Paulo Henrique de Figueiredo
Nas edições originais e restauradas de “A Gênese” e “O Céu e o Inferno”, recupera-se a ideia da autonomia do Espírito.
Depois dos fatos comprovados pelos documentos encontrados por Simoni Privato na Biblioteca e nos Arquivos Nacionais da França demonstrando que a obra “A Gênese” teve uma edição alterada após a morte do autor, professor Rivail, também o livro “O Céu e o Inferno” foi adulterado em sua quarta edição pelo mesmo motivo. O advogado e pesquisador Lucas Sampaio, numa pesquisa minuciosa em Paris, encontrou os documentos:
“Como minha primeira meta era buscar os registros da quarta edição de “O Céu e o Inferno”, entrei na sequência dos livros de depósito legal do ano de 1869. No primeiro deles, que chegava à data de desencarnação de Kardec (31 de março), nada encontrei. Decidi avançar. Era tanta coisa a ler, com meticulosa atenção, que decidi trabalhar sem a obrigação de ter sucesso em encontrar todos os documentos. Vi que o importante seria calma, desprendimento e concentração. Depois de seis horas, estava consultando o terceiro livro, número 124. Eles são numerados sequencialmente desde o número 1, de 1810, quando Napoleão instaurou a censura. Foi nesse livro, restando pouco mais de uma hora de trabalho desse primeiro dia, que encontrei o depósito legal n. 5.819, da quarta edição de “O Céu e o Inferno”, registrado em 19/7/1869, à página 117 do documento F/18(III)/124”.
O resultado dessa ampla pesquisa está relatado na obra “Nem Céu nem inferno – as leis da alma segundo o Espiritismo”, publicado pela editora FEAL. Quando a notícia de que a publicação da quarta edição não foi com Kardec em vida, a União espírita francesa e francófona e a Confederação Espírita Argentina, publicaram imediatamente a versão original da primeira edição da obra respectivamente em francês e em espanhol. A versão em inglês e português sairão nos próximos meses. O movimento espírita do mundo inteiro se mobilizou para restabelecer o conteúdo original.
Allan Kardec, em trechos retirados, mas agora recuperados depois de 150 anos, diferencia a moral espírita, baseada na lei natural, e a moral das religiões ancestrais:
“Na ausência de fatos apropriados para definir sua concepção acerca da vida futura, os homens deram curso à sua imaginação e criaram essa diversidade de sistemas de que compartilharam e que compartilham ainda as crenças. A doutrina das penas eternas está nesse número. Esta doutrina teve sua época; hoje ela é repelida pela razão. Que colocar em seu lugar?”
O Espiritismo vai deduzir a moral pelo método científico, afirma Kardec, por meio dos ensinamentos dos Espíritos Superiores como também pelo diálogo com milhares de Espíritos nas mais diversas situações da vida futura:
“As leis que daí decorrem são deduzidas apenas da concordância dessa imensidade de observações; esse é o caráter essencial e especial da doutrina espírita. Jamais um princípio geral é retirado de um fato isolado nem da afirmação de um único Espírito, nem do ensinamento dado a um único indivíduo, nem de uma opinião pessoal”.
Ou seja, baseados no senso comum, os dogmas foram criados imaginando-se um Deus vingativo, castigando os Espíritos por sofrimentos e privações tanto no mundo físico quanto no espiritual. Uma condenação eterna para os desobedientes!
O Espiritismo demonstra que todos os Espíritos são perfectíveis pelo seu próprio esforço, desde a primeira encarnação humana, simples e ignorante, sem livre arbítrio nem responsabilidade moral, que são conquistas graduais no esforço em milhares de vidas. Desse modo, quando compreende o que é o mal e o bem, surge a responsabilidade pelos atos. Quando o ato é de acordo com a consciência, o sentimento íntimo é de felicidade. Quando faz o mal, sente uma infelicidade, sofrimento moral que só acaba quando o Espírito supera, de forma consciente, séria e efetiva sua imperfeição, retornando sinceramente ao bem, explica Kardec em trechos recuperados da edição original.
Na vida futura, não há um local destinado a fazer sofrer o Espírito culpado, pois a infelicidade é um sentimento íntimo que o acompanha onde for. Já o Espírito que age no bem é feliz onde estiver. Tudo depende de nossas escolhas, e a felicidade é o destino inevitável de todas as criaturas. Esse Universo, reunindo mundo físico e espiritual, representa a esperança para a humanidade. Compreendendo essas leis naturais, podemos compreender nosso destino, e construir um caminho seguro para a paz no mundo. Já está escrito em nosso destino: seremos felizes, pela conquista de nosso esforço e mérito!
Nota do ECK:
[A] Artigo originalmente publicado no site do Teatro Espírita Leopoldo Machado (Telma).
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