Nós e os outros, por Marcelo Henrique

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Marcelo Henrique

O cotidiano das sucessivas existências é o cenário para muitos aprendizados. Como seres errantes que somos, atravessamos os dias, os anos e as encarnações, com erros e acertos. Como dizem, “é da vida” (só que no nosso caso, a entendemos como vida espiritual, claro, que se compõe das experiências na carne assim como as fora dela), este processo.

Kardec indagou sabiamente as Inteligências Superiores acerca dos esforços para o melhoramento pessoal. E recebeu deles a fraterna advertência: “o que lhes falta é a vontade […] [e] são poucos os que se esforçam” (resposta ao item 909, de “O livro dos Espíritos”).

Ora, então, para a instrução (conhecimento) dos Espíritos haveria algo até muito simples: um pequeno esforço. Mas, o pequeno vira enorme e intransponível. E o mais comum é que se siga as pegadas já dispostas ao derredor, sem enveredar pelos caminhos (estreitos, na parábola do Magrão), que levam às transformações.

Vamos voltar esta “prosa” para o nosso “umbigo”. Vamos falar dos espíritas e do chamado movimento espírita.

Todos os que quiserem se afirmar como espíritas precisam conhecer TODA a obra (de Kardec). Sim, não há Espiritismo SEM (ou FORA DE) Kardec. E são muito poucos os que conhecem em totalidade a obra. Ou seja, que já leram – e, mais que isso, se debruçaram no estudo das TRINTA E DUAS OBRAS escritas e publicadas por Allan Kardec).

Preferem, muito mais, as “novidades”. É um livro novo “psicografado”, é uma conferência de algum “destaque”, é um curso promovido por algum grupo ou instituição conhecida…

Obras dos homens – sejam eles encarnados ou desencarnados – todas sujeitas à falibilidade. Ou seja, ao erro!

No que tange aos “Expoentes do Espiritismo”, que são os médiuns, expositores ou dirigentes, é preciso estabelecer a premissa fundamental: como qualquer ser encarnado, todos possuem limitações. Sem exceções! E, se avançarmos um pouco mais, alcançando os desencarnados, muitos deles tidos como “guias” ou “orientadores”, pessoais ou coletivos, devemos lembrar que a condição de estar “fora da carne” não concede sapiência nem perfectibilidade, tampouco superioridade, a quem quer que seja.

Elementos como o “verniz” da aparência, a “beleza” da retórica, a “relevância” da recomendação, segundo o critério de cada um, feita a este ou aquele ou a “estatura” de obras assistenciais ou filantrópicas NÃO é nenhuma garantia séria em relação ao que dizem ou escrevem. Voltemos a Kardec: “A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, Introdução, Item II – Autoridade da Doutrina Espírita. Controle Universal do Ensino dos Espíritos).

Vamos ampliar a premissa de Kardec – que trata da validade e pertinência dos elementos pertinentes à Instrução dos Espíritos (Superiores) – para os seres encarnados, já que o texto, acima, foi estabelecido, inicialmente, para o conteúdo das mensagens psicografadas, ou seja, em relação à autoria (desencarnados). A mesma regra vale – e, até, mais – para os encarnados, por duas razões óbvias: 1ª) os médiuns são seres encarnados e INFLUEM direta ou indiretamente nas mensagens obtidas; 2ª) os dirigentes, palestrantes e médiuns expressam OPINIÕES PESSOAIS, dentro da liberdade de pensar (axioma espírita-espiritual), mas nem sempre estão com a verdade. Ou seja, são falíveis.

Chegamos, então, ao contexto da prática e do cotidiano espírita, com uma grande questão: os espíritas (em geral) não estudam (com profundidade), não compreendem o método (originalmente utilizado por Kardec) e, por extensão e consequência, não avaliam as mensagens, as obras e nem as manifestações dos espíritas que seguem.

Mas há outros problemas, igualmente graves. Vamos a eles:

I – Endeusam Kardec, tomando-o como infalível e sua obra como totalmente “ditada” por Inteligências Superiores, o que lhe configuraria duas condições que o Espiritismo jamais teve: o de ser a (única) verdade; e o de que o que fora escrito por Kardec seria inalterável e não sofreria a ação da Lei do Progresso (humano e espiritual);

II – Idolatram escritores, palestrantes ou dirigentes, como se eles, como nós, não fossem portadores de ideias pessoais e como se desempenhassem, eles, missões “especiais” dadas a poucas criaturas, e que estariam “no mundo” para serem seguidos sem contestação;

III – Tornam-se seguidores cegos dos guias espirituais (de instituições ou de médiuns), como se a condição de desencarnado em “apoio” a uma instituição ou obra espírita fosse garantia segura de infalibilidade, ou se o uso de linguagem rebuscada, culta ou melíflua, porquanto sedutora, fosse expressão de superioridade espiritual.

Por consequência, lamentavelmente, os espíritas em geral bajulam outros homens – médiuns, palestrantes, dirigentes – tomando-os como seres (muito) acima do homem (espírita) médio.

Que dizer destes? E como fazer para não ser “presa fácil” da idolatria, da obediência e da não-contestação? Fica a pergunta, para a nossa meditação…

Homens são (e sempre serão) homens, com suas limitações e imperfeições, até que estejamos TODOS em outras condições espirituais (mais adiantadas) em virtude do (olha ele, novamente) nosso esforço pessoal! Uma coisa é certa: comparar com a “base”, os fundamentos do Espiritismo. Todas as vezes que o resultado da comparação “afrontar”, “fizer saltar os olhos” ou “gerar perplexidade”, muito provavelmente será uma ideia meramente pessoal de quem (encarnado ou desencarnado) escreveu. E, aí, será opinião pessoal e o Espiritismo não se vale dela, sob nenhuma hipótese.

Imagem pixabay

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