Novo em cada amanhecer, por Marcelo Henrique e Manoel Fernandes Neto

Tempo de leitura: 4 minutos

Marcelo Henrique e Manoel Fernandes Neto

Foto: Ricardo Stuckert

“Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer”
(“Marcas do que se foi”, Ruy Maurity)

A manhã nasce vigorosa e auspiciosa, neste primeiro de janeiro de 2023. Um novo amanhecer prenuncia novos ares e a possibilidade dos sonhos se tornarem realidade.

Sim, é uma POSSIBILIDADE. Não é garantia certa. Não há nenhum GPS que nos mostre tudo o que irá ocorrer, na sequência dos dias. E, tampouco, nenhum planejamento condiciona as ocorrências – nem as que dependem ou partem de nós, quanto as que derivam das ações (individuais e coletivas) alheias.

O fato é que eu, você e muitos milhões de brasileiros nos sentimos sufocados, angustiados e temerosos acerca do nosso futuro. O nosso, particular, de indivíduos, o de nossas famílias, nossas amizades, ou da nação como um todo. Foram quatro anos muito duros, difíceis, no patamar de grandes desafios a que a vida física nos impõe, desde que soltamos – do peito para a garganta e desta para o exterior – nosso primeiro grito de nascidos…

Viver é encarar dificuldades. É preparar-se para elas. Desde os primeiros albores da infância até os momentos de maturidade – em que a idade cronológica sobre nossos ombros pode nos conferir mais sabedoria – permitindo que ocupemos o papel principal no “teatro vivo” da existência.

Em 2018, logo após as eleições, encampamos o conceito “Ninguém solta a mão de ninguém”. Muito mais do que um lema de solidariedade, era a certeza de que viveríamos o chamado “bom combate”, com determinação e união dos que acreditavam (e acreditam) no exercício da política como conquista civilizatória.

Lutamos, sim! E a nossa luta não foi contra os outros, nossos irmãos. E ela esteve sediada – e ainda está, sabemos, porque não há “pó de pirlimpimpim” nem “truque de mágicas” que transforme qualquer cenário convivial – nos ambientes mais próximos: família, amigos, colegas de trabalho, de estudo, de lazer, vizinhos etc. Analogicamente, podemos lembrar da advertência fraternal do Sublime Carpinteiro, que nos alertou, simbolicamente: “estarão divididos: pai contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra” (Lc; 12:53).

Mas, repetimos, nossa luta não é CONTRA ninguém. Mas, sim, pela sobrevivência de todos e, principalmente, pelo compromisso de luta pelos direitos dos mais fracos, os que não podem ou não conseguem lutar. Vede a sugestão espírita (“O evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. XVII, Item 3): “O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre o seu interesse à justiça” (grifos nossos).

Eis a divisa, a bússola, a proposta do “verdadeiro homem de bem”, conforme o mesmo capítulo acima destacado, que segue um roteiro natural e presente em todas as ações de progresso presentes na História da Humanidade: intenção, pensamento, palavra e ação.

Voltando ao campo político-social, tivemos quatro anos terríveis para a vida dos brasileiros e, exceto os mais apaixonados, os que alimentaram um ódio íntimo – consciente ou inconsciente – contra outras “bandeiras” ou “representações políticas” (pessoas ou partidos), foi possível à comunidade brasileira perceber que, no âmbito da intenção e das palavras, assim como de inúmeras ações, o desdém para com o sofrimento alheio, a pilhéria em relação aos infortúnios, e o negacionismo das mínimas políticas assistenciais públicas (incluídas, aí, a gestão de saúde e saneamento de milhões de habitantes do Brasil) representa o antagonismo em relação à proteção e salvaguarda dos fracos diante dos fortes.

Nenhuma ideologia perdura por muito tempo, se não alicerçada no binômio teoria-prática capaz de garantir que a maioria democrática entenda que o percurso precisa de correção e que é garantido aos “passageiros” a escolha, periódica, da troca do piloto da aeronave (nação).

Então, hoje, o dia inaugural de janeiro de 2023 é o primeiro dos nossos últimos dias sobre a Terra, nesta encarnação e, portanto, depositamos um voto de confiança para a nova gestão pública que se inicia em território tupiniquim, com Lula e Alckmin. Desejamos, em nome do “Espiritismo COM Kardec” que a gestão possa recuperar a autoestima dos brasileiros e garantir melhores condições de vida sobretudo para os hipossuficientes economicamente, assim como para as populações marginalizadas nestes últimos quatro (dolorosos) anos.

E, como é característica deste projeto (COM Kardec) estaremos aqui, também, para criticar construtivamente e apresentar eventuais defeitos da gestão pública, sob a leitura e análise genuinamente kardeciana – como, aliás, o próprio Kardec bem o fez, em valorosas dissertações, no conjunto de suas trinta e duas obras. Porque o espírita não pode dissociar a sua análise crítica nem as suas atitudes do plano material que abriga nossas existências, presentemente. A Terra.

Sabemos, outrossim, que a navegação não se dará em águas claras e tranquilas, havendo tempestades de diferentes matizes a serem enfrentadas. Mas, como “mar calmo não faz bom marinheiro”, tendo vivenciado as tormentas deste mais recente período – e outras, anteriores, para os que são mais longevos – estamos na vigia, no leme, nos remos, nas velas ou no motor de nossas individuais embarcações. E confiamos no timoneiro que assumiu a nau coletiva.

Por fim – e sobretudo – que tenhamos serenidade para não “apostar” na vindita, na arrogância, no ódio ou no desejo de eliminar os que (ainda) são “dissidentes”. Inimigos na fala atribuída ao Homem de Nazaré, que nos disse, acertadamente: “deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta” (Mt; 5:24) ou “concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele” (Mt; 5:25).

Avante, Brasil! Boa sorte, Lula-Alckmin! E que seja novo em cada amanhecer…

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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