Quem canta seus males espanta, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 3 minutos

Marcelo Henrique

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“A música […] é a arte que vai mais diretamente ao coração. A sensação […] está toda no coração. […] Numa palavra, a música vai do coração ao Espírito” (Lammenais, “Revue Spirite”, Maio, 1861, “A pintura e a música”).
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Considerada uma das formas de comunicação e expressão mais antigas do mundo e da humanidade, o canto deve ter sido inspirado na observação de pássaros, em tempos imemoriais.

Você já percebeu a imensa variedade de timbres, tecituras, ritmos e harmonias no “cantarolar” destes pequenos animais que estão ao nosso derredor? Mesmo que você não seja – como eu – versado em música nem tenha tido a felicidade de qualquer atividade vinculada à expressão musical, seus ouvidos podem perceber as distintas nuances presentes quando se escuta algum som que “vem da Natureza”.

A expressão da sabedoria popular – que dá nome a este nosso ensaio – traduz a sabedoria da sucessão dos dias (anos e até encarnações) em que o ser busca, em si, a inspiração e a motivação para lutar (e vencer) adversidades, desafios e contratempos. Numa expressão espírita, o fardo das expiações e provas – características do atual estágio progressivo em que nos encontramos, na Terra – fica mais “leve” a partir do “efeito psicológico” do canto.

Há cerca de quinze anos, algumas pesquisas foram desenvolvidas na Universidade de Música e Artes da famosa Viena. A capital austríaca, aliás, parece ter sido “bafejada” no curso da história, por realizações ímpares no campo da música, com, por exemplo, virtuoses como Strauss, Mozart, Haydn, Chopin, Beethoven, Liszt, Brahms e Mahler, para ficarmos nos principais. Nestas pesquisas, foram feitos estudos com pacientes de instituições hospitalares que demonstraram a ação terapêutica do cantar, da minimização dos efeitos de muitas enfermidades. Em especial, trabalhos conduzidos pela psicoterapeuta e professora Gertraud Berka-Schmid atestaram que cantar deveria fazer parte do receituário dos profissionais clínicos.

Complementarmente, a pesquisadora também sugere aos pais e professores o estímulo ao cantar, como máxima expressão da personificação do indivíduo, a partir do acesso ao que ela chama de “experiências do som”. O canto, portanto, estimula o desenvolvimento e a própria consciência da personalidade – lembremos que a consciência é, segundo o Espiritismo, um dos principais atributos do Espiritismo – porque representa, em última análise e contexto, o ato de levantar a voz, ser ouvido, reconhecido e aceito nos núcleos sociais, desde os menores até os mais representativos.

Um outro elemento associado ao cantar é a respiração (adequada), que representa a prevenção contra algumas enfermidades e a conquista da saúde integral, já que em termos de fisiologia, o canto propicia a movimentação interna, especialmente abdominal, que representa uma “massagem” intestinal e um “alívio” para o coração (e suas marcantes e destacadas funções). Como “plus”, a emissão ritmada que a música permite a quem a entoa fornece uma quantidade adicional de ar aos alvéolos pulmonares, impulsionando e estabilizando a circulação sanguínea que, por consequência, melhoram a concentração e a memorização.

No curso de uma vida (cada vez mais) agitada como a nossa, a música também tem um notório elemento de “pacificação” (ou relaxamento do organismo físico), já que promove o equilíbrio do sistema neurovegetativo e reforça a atividade dos nervos parassimpáticos (sugerimos ao leitor que busque pesquisar sobre estes dois conceitos).

Cantar não é apenas uma das formas de expressão mais antigas do ser humano, mas também pode curar muitos males, garantem cada vez mais médicos, que recomendam a prática do canto com regularidade, embora os estudos sobre seus efeitos benéficos do canto sejam recentes. Deste relaxamento deriva o que chamamos de harmonia psíquica, contribuindo para o reforço do sistema imunológico, que combate, por exemplo, “doenças da modernidade” como os transtornos do sono, as disfunções circulatórias, a exaustão emocional (conhecida como “síndrome de Burnout”). Não raro, se percebem pessoas que não contêm seus próprios impulsos, acumulam agressividade e acabam se paralisando ou se isolando.

Os estudos clínicos apontam para a conclusão de que, em grande parte dos indivíduos, o canto desempenha um papel essencial: o de espantar, realmente, os males (físicos e psíquicos) derivados da forma como cada um encara e vivencia os problemas e as situações existenciais. Se cantar é o método para afastar tais circunstâncias, devemos dizer que independe se vamos cantar sozinhos, em dupla, em coro, no banheiro, no carro, no sofá ou até na rua, no deslocamento deste para aquele local, na rotina dos dias.

Que você cante, então, e cante muito, seja quando estiver triste ou contente, apreensivo ou satisfeito, desmotivado ou empolgado. Como a voz é o elemento que mais nos identifica e caracteriza nossa existência físico-material, é por ela que conseguimos expressar a totalidade dos nossos sentimentos e, em especial, a forma de nos livrarmos de más percepções ou más sensações.

Vamos cantar?

Imagem de Steve Buissinne por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

3 thoughts on “Quem canta seus males espanta, por Marcelo Henrique

  1. Muito bem pontuado a importância do cantar, sei que o artigo foi baseado nas pesquisas vindas da Áustria, mas temos a oralidade e o ato do cantar presente em outros cantos do nosso planeta, povos que são mais antigos que os austríacos que a cultura poderia também, ser destacada me incomoda um pouco a valorização só das culturas europeias.

  2. Esse artigo écompleto., podemos reduzir ao adágio/ditado polpular ou provérbio: “Quem canta seus males espanta.” Na verdade Não sei se está frase é um proverbio ou um adágio/ditado popular, porém nao faz diferença sendo um ou outro, d certo modo, leva ao artigo.

  3. Me perdoe, mas não poderia expressar-me de outra forma diante de artigo tão significativo.

    Rouxinol
    Milton Nascimento

    “Rouxinol tomou conta do meu viver
    Chegou quando procurei
    Razão pra poder seguir

    Quando a música ia e quase eu fiquei
    Quando a vida chorava mais que eu gritei
    Pássaro deu a volta ao mundo brincava
    Rouxinol me ensinou que é só não temer
    Cantou se hospedou em mim”

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