamos denominar mesmo de uma “semimatéria”, que tem a função de permitir ao espírito interagir com os elementos na natureza, agindo sobre essa e recebendo as ações dela.

Devemos lembrar que a natureza, criação Divina, foi criada a partir do Princípio Material, que junto com o Princípio Inteligente e o próprio Deus, constituem-se nos elementos básicos de todo o Universo. Assim sendo, tudo no universo que não for Deus ou oriundo do Princípio Inteligente (como por exemplo o espírito), é derivado do princípio material, e isso inclui o “plano espiritual”, que assim como o “plano material”, que possuem um elemento gerador único, ou seja, derivam do mesmo princípio, constituindo o que chamamos simplesmente de “natureza” ou “criação”.
Os dois planos (material e espiritual), portanto, têm um elemento gerador comum, estando, no entanto, em “vibrações” (ou planos vibratórios) diferentes, o que estabelece para cada um deles, “leis físicas” diferentes, específicas daquele plano.

Isso é colocado para lembrar que o perispírito, portanto, tem a “propriedade ou capacidade” de pertencer e transitar simultaneamente ou concomitantemente no plano espiritual e no plano material, e só por isso ele pode também ser o intermediário entre o espírito e o corpo físico, quando o espírito está encarnado, ligando-se intimamente ao espírito e a organização física (corpo físico), servindo de ponte ou intermediário eficaz dos dois planos. Quando encarnado, o perispírito permite ao espírito agir sobre o próprio corpo físico, traduzindo e expressando a vontade e a inteligência do espírito para todas as células orgânicas do corpo material.

Este ponto merece ser destacado, pois as características específicas do perispírito devem ter flexibilidade tal que lhe permitam atuar sobre diferentes elementos “físicos” da natureza, quer estes pertençam ao plano espiritual, quer ao plano material quando o espírito esta encarnado. O perispírito é para o Espírito, o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação.

A matéria sutil do perispírito não possui as limitações e a rigidez da matéria compacta do corpo, sendo muito sutil, maleável, flexível e expansível, ajustando-se aos impulsos do pensamento e da vontade do espírito, especialmente quando este está desencarnado, “….donde resulta que a forma que toma, conquanto decalcada na do corpo, não é absoluta, amolga-se à vontade do Espírito, que lhe pode dar a aparência que entenda, ao passo que o invólucro sólido lhe oferece invencível resistência”.

E prossegue: “Livre desse obstáculo que o comprimia, o perispírito se dilata ou contrai, se transforma: presta-se, numa palavra, a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua. Por efeito dessa propriedade do seu envoltório fluídico, é que o Espírito que quer dar-se a conhecer pode, em sendo necessário, tomar a aparência exata que tinha quando vivo, até mesmo com os acidentes corporais que possam constituir sinais para o reconhecerem…”

O perispírito é formado automaticamente pelo espírito, com a utilização do Fluido Cósmico Universal – FCU, e com os fluidos, energias e vibrações do ambiente em que vive ou está o espírito. Quanto mais evoluído é o espírito, mais sutilizado, menos materializado é o seu perispírito. O contrário também é verdadeiro, ou seja, quanto mais “atrasado” for o espírito, mais “materializado” é o seu perispírito. As próprias energias e vibrações do ambiente determinam também características específicas para o perispírito. Podemos comparar que o espírito “veste uma roupagem” adequada ao “clima espiritual” em que está, assim como nós, no nosso dia-a-dia, vestimos roupas adequadas ao clima e ocasião em que estamos.

Um outro ponto a ser destacado é que o Fluido Cósmico Universal, constituinte elementar do perispírito, é também o constituinte elementar de toda a matéria, e que está presente em todo o universo, sendo o FCU muito maleável, flexível, amoldável e sujeito a impulsão do pensamento e da vontade. Esse fato é muito importante, pois estabelece um elemento comum sobre o qual o espírito pode agir, e que faz parte, simultaneamente, da matéria, do perispírito e está disponível de forma abundante em todo o universo.

O espírito não é um ser abstrato da criação, bem como o plano espiritual, que apresenta uma realidade palpável. Pelo perispírito, o espírito tem ação efetiva sobre a natureza, na vida de relação para a qual foi criado por Deus, para evoluir e ajudar na evolução da própria natureza.

O que acontece é que existem leis “físicas” que regem as relações e interações no plano espiritual, bem como leis “físicas” que funcionam na “interligação” ou “interpenetração” do plano espiritual com o plano material, leis estas que muitas vezes não compreendemos ainda, mas que com o evoluir da ciência e do conhecimento humano, vão se estabelecendo e sendo entendidas.
“.…O Espírito precisa, pois, de matéria, para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua ação o perispírito, como o homem tem o corpo. Ora, o perispírito é matéria, conforme acabamos de ver. Depois, serve-lhe também de agente intermediário o Fluido Cósmico Universal, espécie de veículo sobre que ele atua, como nós atuamos sobre o ar, para obter determinados efeitos, por meio da dilatação, da compressão, da propulsão, ou das vibrações”.

E mais: “Considerada deste modo, facilmente se concebe a ação do Espírito sobre a matéria. Compreende-se, desde então, que todos os efeitos que daí resultam cabem na ordem dos fatos naturais e nada têm de maravilhosos. Só pareceram sobrenaturais, porque se lhes não conhecia a causa. Conhecida esta, desaparece o maravilhoso e essa causa se inclui toda nas propriedades semimateriais do perispírito”.

Os espíritos desencarnados podem agir, portanto, sobre a matéria, através da combinação de elementos de seu perispírito com outros elementos da natureza. Mas necessitaria então o espírito do concurso de um médium (encarnado) para poder agir sobre a matéria no plano material?

Vejamos a resposta de São Luiz a essas questão, quando interrogado sobre os fenômenos da mesas girantes: “VIII. Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?”. Resposta: “Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite”.

Adiante: “XIV. Que papel desempenha o médium nesse fenômeno?”. Resposta: “Já eu disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal que o Espírito acumula. E necessária a união desses dois fluidos, isto é, do fluido animalizado e do fluido universal para dar vida à mesa. Mas, nota bem que essa vida é apenas momentânea, que se extingue com a ação e, às vezes, antes que esta termine, logo que a quantidade de fluido deixa de ser bastante para a animar.

Pode atuar à revelia do médium. Quer isto dizer que muitas pessoas, sem que o suspeitem, servem de auxiliares aos Espíritos. Delas haurem os Espíritos, como de uma fonte, o fluido animalizado de que necessitem. Assim é que o concurso de um médium, tal como o entendeis, nem sempre é preciso, o que se verifica principalmente nos fenômenos espontâneos”.

Pode-se deduzir que as energias, fluidos e vibrações emitidos pelo médium e fornecidos pelo seu perispírito, são fundamentais para que um espírito desencarnado possa agir sobre a matéria. Isso se deve ao fato que o perispírito do médium estar mais próximo, ser mais semelhante ou afinizado com a matéria, pelo ambiente em que vive, especialmente o do próprio “corpo físico”. Daí sua “energias” serem mais adequadas para serem “manipuladas” para se obter uma ação sobre a matéria.

As energias e os elementos do perispírito do médium, são sempre necessários para que um espírito desencarnado possa agir sobre a matéria, embora a presença e/ou a consciência do médium sobre tal fato não é condição indispensável, ou seja, os fenômenos podem ocorrer até a revelia do médium.

A ação de um espírito sobre a matéria ocorre, portanto, quando o espírito combina elementos de seu perispírito, com elementos do perispírito de um encarnado (médium), combinando ainda com elementos do FCU, e impulsiona essa combinação com a sua vontade ou pensamento. Através da vontade ou pensamento, o espírito pode provocar mudanças ou alterações na própria essência da matéria sobre a qual vai agir, provocando ações que podem ser meramente físicas (fenômenos de efeito físico – manifestações físicas) ou que demonstrem um resultado inteligente (fenômenos de efeito inteligente – manifestações inteligentes).

Isso nada tem de sobrenatural. Apesar dessa combinação de energias e fluidos ainda não ser perceptível para nossos olhos ou instrumentação, temos paralelos na natureza que demonstram como “forças” ou energias aparentemente “invisíveis” provocam efeitos fantásticos. Hoje por exemplo temos a levitação de corpos de grandes dimensões, como trens, através de campos eletromagnéticos criados por supercondutores. Ao se aproximar uma lâmpada fluorescente, sem nenhum fio ligado a ela, de uma forte fonte de emissão de energia eletromagnética, tal como a antena de uma emissora de televisão ou uma torre de transmissão de energia elétrica em alta tensão, a lâmpada acende, emite luz, sem que, aparentemente, nenhuma “força” esteja agindo sobre ela.
Temos o caso de muitos elementos que, conforme a sua organização, apesar de constituídos do mesmo átomo, apresentam características diferentes, o que é o caso do grafite, do diamante, do carvão e da fibra de carbono, que embora constituídos de um único elemento químico (Carbono – C), apresentam características e propriedades completamente diferentes. Por que não aceitar que existam então que existam outras propriedades que ainda desconhecemos na natureza?

Nota do Editor: Vide “O livro dos Médiuns”, fonte de onde os trechos entre aspas foram, pelo autor, compilados.

* Artigo publicado na Revista Espírita Harmonia, como compilação de um roteiro para palestra apresentado pelo autor.

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