Doutrina Espírita não combina…, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 12 minutos

Não combina com violência, tortura, homofobia, racismo ou xenofobia.

Marcelo Henrique

“Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais”.

Kardec, “Revue Spirite”, Fevereiro de 1863, “Ciências”.

INTRODUÇÃO

Vivemos tempos de destacada perplexidade. As mídias sociais amplificam vários dos problemas individuais e sociais do atual quadrante temporal da vida sobre a Terra. Coisas da liberdade de expressão, dizem alguns. Liberdade, esta, que, conforme todas as outras, não é absoluta, mas relativa, condicionada a elementos éticos e, também, aos limites das normas legais em cada um dos países.

De outra sorte, espiritualmente, a Terra, enquanto mundo de provas e expiações, vai se encaminhando ao próximo estágio espiritual – de Regeneração Social – como resultado das ações individuais e coletivas, do que decorre o fato de que muitos dos Espíritos hoje, aqui, reencarnados, seguramente não retornará tão cedo a este mundo, não em face de nenhum “castigo divino”, mas em função da própria incompatibilidade da sua condição individual com o patamar a que o mundo terá galgado.

Vê-se, assim, na atualidade, a exacerbação de ideologias e comportamentos particulares e pessoais – que, em muitos casos, encontram eco em outras individualidades, as quais se associam em termos de gostos, pendências, preferências e identidades. Do mesmo modo, há seres altruístas, fraternos, solidários, perseverantes no bem, que buscam, a seu turno, também a associação com seus pares. E, nisto, os movimentos sociais, as iniciativas de caráter assistencial, os projetos e programas mantidos por instituições públicas ou privadas e as atividades filosóficas e práticas das instituições espíritas, são exemplos positivos, da aproximação dos semelhantes visando objetivos pontuais e específicos.

O ESPIRITISMO E OS ESPÍRITAS

No entanto, é essencial não tomar a generalidade como essência e, também no quesito ESPIRITISMO traçar algumas necessárias diferenças, justamente para não incorrer no erro de generalizar o movimento ou enquadrar as pessoas em um único (e determinado) padrão ou modelo.

Primordialmente, a Doutrina dos Espíritos, a Filosofia Espírita ou o Espiritismo NÃO É o movimento formado pelos espíritas, seja no Brasil, seja em qualquer parte do planeta. Os espíritas são indivíduos falíveis, errantes, que respondem por (e a) si mesmos, em relação a seus pensamentos, palavras e atitudes, e a mais ninguém. Não há, na estrutura vigente no chamando “movimento espírita”, uma autoridade central – como existe em outras doutrinas ou religiões – e Kardec, apesar de ter proposto um “Comitê Central”, para estudar os possíveis avanços decorrentes das comunicações mediúnicas e das Ciências e seus experimentos, teorias e teses, jamais chegou a ver, na prática, referido comitê em atuação e eficácia. Ficou na semente, portanto.

Assim, pessoas e instituições são livres para a manifestação de seus pensamentos e orientações, mas a Doutrina Espírita é o conjunto de informações espirituais de ordem superior e que, portanto, correspondem ao ideal a que o homem pode aspirar na Terra, em que os seres encarnados vão se adequando ao conjunto das Leis Espirituais que regem todos os mundos habitados.

Merece registro, ainda, que a Doutrina dos Espíritos não impõe nada a ninguém, não estabelece critérios para a adesão a ela e se baseia na liberdade de pensamento e na liberdade de expressão. Kardec é categórico, em muitos trechos de sua vasta obra, em definir que o espírita possui o livre convencimento e que a aceitação dos princípios espíritas é exercício pessoal e intransferível. Mais além, Kardec ainda expressou que haveriam pessoas que se sentiriam interessadas e atraídas, e que passariam a estudar e entender o Espiritismo, mas que permaneceriam ligadas às suas religiões (ou crenças) originárias (familiares, culturais, pessoais).

Mas que, para que se tenha a completa adjetivação espírita, é necessária a observância dos princípios e fundamentos doutrinários espiritistas e que as manifestações sejam totalmente concernentes à Ética Espírita, consoante a literatura originária, que são as obras escritas por Allan Kardec. Não é, pois, possível dizer-se espírita contrariando os pressupostos éticos da doutrina.
Depois destas preliminares, vamos ao conteúdo principal deste ensaio: “Doutrina Espírita não combina…” e, mais especificamente, tratarmos de cinco tristes realidades presentes não só no Brasil como em outras nações ditas civilizadas, nesta terceira década do século XXI: violência, tortura, homofobia, racismo e xenofobia. Cinco atitudes ou condutas que são, além de antiéticas, ilegais, sujeitas a enquadramento jurídico e processo penal.

O que será que Allan Kardec teria dito acerca de cada um destes temas?

Vejamos…

A VIOLÊNCIA

É a intervenção (física ou moral) de um indivíduo/grupo contra outro indivíduo/grupo ou contra si mesmo.

Kardec definiu, inicialmente, o espectro da violência em relação à liberdade, afirmando que a “convicção não se impõe”, recomendando-se, sempre, brandura e persuasão, ao invés da força (item 841, de “O livro dos Espíritos”). Depois, enquadrou a violência de modo filosófico-ideológico como “o argumento daqueles que não têm boas razões” (“O que é o Espiritismo, Segundo Diálogo, O cético). E, em “O evangelho segundo o Espiritismo” (Cap. XIX, item 3), pontuou o Professor que a violência individual “denota fraqueza e dúvida de si mesmo”.

Nenhuma violência é justificável. À medida que o ser avança, ele abandona os velhos hábitos das fases anteriores e respeita seu semelhante, incondicionalmente. E as civilizações, formadas por mulheres e homens melhores, vão abolindo as manifestações de violência interpessoal, ao mesmo tempo em que passam a punir, socialmente, de modo mais rígido, os que praticam atos violentos.

A TORTURA

Consiste na imposição de dor física ou psicológica, por meio de crueldade, intimidação ou punição, visando obter uma informação ou confissão, ou, simplesmente, por puro prazer daquele que tortura. É prática intimidatória, que pode estar associada a preconceitos raciais, sexuais ou de gênero, ou religiosos.

O Espiritismo é, pois, contrário a toda e qualquer forma ou modalidade de violência, sob qualquer justificativa. Ele, assim como a doutrina atribuída a Jesus de Nazaré, “condena toda violência” (“O evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. XXIII, item 15). E complementa: “Disse ele [Jesus] alguma vez a seus discípulos: Ide, matai, massacrai, queimai os que não crerem como vós? Não; o que, ao contrário, lhes disse, foi: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos persigam”.

Em relação à tortura, em “O evangelho segundo o Espiritismo” (Cap. V, item 27), em texto assinado por Bernardino, Espírito protetor, proclama-se: “Contra essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus”.

A HOMOFOBIA

Compreende o conjunto de atitudes e sentimentos negativos em relação a pessoas com identidade sexual distinta da sua, compreendendo, assim, os homossexuais, os bissexuais, os transgêneros e os intersexuais. Pode compreender ações como a antipatia, o desprezo, o preconceito, a rejeição, a aversão e o medo irracional. Compreende, desde atitudes como a hostilidade verbal até atos mais graves e consequentes, como a violência psicológica, a agressão física, a violência sexual (estupro) e a tentativa ou consumação do assassinato.

A basilar definição é a de que, para o Espiritismo, os Espíritos não têm sexo (item 200, de “O livro dos Espíritos”), decorre da possibilidade de animarem, eles, corpos distintos, como homens e mulheres. Isto biologicamente, na conformidade dos corpos físicos. Contudo, os sentimentos, a afeição, o amor, não se acham subordinados e sujeitos à conformação biológica, senão por força de imposições injustificáveis, egressas, por exemplo, de certas ideologias religiosas.

Já em “O céu e o inferno” (Cap. II, item 11), tem-se que a morfologia sexual só existe para fins de reprodução (item 686 e seguintes, de “O livro dos Espíritos”), na vida material e que, no Plano Espiritual, não há sexo, sendo, este, lá, inútil, já que Espíritos não se reproduzem.

Assim, tanto em “O livro dos Espíritos” quanto em “O evangelho segundo o Espiritismo”, o que se preza é a identidade dos relacionamentos, baseada nos sentimentos maiores, constituindo-se, em consequência, as relações familiais, que podem ser homo ou heterossexuais, pois o que importa, sempre, é a nobreza de sentimentos. E, ainda mais pontualmente, os Espíritos Superiores atestaram que o casamento (hetero ou homossexual) é um sinal de avanço na Humanidade, sendo “um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”, como comenta Kardec em relação ao item 696, da obra primeira.

É a Lei do Amor, diz o “evangelho espírita”, a que preside as relações humanas, pois “Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se lhes transmitisse aos filhos e que fossem dois, e não um somente, a amá-los, a cuidar deles e a fazê-los progredir” (Cap. XXII, Item 3). E o que motiva dois indivíduos a assim agirem, independente do sexo biológico, é a afeição entre os seres, os sentimentos recíprocos, e a felicidade que se experimenta naquela união.

Vale ponderar, também, o expresso em comentário de Kardec junto ao item 303a, de “O livro dos Espíritos”, de que não há “almas gêmeas” ou “metades eternas” – pessoas destinadas umas às outras, eternamente – corroborado pela expressão espiritual na “Revue Spirite” (Maio, 1858, “As metades eternas”), confirmando o antes dito: Espíritos não têm sexo e, portanto, não há um homem predestinado a uma mulher ou vice-versa.

O que o Espiritismo rechaça é a irresponsabilidade em geral, a poligamia, a promiscuidade, a falta de consideração em relação ao companheiro ou companheira escolhido para a convivência. E isto nada tem a ver com a preferência de natureza sexual, se homo ou heteroafetiva. E, sim, com a elevação dos sentimentos, o respeito recíproco e os deveres de fidelidade de uns para com outros.

O RACISMO

Consiste nas atitudes de preconceito e discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos, resultantes da crença ou da ideologia de pretensa superioridade de uma raça (ou povo) sobre outra, baseada em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas geneticamente. O racismo é historicamente um fenômeno tão antigo quanto a política, pois, em nome da identidade étnica, se busca fortalecer dado grupo social contra um suposto inimigo. Há racismo tanto em relação às grandes raças (amarela, branca e negra), quanto entre pequenas raças (grupos étnicos particulares), podendo ser identificado dentro de uma dada comunidade plurirracial quanto entre comunidades distintas.

Em “O livro dos Espíritos”, consultando as Inteligências Invisíveis, Kardec trata da diversidade das raças humanas (item 52), buscando-se-lhe as origens como sendo derivadas do clima, da vida e dos costumes, daí se originando diferenças físicas e até morais. Referidas diferenças, no entanto, não são ensejadoras de qualquer tratamento diferenciado, posto que, pela poesia doutrinária, “todos são da mesma família” (item 53a). Este também é o “espírito” contido, adiante, no mesmo livro (item 690), perdendo-se, a origem das raças presentes neste planeta “na noite dos tempos”, mas, todas pertencem “à grande família humana, qualquer que tenha sido o tronco de cada uma, elas puderam aliar-se entre si e produzir tipos novos”.

Insiste o Codificador na ideia da miscigenação entre raças e povos como sinal de aperfeiçoamento, posto que a mistura entre caracteres, decorrente de guerras e conquistas, no passado, e das migrações, impele à perfectibilidade dos corpos orgânicos, mas que, além disso, deve ser cotejado o elemento espiritual, posto que seres mais adiantados habitam os organismos físicos para auxiliar no progresso social e coletivo, da mesma forma que as raças civilizadas substituíram as raças primitivas e selvagens (“Frenologia espiritualista e espírita”, “Revue Spirite”, Abril, 1862).

Depois, em junho de 1867 (“Revue Spirite”), há um outro texto importante, da lavra de Kardec, intitulado “Emancipação da mulher nos Estados Unidos”, em que se destaca: Do “ponto de vista do ser espiritual, do ser essencial e progressivo, numa palavra, do Espírito preexistente e sobrevivente a tudo, cujo corpo é simples envoltório temporário, variando, como a roupa, de forma e de cor […] ressalta a prova que esses seres [Espíritos] são de uma natureza e de uma origem idênticas; que seu destino é o mesmo; que, partindo todos de um mesmo ponto, tendem ao mesmo fim; que a vida corporal é apenas um acidente, uma das fases da vida do Espírito, necessária ao seu avanço intelectual e moral”. E, por consequência “que em vista desse avanço o Espírito pode sucessivamente revestir envoltórios diversos, nascer em posições diferentes, chega-se à consequência capital da igualdade da natureza e da igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas e à abolição dos privilégios de raça. Eis o que ensina o Espiritismo”.

As diferenças entre os indivíduos, assim, não estão na coloração da pele nem nas formações corporais, e, sim, do contrário, no elemento espiritual que anima os corpos físicos (itens 59, 185, 205a, 207, 222, 273, 517, 787, 831, 918, de “O livro dos Espíritos”).

Vale dizer, ainda, que os Espíritos Superiores são taxativos quanto à característica de unicidade entre os distintos seres que encarnam na terra, chamando-os de RAÇA HUMANA, em numerosos trechos das obras espíritas. Veja-se, exemplificativamente, o contido em “O evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. XI, item 9: “Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre”.

A XENOFOBIA

Conceituada como a aversão aos estrangeiros, ou seja, àqueles que não pertencem ao mesmo grupo originário, pertinente à nacionalidade, a Xenofobia também pode alcançar o preconceito em relação àqueles que, mesmo não tendo nascido em país distinto do seu, manifesta cultura, hábito, raça ou religião diferente, alcançando, assim, um espectro muito maior.

O Espiritismo preconiza, como uma das dez Leis Morais ou Espirituais, a de igualdade, que pressupõe serem os Espíritos isonomicamente criados por Deus e tendo, todos, o mesmo destino, que é a perfeição relativa. A lei, então, é a de igualdade (“O livro dos Espíritos”, parte terceira, Cap. IX, itens 803 a 824). Kardec, a este respeito, afirma: “Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos Seus olhos, são iguais”.

A afeição que os encarnados possam sentir em relação à pátria, isto é, ao lugar onde nasceram e viveram, é uma condição momentânea, que se dissipa com o retorno ao Mundo Espiritual. Disseram os Espíritos Superiores que “Para os Espíritos elevados, a pátria é o universo” e, por conseguinte, estando encarnados “a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas” (item 317, de “O livro dos Espíritos”). Mas isto não significa desmerecer ou menosprezar os que não tenham as mesmas origens, culturas, hábitos, raças ou religiões. Muito pelo contrário.

Impõe a Ética espírita o respeito, sobretudo às diferenças, porquanto as manifestações, as tendências, os gostos, as preferências, são decorrentes do progresso espiritual que é individual e específico e que não deve ser submetido a qualquer imposição ou subordinação.

Adiante, no somatório da observância de todas as Leis Morais, há a de Justiça, Amor e Caridade, que conduz à perfeição moral que caracteriza o homem de bem (comentário de Kardec ao item 918, de “O livro dos Espíritos”), assim conceituada: “O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem”.

E, na “Revue Spirite”, Outubro de 1861, no “Discurso no banquete de Lyon”, Kardec arremata: “o Espiritismo, restituindo ao Espírito seu verdadeiro papel na Criação, e constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, suprime naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens em consequência das vantagens corporais e mundanas sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos”, sejam os de cor, os de origem, os de cultura, os de religião, ou quaisquer outros derivados das diferenças materiais entre os homens (Espíritos encarnados).

CONCLUSÃO

Do conjunto de todas essas anomalias presentes em nossa sociedade, fundadas na mais absoluta incapacidade de conviver respeitosamente com os outros, sobretudo com aqueles que pensam (e agem) de modo diferente em relação a si mesmos, tem-se o antagonismo à proposta espírita que é a da caridade, da fraternidade e da solidariedade, tendentes à construção de um panorama de justiça social possível neste mundo físico.

E, então, os preconceitos são injustificáveis, porquanto fundados no tratamento desditoso e injustificável de uns para com outros, baseados em conceitos precários e em elementos de absoluta materialidade.

Este componente e contexto material-materialista é, pelo Espiritismo, destruído à medida em que se proclama como princípio fundamental, a reencarnação. No Cap. I, item 36, de “A Gênese”, a última obra de Kardec, vê-se um libelo em favor da compreensão entre indivíduos, povos e raças, nestes termos: “Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raça e de casta, já que o mesmo Espírito pode renascer rico ou pobre, grande senhor ou proletário, mestre ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, não existe nenhum que supere em lógica o fato material da reencarnação”.

E, também, no “evangelho espírita”, sobressai a imperiosa noção de respeito, fraternidade e tolerância entre os encarnados, no sentido de abolição de quaisquer preconceitos, na conceituação espírita do verdadeiro homem de bem, que “é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus” (Cap. XVII, item 3).

E, conclusivamente, apõe Kardec, neste tópico: “Desse modo, assim como a reencarnação fundamenta numa lei da natureza o princípio da fraternidade universal, também fundamenta na mesma lei o princípio da igualdade dos direitos sociais e, por consequência, o da liberdade”.

Ao reencarnarmos, assim, experimentamos posições e cenários distintos, todos tendentes às experiências necessárias ao nosso aperfeiçoamento, que é individual, a priori, e coletivo, em decorrência.

Kardec, então, na Conclusão de “O livro dos Espíritos”, Item IX, endossa tal proposta genuinamente transformadora de indivíduos e coletividades, expressa na afirmação de Agostinho de Hipona, um dos luminares que orientaram a Doutrina dos Espíritos: “Jamais os Espíritos bons foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e os prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que lhes indicou para chegarem até ele”. É com este pensamento que ele encerra, pois, a obra pioneira.

São os princípios da doutrina dos Espíritos os que conferem explicações direcionadas às leis divinas, permitindo “resolver os milhares de problemas históricos, arqueológicos, antropológicos, teológicos, psicológicos, morais, sociais, etc.” (“Revue Spirite”, Outubro, 1862, “Apolônio de Tiana”).

Em tempos que nos pedem reflexão e consciência sobre o preconceito, a Doutrina Espírita nos traz palavras esclarecedoras para o nosso trabalho de auto-aperfeiçoamento e convivência pacífica. Ante a lição de que somos todos irmãos, celebremos a diversidade humana com respeito e fraternidade.

A Doutrina Espírita, portanto, não combina com violência, tortura, homofobia, racismo ou xenofobia.

De fato, as leis universais do amor, da caridade, da imortalidade da alma, da reencarnação, da evolução que o Espiritismo conceitua e explica, constituem novos parâmetros para a compreensão do desenvolvimento dos grupos humanos, nas diversas regiões do Orbe.

Que isto, então, nos sirva como inspiração para as “lutas” pacíficas contra a violência, a tortura, a homofobia, o racismo e a xenofobia, por parte de todos nós, espíritas e pelos demais, signatários de outras filosofias ou crenças, como homens de boa vontade!

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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