E o Controle da Natalidade?, por Carlos A. Parchen

Tempo de leitura: 4 minutos

Carlos A. Parchen

Certa feita, recebi por e-mail uma pergunta sobre o controle da natalidade. Prontamente a respondi, conforme os termos abaixo. O objetivo da resposta não é o de estabelecer “verdade” ou paradigma, mas sim o de provocar análise, reflexão e síntese.

A pergunta era: – Num contato anterior, você afirmou que “temos todo o direito de controlar a reprodução”; por outro lado tenho lido algumas afirmações que tal prática atrasaria a evolução de Espíritos que teriam que aguardar mais tempo para novas reencarnações. Procurei nas obras básicas alguma referência, porém não encontrei nada além do já citado no e-mail prévio. Para mim é bastante claro que a maternidade (ou paternidade) deve ser um ato de amor repleto de respeito e carinho pelo ser que será concebido, e portanto não pode ser uma imposição ou obrigação, mas algo espontâneo e deliberado pelo próprio casal; entretanto gostaria de pedir-lhe mais detalhes de como esta questão é trabalhada no plano espiritual e qual o ponto de vista da doutrina a respeito.

Abaixo, minha resposta, em tópicos.

Na Doutrina dos Espíritos, a base sempre é Kardec, e todos os demais autores devem ser analisados se, de fato, estão embasados em Kardec. Infelizmente, muitos não estão!

Também, infelizmente, existe uma forte “corrente religiosa” dentro do Espiritismo, e que tenta trazer para uma Doutrina Filosófica (que é o Espiritismo) alguns conceitos derivados da “Religião Máter” do Cristianismo, estabelecendo “conceitos religiosos” ou “dogmáticos”.

Veja que não sou contra o aspecto religioso do Espiritismo, mas este necessita estar harmonicamente equilibrado com a Filosofia e com a Ciência Espírita. Afinal, o Espiritismo não é uma Religião, é “…uma Doutrina Filosófica de Base Científica e Consequências Éticas e Morais…”, como tão bem estabeleceu Allan Kardec.

O Espiritismo tem, sim, um aspecto de religiosidade, religioso se quiserem, baseado no Amor a Deus, no Amor ao Próximo e na Moral pregada e vivida pelo Mestre Jesus.

Faço esse introito para dizer que a questão do controle da natalidade é um dos aspectos que “incomoda” a “vertente religiosa” do Espiritismo, que procura argumentos para tentar “vender” que o espírita não deve controlar a natalidade e que se deve “…dar oportunidade de reencarnação a todos os Espíritos…”.

Meia verdade, o que muitas vezes é mais prejudicial que a mentira.

Basta estudar (falei estudar, não apenas ler) Kardec, o que ele traz das Leis de Conservação, Reprodução e Destruição.

Está evidente que o Homem tem todo o direito de controlar a reprodução, de todos os seres vivos, incluso a do próprio Homem, desde que o faça com objetivos elevados, éticos e não egoístas.

O Espiritismo, como Doutrina Filosófica, aceita o controle responsável da natalidade (exceto os métodos abortivos), e nos alerta que a família é a melhor escola de evolução, que o homem e a mulher foram feitos para se unir e completar, propiciando a chance de educação de outros Espíritos, os filhos.

Assim sendo, cabe a cada casal pesar, sopesar e decidir sobre o que se dispõe a fazer a esse respeito, o quanto da tarefa de educar outros Espíritos (filhos) está disposto a enfrentar.

Essa é uma decisão como todas as outras de nossa vida:
– o quanto estamos dispostos a fazer o bem?
– o quanto estamos dispostos a fazer de caridade material?
– o quanto estamos dispostos a nos melhorar como pessoas?
– o quanto estamos dispostos a perdoar e tolerar?
– o quanto estamos dispostos a fazer de trabalho voluntário?

Percebeu a hipocrisia? O que é mais “religioso”? Decidir, efetivamente fazer o bem ou ter mais um filho? O que é mais “religioso”: usar uma parte substancial de meu salário para educar crianças pobres ou ter mais um filho? O que provocaria mais evolução? Eu decididamente ser uma pessoa boa, caridosa, atuante ou eu ter mais um filho?

Quais dessas decisões são mais importantes?

Essa história de que controlar a natalidade é “…atrasar a evolução dos Espíritos…” não é verdadeira, pois a evolução também se dá no mundo espiritual e, mais ainda a Espiritualidade Superior é inteligente e previdente o bastante para providenciar outras formas de encarnação (outros mundos), pois basta acompanhar a tendência histórica, que mostra que quanto mais evoluída a sociedade, mais esta reduz a taxa de natalidade, sendo que vários países da Europa têm hoje crescimento negativo de população (morre mais gente do que nasce).

Além disso, estudos científicos afirmam que, se a população mundial aumentar em mais 1,5 a 2 bilhões de pessoas, não existirão recursos naturais capazes de suportar toda essa pressão sobre o planeta. Alguns cientistas inclusive afirmam que já atingimos a população limite do planeta. Será que a Espiritualidade Superior não sabe disso? Será que não sabe que nos próximos 50 anos só haverá emprego para menos de 30% da população e que o trabalho destes deverá gerar recursos para sustentar toda a humanidade?

Acho que deixei claro que a questão do controle da natalidade é tratada, no plano espiritual, da mesma forma que todos os demais itens de “melhoria pessoal”, onde se vê se estamos aplicando o melhor dos esforços ou estamos apenas “vendo a vida passar”. Ter um monte de filhos enquanto “se vê a vida passar”, agrega alguma coisa a alguém?

Decisão pessoal, meu amigo, inalienável. Direito nosso. Responsabilidade proporcional, como absolutamente tudo na nossa vida. Caminhos que traçamos, caminhos que trilhamos.

Como disse o poeta Renato Teixeira:
“…como um velho boiadeiro,
levando a boiada,
eu vou tocando os dias
pela longa estrada …eu vou,
estrada eu sou…”
E,
“…cada um de nós,
compõe a própria história,
cada ser em si carrega,
o dom de ser capaz
de ser feliz…”.

Sejamos felizes, praticando o bem o amor e a caridade. Se couberem filhos nessa equação, felizes de nós.

Bom senso e equilíbrio. Essa é a beleza da Doutrina Espírita. E “…pela longa estrada eu vou, estrada eu sou…”

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ACESSE OS TEXTOS DA EDIÇÃO:

Editorial: A Lei de Reprodução perante a sociedade contemporânea

A Lei de Reprodução e o seu lento avanço, por Júlia Schultz

Relações Sexuais à luz do Espiritismo, por Marcelo Henrique

Espiritismo e Engenharia Genética: hora de iniciarmos um debate sério, por Marcelo C. Regis

A Clonagem Humana, por Pedro Gregori

A Bioética e o Paradigma Espírita, por Núbor Orlando Facure

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Espiritismo e Superioridade das Raças: uma perspectiva espírita com base na Lei da Reprodução, por Juvan Neto

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