As mensagens mediúnicas nas redes sociais, por Marco Milani

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Tantas mensagens nas redes sociais, na pandemia. Como saber se é mesmo aquele espírito que as assina? – Meire Silveira, São Paulo, SP

Em um período no qual pululam nas redes sociais inúmeras mensagens tidas como mediúnicas, muitas relacionadas à pandemia, é natural o questionamento sobre a autenticidade do fenômeno, sobre a qualidade doutrinária das comunicações e sobre a sua autoria.

Um dos pilares do espiritismo é a fé raciocinada e espera-se que esta seja uma característica de todos os adeptos. Os diferentes graus de maturidade doutrinária, entretanto, fazem com que não se tenha uma postura homogênea sobre a análise dessas mensagens.

Inicialmente, destaca-se o fato que não existe qualquer critério de seleção ou obstáculo para a publicação de textos nas redes sociais. Qualquer um, com diferentes motivações, pode publicar conteúdo alegando se tratar de produto mediúnico. Agrava-se a situação quando quem publica é alguém que se autodenomina médium. Não há, portanto, qualquer garantia de que tais comunicações sejam, de fato, de desencarnados ou se foram produzidas pela própria pessoa que tenta disseminar esse conteúdo. Logo, pode ser uma fraude ou uma brincadeira de mau gosto.
Independentemente da origem mediúnica, mais importante é a qualidade da própria mensagem. Se houver informações alarmistas, com previsões ou justificativas sem qualquer possibilidade de confirmação perante fatos, a prudência exige que não seja considerada inicialmente válida.

Recentemente, alguns médiuns famosos e muitos outros desconhecidos que talvez ambicionem a fama, têm se aventurado a publicar esclarecimentos sob a perspectiva espiritual da origem e direcionamento da atual pandemia, sem qualquer conexão lógica entre elas e com afirmações altamente questionáveis.

Apenas a superstição e a crendice, derivadas da fé cega, fazem com que tais comunicações sejam levadas a sério. Para exemplificar tal situação, basta apontar que algumas dessas mensagens tomam a Covid-19 como símbolo da transição planetária para uma era de regeneração, porém essa afirmação é descabida. Conforme o ensino dos Espíritos apresentados no capítulo 18 da obra “A Gênese”, o período de regeneração da humanidade é paulatino e já havia se iniciado quando assim se expressaram no século 19.

Certamente, a pandemia atual é um desafio a ser enfrentado, porém não se trata de fenômeno que fuja às leis naturais e, muito menos, não é um acontecimento isolado na história da humanidade.

A Peste Negra dizimou mais de 75 milhões de pessoas entre os anos 1347 e 1350, o que significou mais de 30% da população mundial da época. A gripe espanhola ceifou a vida de milhões de pessoas, após a Primeira Guerra Mundial. Além disso, surtos causados por coronavírus não são acontecimentos raros. Nas últimas duas décadas, tivemos o SARS-CoV, na China, em 2002 e o MERSCoV, síndrome respiratória do Oriente Médio, em 2012.

Ainda que os esclarecimentos sejam claros e versem sobre a naturalidade do flagelo enfrentado, conforme comentado nas questões 737 a 740 em “O livro dos Espíritos”, alguns adeptos não muito afeitos ao estudo doutrinário aprofundado ainda deixam-se levar por informações sensacionalistas e de caráter supersticioso.

Quaisquer interpretações dos fatos sem fundamento, considerando a limitação de nossa percepção espiritual, é prematura, assim como a aquiescência perante supostas revelações extravagantes, segundo as orientações que o próprio Kardec nos ofertou, em “O livro dos Médiuns”, sobre a natureza das comunicações (2ª parte, cap. 10).

Em síntese, qualquer suposta comunicação mediúnica, principalmente as disseminadas em redes sociais, deve ser analisada racionalmente, independentemente da autoria espiritual (geralmente algum nome bem conhecido para influenciar a relevância que se vai atribuir ao conteúdo) e de quem seja o médium (pois são pessoas comuns, sujeitas a erros e mistificações).

Superaremos os desafios atuais como fizemos com os outros flagelos registrados na história, com coragem, fé raciocinada, confiança nas próprias forças e na justiça divina.

* Artigo publicado originalmente no CorreioNews.

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