A delícia de um país da diversidade, por Claudia Jerônimo e Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 3 minutos

Claudia Jerônimo e Marcelo Henrique

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“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”
(“Dom de iludir”, Caetano Veloso).
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Vinte e oito de junho já está consagrado como o “Dia do Orgulho Gay”. Para quem pesquisa, historicamente, a data se vincula a um dos mais marcantes episódios no contexto de lutas da comunidade gay pelos seus direitos: a Rebelião de “Stonewall Inn”. Era o ano de 1969, em Nova Iorque (EUA), num período de invasões de policiais em bares frequentados por homossexuais. Presas, as vítimas sofriam torturas e ameaças por parte das autoridades. Neste dia, então, 53 anos atrás, foi um dia de protestos em várias cidades norte-americanas.

Eis a dor. Dor que prossegue, pois em pleno terceiro milênio, as ameaças e as violências prosseguem. Elas iniciam, por vezes, em um olhar, passam pelo enredo de piadas ou comentários, segue no desprezo e no menosprezo e alcança, infelizmente, a violência física de que resultam danos corporais ou a morte de inúmeras pessoas, mundo afora, só pelo exercício de sua natureza, amorosidade e sexualidade.

Curioso é que não há qualquer justificativa para o combate a quem quer que seja, só por ser “diferente”. Na real diversidade humana temos uma das chaves para a existência do próprio mundo, um mundo que deva ser muito mais humano. O Direito à livre convicção e à livre expressão, por extensão da própria existência é inquestionavelmente consagrado na legislação da grande maioria das nações. É lei, é decisão da justiça, mas ainda precisa ser lembrada, reiterada e defendida.

Há alguns anos o grupo “Espiritismo COM Kardec” foi procurado pelos criadores desta Fanpage (“Rede Espírita contra a LGBTfobia”), com a proposta de assumirmos a gestão da mesma e a continuidade das publicações em favor do respeito à expressão LGBT. A expressão e identidade foi crescendo e, hoje, já é LGBTQQICAPF2K+, sendo divulgada de uma forma reduzida como LGBTQIA+. Questionados, certa feita, sobre o nome dado à página – que herdamos de seus fundadores e cuidamos com todo carinho – sobre ter a palavra “CONTRA” em seu título (pois, na concepção daquela pessoa, seria algo negativo), procuramos demonstrar que, na essência e na realidade, estamos ao lado de quem precisa ser ouvido, respeitado e amado.

Basta de intolerância! Basta de argumentos religiosos querendo impor o que e como o outro deva ser com a “justificativa” (na verdade, mera desculpa) de que “está na bíblia” que a homossexualidade é “pecado”. O que é “pecado”, senão a convenção de uma dada ideologia religiosa, inventada pelos próprios homens, em tempos ancestrais, para exigir daquelas comunidades a obediência cega… Basta de fanáticos de distintas ideologias, que utilizam seus cargos ou posições para impedir alguém de se casar ou de adotar. Basta de comezinhas atitudes e da agressão real a pessoas que são e se assumem “diferentes” da “maioria”, porque uma parte da sociedade define, com seus padrões pessoais, o que é “certo” e o que é “errado”, impondo a muitos a vida à margem de suas regras.

Queremos sim, mais amor, e não é preciso pedir por favor! Queremos sim, o direito ao exercício dos direitos! Queremos um cenário onde todos possam se olhar no espelho e se sentirem incluídos, lindos e felizes. Lutamos, assim, com o viés espírita, que é laico, progressista, humanista e livre pensador, pela construção do PAÍS DA DIVERSIDADE, sem medo de qualquer espécie de violência. Um país e uma sociedade em que possamos estar e viver simplesmente orgulhosos dos nossos filhos, irmãos, amigos, semelhantes, para que eles sejam realmente aquilo que quiserem ser. Para isso, é preciso, em nós, trabalhar o olhar, para olhar o outro como Yeshua (Jesus) olhava, com a doçura e a firmeza, misturadas, sem agredir nem violentar quem quer que fosse. O amor é, pois, a chave!

O que esperamos, então, do novo governo? A realidade de celebrar novas conquistas, com o necessário resgate daquelas já adquiridas, frutos da redemocratização do Brasil e da Constituição-Cidadã (1988), assim como de inúmeras leis e decisões judiciais mais conformes a um tempo de Humanidades e não de barbáries! Conquistas, essas, todas, que foram sendo encolhidas, enevoadas, enxovalhadas e combatidas pelo atual governo brasileiro.

Já pensaram se a nossa Fanpage não precisasse mais existir por absoluta desnecessidade? E que estivéssemos num tempo de celebração do amor, da alegria e da sexualidade livre. Com mensagens não mais relacionadas a lutas e conquistas, mas retratos da vida cotidiana, com as alegrias e o amor. Por que não?

Então, passada a dor, é hora de celebrar, viver e cantar “a delícia de ser o que (se) é”!

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “A delícia de um país da diversidade, por Claudia Jerônimo e Marcelo Henrique

  1. Não tinha conhecimento desta efeméride de 28 de Junho. Parabéns aos autores do texto. Todos têm o direito à felicidade e as escolhas que cada um faz são privada e só a el@s diz respeito. Ninguém deve julgar porque viemos aqui para aprender e ser felizes, não para ser juízes.

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