Mediunidade e Neurologia, por Nubor Orlando Facure

Tempo de leitura: 4 minutos

Automatismos motores

Caminho pela sala medindo com meus passos calculando qual a sua metragem. Esse é um caminhar voluntário onde faço todo trajeto usando meu córtex cerebral; ele é lento e cauteloso, escolhendo onde pisar.

Logo depois, encontro um amigo e vamos caminhando juntos pelo Shopping, falando das últimas notícias. Estamos andando e conversando automaticamente.
O que está ocorrendo no meu cérebro?

Com a participação do meu piloto automático, situado nos núcleos da base, caminho distraído, com certa pressa e sem me dar conta da distância que percorro: faço quase todo trajeto de modo inconsciente, sem me cansar.

No automatismo motor eu economizo energia, então, uso pouco a consciência, apenas ocasionalmente preciso fazer alguma correção de rumo ou velocidade.

Usamos o movimento automático para andar de bicicleta, dirigir o automóvel, tocar o piano, escrever um texto, vestir e abotoar a camisa.

Imaginemos, agora, que eu arrumei um emprego numa fábrica, onde tenho de lidar com uma máquina que constrói uma peça. Preciso, então, passar por um treinamento exaustivo para lidar com o maquinário. Depois de algum tempo meus movimentos estão completamente automatizados e tudo flui com facilidade.

Foi exatamente assim para que eu conseguisse aprender a dirigir meu primeiro fusquinha. Igualmente, antes, para aprender a usar o caderno de caligrafia no curso primário de antigamente.

O andar de bicicleta, de outro lado, mostra que os gestos automáticos se misturam com os gestos voluntários, que uso para imprimir mudanças imprevistas de direção. Isto significa que nossa movimentação transita pela consciência e o subconsciente. Pelo voluntário e pelo automático, a todo instante…

Automatismo psíquico

Algumas das nossas atividades psíquicas nos interessam nesse estudo: o pensamento, a atenção, a memória e a linguagem. Todos esses processos são atividades complexas que envolvem múltiplas áreas do cérebro para se expressarem, incluindo, a consciência e a atividade subconsciente, mostrando o quão automáticas podem ser essas funções.

A atenção

Agora, estou vendo um programa de televisão, atento ao cenário que é mostrado. De repente, minha esposa precisa me dar um recado. Automaticamente, eu divido a minha atenção entre ela e as ocorrências da TV.

Ou, então, estou numa festa, dividindo a conversa com vários amigos. Num instante, ouço alguém distante falar o meu nome. Minha atenção é, deste modo, imediatamente dirigida para esse foco: quero saber quem foi que me chamou.

A memória

Usamos continuamente uma memória que direciona nossas atividades: Onde tenho que ir? Com quem tenho que falar? O que vou comprar no supermercado?

Ela vai entrando e saindo, dando lugar às prioridades do momento.

Parece que esqueci algum item da compra do supermercado… Mas, ao passar pela prateleira do arroz, automaticamente, me lembrei do açúcar e da farinha que me foi recomendado comprar.

Fui até ao centro da cidade e, de repente, precisei sacar algum dinheiro no caixa automático. Ao ver a torre da igreja eu, automaticamente, lembrei-me que, ali perto, tem uma casa lotérica onde posso retirar algum trocado.
Então, com as pistas certas eu, automaticamente, posso resgatar coisas guardadas em minha memória.

Pensamento

Fui conversar com meu chefe e precisei usar de cautela com as palavras. Escolhi uma por uma, fazendo a melhor busca no dicionário.

Mas, numa festa de amigos, fui escalado para fazer o discurso de congratulações ao aniversariante. Meu discurso, assim, fluiu automaticamente lembrando de coisas, uma atrás da outra, resgatando nossas divertidas vivências.

A mesma coisa ocorre para escrever uma carta para um parente querido. As palavras fluem, automaticamente, sem grande esforço, porque o assunto é fácil e domino bem nossas histórias em comum.

Linguagem

Tanto a linguagem escrita como a falada podem ser rebuscadas. Posso, eu, ir escolhendo o que dizer, como, também, é possível deixar fluir os termos, automaticamente, criando uma mensagem mias amena e coloquial.

A mediunidade

Ao psicografar o médium toma da caneta e o papel. Inicia voluntariamente o texto e ao sofrer a contribuição do espírito comunicante, os termos passam a fluir rapidamente e o tema é desenvolvido com a participação mínima da consciência do médium. Na “incorporação”, o discurso tem as mesmas características.

O início é, deste modo, voluntário, mas se torna automático, rápido e particular conforme a atuação espiritual for se acentuando

Estou propondo, então, que esses dois fenômenos mediúnicos, a psicografia e a psicofonia, sejam fenômenos de automatismo psicomotor, com a participação de uma entidade espiritual desencarnada.

Conclusões

Sabemos que tanto a realidade, como a imaginação ocorrem em áreas superponíveis [1] no cérebro. Quando vejo um pássaro uso determinadas áreas do cérebro. Mas, se eu imaginar que estava vendo o mesmo pássaro, sem que ele esteja ao alcance da minha vista, uso exatamente as mesmas áreas cerebrais.

Quando estou correndo ou jogando bola, uso certas áreas motoras do cérebro. Mas, se eu me imaginar que estou correndo, jogando bola, irei usar essas mesmas áreas.

Posso pressupor, então, que, na escrita da psicografia e no discurso das psicofonias, usamos as mesmas áreas.

Fica, portanto, difícil, com os exames clínicos e laboratoriais da atualidade conseguirmos provar a participação de uma entidade espiritual estranha ao processo realizando a escrita e a fala.

Assim, o elemento que irá distinguir o discurso (falado ou escrito) de um encarnado em relação ao de uma entidade espiritual deve ser, por pressuposto, o conteúdo da mensagem, quando se está diante de uma ideia que difere do pensamento daquele médium.

Na neurofisiologia [2] da mediunidade contribuem alguns procedimentos: a sintonia, a sugestão, a assimilação, a aceitação, o condicionamento e o aprendizado.

“Desenvolver” a mediunidade nada mais é do que aprimorar os seus processos. Estes, em última análise, na linguagem neurológica, significam o estímulo ao aprendizado individual do ser encarnado, para que ele automatize seus procedimentos.

Notas do ECK:
[1] Superponíveis – as que estão acima; que se podem sobrepor.
[2] Neurofisiologia – ramo da fisiologia que estuda o funcionamento do sistema nervoso.

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One thought on “Mediunidade e Neurologia, por Nubor Orlando Facure

  1. Amei, me foi bem propício essa matéria pois estou estudando a Natureza das Comunicações e como nos diz Kardec, “a natureza das comunicações varia conforme o grau de elevação ou de inferioridade, de saber ou de ignorância do Espírito que se manifesta, e segundo a natureza do assunto que se trata.” E pelo que vi dentro desta abordagem a nossa máquina cerebral contribui com os procedimentos de sintonia, sugestão, assimilação, aceitação, condicionamento e aprendizagem e para tanto a importância do desenvolvimento desta percepção.

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