Aristides Coelho Neto
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Papai Noel ser convocado para depor fez tremer as bases do grupo internacional de papais noéis no whatsapp. E o elfo pego com a boca na botija deixou as pessoas indignadas. “Queremos um Natal de verdade!”, o povo gritou.
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Um novo vazamento das investigações sigilosas e delações premiadas envolvendo elfos e criadores de renas caiu como uma bomba em Papai Noel e seus simpatizantes. Ser levado para depor em pleno dezembro, época de Natal, então, Um novo vazamento das investigações sigilosas e delações premiadas envolvendo elfos e criadores de renas caiu como uma bomba em Papai Noel e seus simpatizantes. Ser levado para depor em pleno dezembro, época de Natal, então, nem se fala. Se ele produz seus próprios brinquedos — aliás, com vultosos incentivos do governo —, como explicar aquela quantia de dinheiro vivo no saco preto?
A queda de popularidade do bom velhinho está mais que evidente no Brasil. Pior mesmo só a taxa de aceitação da anistia ampla e restrita. Os que mais têm estado atentos à situação crítica do Papai Noel brasileiro são “Santa Clauss” (EUA), “Father Christmas” (Inglaterra), “Weihnachtsmann” (Alemanha) e “Sinterklaas” (Holanda). Mas “Ded Moroz” (Rússia), “Viejito Pascuero” (Chile), “Babbo Natale” (Itália), “Joulupukki” (Finlândia) e ‘Julemanden” (Dinamarca) também já se manifestaram preocupados lá no grupo de “whatsapp’. Da mesma forma, “Père Noël” (França), “Jultomte” (Suécia), “Santa Kurosu” (Japão), “Kerstman” (Países Baixos) e “Pai Natal” (Portugal). O poderoso “Santa Clauss”, ontem, em rede nacional, fez um ligeiro apanhado da situação aos novatos do grupo. O que “Santa Clauss” disse, por sinal, não teve nada a ver com o discurso de Trump, também presente, que enveredou por ameaças à Venezuela.
A grande questão é no que as delações premiadas dos dois elfos — usados como laranjas no recebimento de propina — poderiam acarretar para a equipe como um todo. Ora, respingos são inevitáveis. Quem sempre ficou mais retraído e cauteloso foi São Nicolau de Mira (antiga Lícia, hoje Turquia). O grupo tem se preocupado sobremaneira com a situação, cada um com sua ênfase. E, lá de seus rincões, muitos têm mandado vídeos e áudios que, direta e às vezes subliminarmente, deveriam fazer com que o Papai Noel brasileiro repensasse a sua postura. Esses alertas acontecem desde 1930, quando a Coca-Cola deu uns retoques na imagem do velhinho gorducho.
Na mesma hora em que a Polícia Federal confiscava o computador do Noel tupiniquim, pelo menos cinco participantes do grupo de whatsapp caíram fora sem nem explicar por quê. Mas a gente sabe. É que as notícias hoje em dia correm rápido. São mais velozes que qualquer trenó. Não bastasse isso, veio o rótulo ideológico. E houve quem dissesse — Papai Noel é de direita mesmo! Veste-se de vermelho, parece comunista, mas os melhores presentes são para a classe média e rica, e pra quem não precisa.
Longe de emitir juízos de valor, sabe-se que o grupo de bons velhinhos não tem muito a ver com santidade. Santo oficial mesmo só São Nicolau. Por incrível que pareça, ele é hoje o menos popular dentre todos, a não ser na Rússia. A Longe de emitir juízos de valor, sabe-se que o grupo de bons velhinhos não tem muito a ver com santidade. Santo oficial mesmo só São Nicolau. Por incrível que pareça, ele é hoje o menos popular entre todos, a não ser na Rússia. A santificação, aliás, de São Nicolau tem sofrido críticas da parte de personagens expressivos do Ministério Público e de vários teólogos — diz-se que as ações do bispo Nicolau no bem não teriam sido suficientes para a beatificação. E se hoje nem São Nicolau consegue imprimir justeza e igualdade na distribuição de presentes, algo está errado!
Mas voltemos às sucessivas derrotas de Papai Noel verde-amarelo. A capacidade seletiva total e descaradamente parcial de Papai Noel, convenhamos, tem assustado até os mais incautos. Mais de 20 milhões de pessoas têm algum nível de insegurança alimentar no Brasil. Esse número de brasileiros simplesmente banidos das intenções do velhinho de barbas brancas parece alarmante. Mas, pasmem, na África são 300 milhões que nem ligam para presente — querem mesmo é saber o que vão comer amanhã. Passar fome em época de conquistas espaciais e de fomento cada vez maior às guerras não é justo — é vergonhoso!
Chocante foi Noel ter sido visto em Monte Carlo numa Mercedes limusine, e saindo de um restaurante dos mais caros e renomados, enquanto se falava em arrocho e em falta de verba para consertar o trenó e para a compra de presentes a serem distribuídos à criançada. A imagem do elfo da maior confiança de Noel recebendo propina entornou o caldo de vez.
Vocês se lembram da grande investida do comércio para tirar Papai Noel do cenário natalino… Deu no que deu, todos sabem. Apresentar Jesus como figura máxima de dezembro, em contrapartida, só fez caírem as vendas. E os Vocês se lembram da grande investida do comércio para tirar Papai Noel do cenário natalino… Deu no que deu, todos sabem. Apresentar Jesus como figura máxima de dezembro, em contrapartida, só fez caírem as vendas. E os especialistas bradaram — “erro de marketing”. Foi assim que o total desapego às coisas materiais — proposta bem conhecida de Jesus, o Divino Mestre, o nosso Aniversariante Sublime — quase liquidou com o comércio. Nem o slogan “Dê a quem nunca teve” serviu para alavancar qualquer tipo de venda. Um problemaço para a indústria de sonhos, o mundo dos negócios, para o comércio. E mais — o que fazer com dezenas de milhares de sósias de Papai Noel, gordos, magros, imberbes, espalhados e empalhados, que grassam por aí? Seria desemprego na certa.
Foi aí que o mundo comercial fez a clara opção pelo lucro. Que voltasse o Papai Noel, mesmo sem popularidade, mesmo ficha dúbia, para salvar os comerciantes da falência e do desemprego. E Papai Noel sentou-se à mesa. Negociata pura. O dinheiro falou mais alto.
Mas as tentativas de trazer Papai Noel de volta às campanhas de fim de ano esbarram agora nos sucessivos golpes que o “bom velhinho” sofre no Ministério Público, na Justiça, na mídia, na ala cristã progressista, inspirada no padre Júlio Lancelotti e no Papa Francisco, revolucionários do Bem.
Sem o resultado final das investigações, paira imprecisão sobre a idoneidade do Papai Noel. E nessa hora a força do exemplo de Jesus de Nazaré aflora, sobressai como sempre nesta época, lição muitas vezes esquecida de janeiro em diante.
Nesse vendaval, com quem a gente fica? Jesus ou Papai Noel? Assim como a constatação de que dois mais dois são quatro, e de que renas não voam, eu particularmente não tenho qualquer sombra de dúvida! Jesus é único. Papai Noel são muitos. E, sinceramente falando, querem saber mais? O Papai Noel nunca, nunca me enganou.




