Michael: preciso, inclusive post mortem!, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 9 minutos

Marcelo Henrique

Imagem da capa: MJ fanmade AI.

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“Palestina, lá do fundo do meu coração, eu sempre te amarei”, 

Michael Jackson.

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Imagem: Iva Balk – Pixabay.

Identidade

Seguramente um dos maiores artistas da música internacional de todos os tempos, Michael Joseph Jackson (1958-2009) é um personagem que nunca passou despercebido. Recebeu, nesta trajetória, 372 prêmios e figura como o músico que mais vendeu discos (aproximadamente 380 milhões de cópias), tendo o single “Thriller” como o mais bem-sucedido em vendagem na história (110 milhões de cópias).

Alcunhado pela grande Elizabeth (Liz) Taylor como o “Rei do Pop”, Michael Jackson ao lado da indiscutível e infindável (ainda que a morte física o tenha levado, ainda cedo, do planeta) carreira de compositor e músico, também foi um destacado crítico social e sempre esteve engajado em movimentos sociais.

Nesta semana, em meio aos horrores de mais uma guerra – mais uma! –, no sempre tenso território do Oriente Médio, nas redes sociais foi resgatada uma de suas composições (ou, pelo menos, há um poema manuscrito contendo a letra – veja imagem). Nela, uma mensagem dirigida ao povo palestino, chama a atenção pela sensibilidade nos versos.

Foto: Reddit.

A letra

O poema jacksoniano é um libelo contra a violência, assim como um brado de solidariedade em relação aos milhões de inocentes que têm morrido em bombardeios de áreas civis, além dos militares e dos homens entrincheirados. Os versos enquadram a luta (milenar) do povo palestino e as dores decorrentes da (infinita) violência naquela região.

É possível encontrar, nas redes, referências ao manuscrito acima, que teria sido leiloado entre 2010 e 2015, mas sem precisar a data.

Vejamos a letra em inglês e a nossa versão:

[Verse 1]

See the plains

Of the days of old

Just a century ago

When stories of peace were told

Of how Gallilie (sic.) ran through

The Jordan river

[Pre-Chorus]

What remains are cold

Tales of war

Of the death and dying

Bomb shells are flying

Bodies multiplying

See the children crying

What are they fighting for?

[Chorus]

I will pray for you

Oh, Palestine

Oh, Palestine

I will carry you, oh

Palestine, Palestine

[Verse 2]

Palestine

Come deep in

My heart

I’ll always love you

[Pre-Chorus]

Palestine, don’t cry

I will pray for you

Oh, Palestine. Oh, Palestine

Oh, Palestine

God’s a place for you

Oh, Palestine

And, I believe in you, Oh

Palestine, I will die for you

[Chorus]

I will pray for you

Oh, Palestine

Oh, Palestine

I will carry you, oh

Palestine, Palestine

[Verso 1]

Veja as planícies

Dos dias antigos

Há apenas um século

Quando histórias de paz eram contadas

De como a Galileia (sic.) atravessou

O rio Jordão

[Pré-Refrão]

O que resta é frio

Contos de guerra

Da morte e do morrer

Bombas voam

Corpos se multiplicam

Veja as crianças chorando

Pelo que elas estão lutando?

[Refrão]

Eu rezarei por você

Oh, Palestina

Oh, Palestina

Eu te carregarei, oh

Palestina, Palestina

[Verso 2]

Palestina

Lá do fundo do

Meu coração

Eu sempre te amarei

[Pré-Refrão]

Palestina, não chore

Eu rezarei por você

Oh, Palestina. Oh, Palestina

Oh, Palestina

Deus tem um lugar para você

Oh, Palestina

E eu acredito em você, oh

Palestina, eu morrerei por você

[Refrão]

Eu rezarei por você

Oh, Palestina

Oh, Palestina

Eu te carregarei, oh

Palestina, Palestina

A trajetória

Michael sempre militou em causas sociais. Há que se lembrar a iniciativa capitaneada por ele e Lionel Richie que resultou no projeto “USA for Africa” (1985), com a canção inclusa em um LP compacto, “We are the world”, que, seguramente, em letra e melodia – algumas frases e acordes – ecoam nos ouvidos dos Espíritos que possuem sensibilidade e, acima de tudo, empatia em relação às dores do próximo. Como nós!

Vale resgatar um trecho da letra:

“As pessoas estão morrendo / E é tempo de estender a mão para a vida: / O maior presente de todos

[…]

Nós somos o mundo, nós somos as crianças / Aqueles que fazem o dia ser mais brilhante / Então, vamos começar a (nos) doar / É a escolha que estamos fazendo”.

Foto: Disco GS.

A iniciativa resultou na arrecadação de mais de 100 milhões de dólares que foram destinados a causas humanitárias, como os efeitos da fome na Etiópia: 50 milhões resultaram das gravações do vídeo clipe e de merchandising e 63 milhões da venda de 20 milhões de cópias do compacto, nas duas versões, também destinados às ações assistenciais. A iniciativa prossegue, de forma virtual, podendo donativos serem feitos pela homepage “Usa for Africa” (2025b).

Em 2010, capitaneado apenas por Lionel Richie (já que Michael já tinha morrido), a iniciativa foi repetida, sob a forma de “We are the world 25 for Haiti”, para comemorar os 25 anos de sucesso da primeira e, agora, destinando os recursos para a recuperação do Haiti, após um violento terremoto naquele ano.

Por que a música não foi gravada?

Informações extraoficiais dão conta de que a poesia (e sua musicalização em estúdio, com arranjos de instrumentos e vozes) foi composta em 1993, recebendo o título “Palestine, Don’t Cry”. mas ela nunca foi lançada oficialmente. Michael pretendia que ela fosse inclusa no álbum “HIStory: Past, Present and Future, Book I”, de 1995. Todavia, a canção não foi selecionada.

Era um período em que Jackson demonstrava enorme interesse pela causa palestina, pretendendo que a música pudesse sensibilizar governantes e a opinião pública. No entanto, há indícios de que a gravadora, Sony Music, não desejava ver sua produção envolta em questões políticas e ideológicas, tendo vetado a sua comercialização.

Foto: Spotfy.

Um dos possíveis indícios desse interesse, da autoria de uma composição específica e do desejo de Michael estar engajado à causa palestina aparece no álbum “Invincible” (2001), na canção “Cry”. Nesta, há o seguinte trecho: “Histórias enterradas e não contadas / Alguém está escondendo a verdade (aguente firme) / Quando este mistério se desvendará / E o sol brilhará / Nos olhos de um homem cego quando ele chorar”. E ele conclui: “Mostre o Mundo. […] Mude o Mundo”, numa clara alusão ao necessário envolvimento de mulheres e homens sensíveis com a causa, evitando-se os horrores das guerras.

Depois, algumas versões não oficiais da composição até circularam em ambientes músico-culturais, e caiu no esquecimento. É possível encontrar algumas gravações, em áudio e/ou vídeo, inclusive com o auxílio de recursos da Inteligência Artificial (IA), como a que apresentamos em nosso Drive (Palestine Don’t Cry.mp4 – Google Drive).

 

Imagem: Arte Evandro Oliva – ECK.

O uso da IA

Temos adotado em nosso Portal, como Política Editorial, a análise dos experimentos envolvendo a Inteligência Artificial (IA), estando eles correlacionados (ou não) a atividades espíritas.

É importante frisar que as ferramentas tecnológicas devem ser instrumentos que conduzam o ser ao seu aperfeiçoamento, aproveitando os recursos para informar, educar, alegrar, entreter e fazer pensar. Daí a necessidade inafastável da ética a permear os passos daqueles que enveredam pelo uso sistemático da tecnologia.

Não sabemos, ao certo, se toda a história contada neste ensaio é verídica. Ela parte da existência de manuscritos atribuídos ao “Rei do Pop” e, depois, à repetição de situações que podem ou não ser verossímeis. Se aconteceram como consta das fontes que consultamos, exatamente como estão descritas, ou não, não sabemos. Mas é importante cogitar dos fins buscados com a atual divulgação (e resgate) deste material.

No âmbito específico da IA, a execução da música permite divisar aquilo que Michael realmente teria feito com a poesia. Isto é, tanto a voz, os arranjos e a construção poética na musicalização “lembram bastante” o compositor americano e com base em nossa formação musical e experiência, podemos dizer que Jackson assinaria o resultado final.

Concluímos o artigo com uma recomendação e uma afirmação conclusiva. A recomendação é a de, seguindo Erasto, não nos guiarmos por uma só mentira, a partir do momento em que tivermos a ciência em relação à sua autenticidade ou veracidade. Na ausência disto, permitimo-nos ponderar acerca do mesmo (como fizemos logo acima), recomendando a todos que façam o mesmo em relação a toda e qualquer informação que acessem. A afirmação conclusiva é a de que este ensaio permanecerá “intocado” e “definitivo”, por ora. Contudo, se algum elemento factual ou prova inconteste afastar totalmente a autoria do documento original (o manuscrito com a letra), se isto ocorrer, estaremos editando este material, acrescendo o que for revelado/demonstrado. Isto em honra à ética jornalística de nosso Portal e do Coletivo ECK.

Que a música siga sendo a forma mais eficaz de união e congraçamento entre pessoas e povos! E viva Michael Jackson!


Alguns Dados Biográficos de Michael Jackson

Michael Jackson nasceu em Indiana, Estados Unidos, em 29 de agosto de 1958, sendo filho de Joseph “Joe” Walter Jackson e Katherine Scruse Jackson, sendo o sétimo de nove irmãos. Ele e quatro deles formaram o quinteto “Jackson Brothers” (depois, definitivamente, “The Jackson Five”), com Jackie, Tito, Jermaine, Marlon, quando tinha o nome artístico de “Little Jackson”, por ser o mais novo. Sua primeira aparição pública foi em 1964. Em 1966, já era o vocalista e dançarino principal do conjunto, assinando contrato com a gravadora “Motown Records” e, em 1969, “estourou” nas “paradas” o seu primeiro sucesso “I want you back”, logo seguida, em 1970, por “I’ll be there” e “ABC”.

Foto: Reprodução da assinatura de Michael Jackson (janeb13 – Pixabay).

 

Sua biografia autorizada é uma autobiografia (“Moonwalk”), de 1988, lançado no Brasil em 2022, no dia que seria o aniversário do artista. Nesta, o próprio Michael explica o motivo de escrever: 

“Eu sempre quis ser capaz de contar histórias; histórias que viessem de minha alma. Gostaria de me sentar ao pé de uma lareira e contar histórias às pessoas; mostrar-lhes imagens, fazer com que chorassem e rissem, levá-las a qualquer lugar emocionalmente com algo de uma simplicidade tão enganosa como as palavras. Gostaria de contar histórias que comovessem suas almas e as transformassem. Sempre quis ser capaz de fazer isso. Imaginem como os grandes escritores devem se sentir, sabendo que possuem esse poder. Às vezes sinto que poderia fazer isso. É algo que gostaria de desenvolver”. 

Imagem: Janeb13 – Pixabay.

E ele prossegue, fundindo o homem no personagem, o Espírito no artista, e vice-versa:

“De certa forma, escrever canções utiliza as mesmas capacidades, cria os altos e baixos emocionais, mas a história é um esboço. É como o mercúrio. Existem poucos livros sobre a arte de contar histórias; como agarrar o leitor, como manter unido um grupo de pessoas e diverti-las. Sem figurino, sem maquiagem, sem nada; só você, sua voz e sua capacidade poderosa de transportá-las para qualquer lugar, de transformar suas vidas, ainda que por apenas alguns minutos”.

“Moonwalk” (que poderia ser livremente traduzido como “caminhando na lua”, aliás, é a definição dos movimentos que o artista eternizou em suas coreografias – um “movimento deslizante” considerado “como um dos maiores passos de dança de todos os tempos”. Jackson não “inventou” o movimento, mas ele o aperfeiçoou colocando “o passo em prática com precisão”, como destacou a escritora Shanna Freeman (Barreiros, 2021).


Fontes:

Barreiros, I. No dia mundial da dança, entenda a origem do Moon Walk de Michael Jackson. Aventuras na História. Matérias. Música. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/no-dia-mundial-da-danca-entenda-como-michael-jackson-aprendeu-o-moonwalk.phtml>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Facebook. Bere Costa (Berenice). Reels. Disponível em: <https://www.facebook.com/reel/745625771474687>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Fandom. Michael Jackson. Wiki. The King of Pop Encyclopedia. Disponível em: <https://michael-jackson.fandom.com/wiki/Palestine,_Don%27t_Cry>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Martins, M. Michael Jackson: a fantástica (e polêmica) história do rei do pop. Mega Curioso. Disponível em: <https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/122894-michael-jackson-a-fantastica-e-polemica-historia-do-rei-do-pop.htm>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Michael Jackson. Cry. Letras. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/michael-jackson/87452/>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Michael Jackson. Site oficial do artista. The Moonwalk and its origin. Disponível em: <https://www.michaeljackson.com/news/the-moonwalk-and-its-origin/>. Acesso em 23. Jun. 2025.

MJ fanmade AI. Michael Jackson – Palestine, Don’t Cry (Unreleased Poem Brought to Life “Fanmade with AI”). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nrrFFj0Jo9w>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Novais, V. C. (2022). Moon Walk: autobiografia de Michael Jackson chega ao Brasil. Antena 1. Disponível em: <https://www.antena1.com.br/noticias/moon-walk-autobiografia-de-michael-jackson-chega-ao-brasil>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Reddit. (2021). Michael Jackson’s handwritten poem for Palestine. Palestine. Disponível em: <https://www.reddit.com/r/Palestine/comments/mkzgol/michael_jacksons_handwritten_poem_for_palestine/>. Acesso em 23. Jun. 2025.

USA for Africa. (2025a). We are the world. About Us. Disponível em: <https://usaforafrica.org/about-us/>. Acesso em 23. Jun. 2025.

USA for Africa. (2025b). United Support of Artists for Africa. Letras. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/usa-for-africa/41425/>. Acesso em 23. Jun. 2025.

We are the world. Dr. Charles Jirkovsky. (2021). YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zFStPLemFlc&list=RDzFStPLemFlc&start_radio=1>. Acesso em 23. Jun. 2025.

We Are the World 25 for Haiti – Singers Names. (2023). YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6bXMhYuHcAo&list=RD6bXMhYuHcAo&start_radio=1>. Acesso em 23. Jun. 2025.

We Are The World 25 For Haiti – Official Video (2010). Weartheworld. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Glny4jSciVI>. Acesso em 23. Jun. 2025.

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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