Com um atraso de 150 anos, por Milton Medran Moreira

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Milton Medran Moreira

Livres-pensadores que somos, temos o dever de tudo ler sem jamais dispensar a lupa da contextualização e as luzes do bom-senso e do compromisso com a atualização doutrinária e com o progresso das ideias

Com 150 anos de atraso, chegou ao Brasil o texto original de Allan Kardec de “A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”. Apropriada, pois, a metáfora utilizada por Simoni Privato, ao afirmar que aquela obra estava reencarnando, agora, entre nós.

A oportuna iniciativa da FEAL, depois de recentes pesquisas confirmando o que o advogado Júlio Nogueira classifica como uma induvidosa adulteração, nem por isso autoriza que nossos velhos exemplares contendo a tradução da obra com as modificações introduzidas em sua 5ª edição sejam jogados ao lixo. Antes pelo contrário, ela deve ser lida e relida sempre conjuntamente com aquela agora trazida a lume, comparando-se seus conteúdos.

Acréscimos, supressões e alterações introduzidos naquele 1872, três anos depois que Allan Kardec havia nos deixado, sem nenhuma justificativa expressa na edição, certamente escondem objetivos buscados por Pierre Gaëtan-Leymarie ou por quem tenha sido o responsável pela edição indevidamente revisada.

Os anos que se sucederam à desencarnação de Kardec foram difíceis para o nascente movimento espírita na França. Choques ideológicos provocados por tentativas de introdução de conceitos advindos da teosofia, do roustainguismo e de outras correntes de pensamento místico/religiosas, somados a interesses materiais, poderão, talvez, ser identificados no exame minucioso e comparativo entre as duas versões.

É trabalho de estudo e de pesquisa que exige, sem dúvida, a postura crítica reclamada por um dos oradores do evento de São Paulo. Com o mesmo espírito livre e crítico, o estudioso poderá também detectar conceitos presentes em ambas as versões que já não se coadunem com os parâmetros atuais da ciência.

Livres-pensadores que somos, temos o dever de tudo ler sem jamais dispensar a lupa da contextualização e as luzes do bom-senso e do compromisso com a atualização doutrinária e com o progresso das ideias.

Os espíritas do Século XXI têm o privilégio de viver um tempo muito rico, graças aos esforços de antigos e atuais companheiros devotados à construção conjunta de ideias que vão deixando para trás a fase do messianismo inconsequente, interesseiro e simplório.

Nota do ECK:
[A] Artigo originalmente publicado no jornal “CCEPA Opinião”, número 263, de junho de 2018 – ano em que a obra “A Gênese” estava completando 150 anos de seu lançamento.

Imagem de Eluj por Pixabay

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