O mundo, então, não está mais tão estranho: o primeiro protagonista abertamente LGBTQIA em um longa da Disney, por Marcelo Henrique e Júlia Schultz

Tempo de leitura: 3 minutos

Marcelo Henrique e Júlia Schultz

Foto: Divulgação do filme

Está em cartaz nos cinemas brasileiros o filme “Mundo Estranho” “(“Strange World”, no original), dos Estúdios Disney, que estreou em solo americano em novembro último, com ares de pegada intergaláctica, com planetas desconhecidos e formas de vida bastante peculiares, além de nave espacial (notadamente uma homenagem dos “descendentes de Walt” aos filmes de ficção científica, como Star Wars. Mas, lembremos, antes dos filmes havia as revistas, e as ilustrações destas inspiram, em essência, as cenas retratadas no longa.

É uma animação destinada a todas as idades – na “pegada” que já vem sendo objeto de abordagem nos longas da empresa, seguindo o sucesso de “Encanto” – lembre-se, laureado com o Oscar de Melhor Animação e de Melhor Trilha Sonora, em 2022.

Trata-se, pois, de uma das mais destacadas fronteiras, com um dos maiores estúdios abordando a temática LGBTQIAP+, apresentando personagens abertamente gay. Lembremos que a produtora, ainda em 2022, havia sido acusada por vários funcionários de “censurar” cenas gays em seus filmes, em especial nas animações da Pixar. Vale lembrar que “Lightyear”, também de 2022, protagonizou, de forma inédita para o Grupo Disney, uma cena de beijo de um casal lésbico (e, por isso, não obteve autorização de exibição em cerca de doze países, entre os quais, Emirados Árabes Unidos, Egito e Indonésia).

E não me venham dizer que, porque em “Disneyland” há orelhas de Mickey Mouse, como adereços para a cabeça, pintadas com o arco-íris que “o preconceito acabou”!

Mas o enredo não é terreno. Ele se passa na fictícia Avalônia e, talvez por isso, não haja o “frisson” que existe por aqui (“Alô, alô, Marciano, aqui em fala é da Terra, pra variar, estamos em guerra”, cantou Elis nos 70s). Sim, há protestos, em solo americano, como aqui, sobretudo entre os “fundamentalistas” de várias linhagens, entre católicos e neopentecostais. Inclusive, lembremos, entre alguns espíritas – do segmento mais “religioso”.

O fato é que os avalônios tratam a homoafetividade com a naturalidade que se espera, dentro da liberdade de convicção, expressão e sentimento – cláusulas “pétreas” em nações desenvolvidas (vamos lembrar a ignorância vigente no Catar, por exemplo, nestes dias pós-Copa do Mundo de Futebol, mas não só lá, infelizmente, com vários países em que a homossexualidade é condenada e punida, lamentavelmente). Assim, o enredo naquele mundo “feliz” (talvez, entre nós, espíritas, fosse melhor enquadrá-lo como “regenerado”, na classificação dos Mundos Habitados, segundo a Doutrina dos Espíritos), encampa a sexualidade com naturalidade, seja no texto como na fala dos personagens, os envolvidos diretamente e os periféricos.

Avalônia é a Terra do futuro, ou seja, um lugar livre de preconceitos e, portanto, ainda, para o nosso padrão de terráqueos, utópico.

Obviamente que não é o “ser gay” o pano de fundo da história, que tem mais a ver com uma realidade que é inerente a todos que estagiamos, ainda, no plano das expiações e provas: o conflito entre (três) gerações (de uma mesma família). O enredo mostra o desapontamento do pai em relação ao filho – não pela sexualidade, mas pela questão dos sonhos acalentados desde cedo, da vocação para o que fazer “n vida”, isto é, a (futura) profissão. E, por isso, as críticas (fundamentadas) à película são dirigidas à “rapidez” com que os conflitos familiares são resolvidos. Daí, a classificação como “utopia” se amplifique, além das questões homoafetivas.

O adolescente Ethan (de 16 anos), declaradamente gay, se apaixona pelo amigo, Diazo e a história não faz qualquer apologia à homossexualidade e a intenção de produtores e diretor foi, de fato, representar a realidade em que estamos inseridos, sem estereótipos. Ethan, embora tímido na presença do seu amor, é profundamente empático, mas igualmente ousado e impulsivo. Como os adolescentes em geral…

Há quem diga que o filme deveria ser destinado a adultos – você encontra na web críticas a esse respeito. Não vemos o porquê. É fato que a animação tem atraído muitos adultos, mas a geração pré-dezoito também se maravilha com as cenas e com o enredo. Para as crianças, por exemplo, o encanto deriva das formas e cores, além dos bichos estranhos, como pássaros gigantes de rosa neon voando em um céu roxo.

Por fim, o filme deve ser visto até por quem torce o nariz para a bandeira LGBTQIAP+, porque se é para criticar, que seja com base concreta, a partir das cenas e da história contida no enredo. No mais, vale sempre lembrar o refrão McCartiano: “live and let die” (viva, e deixe os demais morrerem), porque, com certeza, as gerações futuras serão mais naturalmente empáticas e o amor fará toda a diferença!

O mundo, então, não está mais tão estranho…

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “O mundo, então, não está mais tão estranho: o primeiro protagonista abertamente LGBTQIA em um longa da Disney, por Marcelo Henrique e Júlia Schultz

  1. Excelente, Marcelo. Importante reflexão, que precisa ir rompendo a crosta de preconceito que insiste em sobreviver no meio espírita.

  2. Devagarzinho estamos entrando numa outra esfera de entendimento….Minha geração está com passagem comprada, carimbada e todos iremos nos reciclar para um dia retornar com outra cabeça….

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