Marcelo Henrique
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A felicidade é “Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral a consciência pura e a fé no futuro” (resposta ao item 922, de “O livro dos Espíritos”).
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A felicidade parece ser a maior busca da Humanidade. Ser feliz é a pretensão, o desejo, a aspiração, o projeto de vida de cada criatura, presente praticamente em todos os discursos ou quando o indivíduo seja perguntado a respeito do que deseja da vida.
Há que se distinguir, todavia e inicialmente, felicidade e alegria. Esta última corresponde a instantes, momentos que têm duração variável e que pertencem ao âmbito dos sentimentos derivados de experiências específicas, onde se pode compreender o alcance das emoções. Já a felicidade… Ah, esta corresponde a um ideal de inspiração, como se, figurativamente, estivéssemos diante da linha de chegada de uma competição esportiva ou o ápice de uma montanha, após percorrer uma trilha.
Em outras palavras, podemos estar alegres, durante a trajetória humana, mas não nos sentirmos (plenamente) felizes. Mesmo assim, quando os contextos e enredos são favoráveis, dizemos estar de “posse” da felicidade, ainda que esta, porquanto fugidia, temporária e ilusória não seja permanente. Pelo menos não neste plano existencial.
Para os cristãos em geral a presença neste plano (físico-material), a Terra, recebe um cenário figurativo: o “vale de lágrimas”, representando os dissabores, as angústias e os sofrimentos nos cenários e ocorrências da vida, onde as lágrimas são em quantidade superior em relação aos sorrisos.
Para os espíritas, compreendendo a partir das noções da Filosofia Espírita, o objetivo (sentido) da encarnação, o prisma é um pouco diferente: lágrimas e sorrisos são não “condições” do planeta ou da própria existência física, mas são decorrentes da nossa (ainda precária e imperfeita) condição espiritual, no curso do progresso. E, por extensão, a morte (ou o regresso à vida espiritual sem os obstáculos e limitações impostos pela matéria) não nos catapultam para uma condição “feliz”, como num toque de varinha mágica, porque permanecemos sendo o que sempre fomos – com nossos pensamentos, gostos, pendências, simpatias e antipatias, com nossa visão do mundo, da vida e dos temas espirituais.
Então é bem provável que a “insatisfação” que sentimos em relação a muitas ocorrências da existência física sejam transportadas ou continuem do “outro lado”, em face de continuarmos tendo as mesmas impressões e interpretações. Logo, a felicidade ou infelicidade não é um “atributo” da vida material, mas um ESTADO DE ESPÍRITO.
Na questão 922, de “O livro dos Espíritos”, cuja resposta, transcrita, abre este nosso ensaio, Kardec faz um interessante questionamento: – se haveria, espiritualmente, uma medida comum de felicidade para TODOS os homens (Espíritos)? Mas, antes de perguntar, o Professor francês faz um oportuno aporte sociológico: “A felicidade terrena é relativa à posição de cada um”. E justifica esta premissa com um instrumento aferidor em termos de quantidade de elementos materiais: “o que é suficiente para a felicidade de um faz a desgraça para todos os homens”. Kardec, de modo inteligente, usa um “medidor” que é comum em análises deste campo (sociologia), para a separação entre os conceitos de necessário (necessidade) e supérfluo (abundância).
Ora, o ideário de satisfação ou não satisfação, que permeia as noções de necessidade/abundância ou necessário/supérfluo é, na forma e no fundo, um conceito matemático. Exemplifiquemos: com que valores você vive? Com quanto de dinheiro você passa “bem” o mês? A soma de suas receitas (ganhos) é suficiente para as suas necessidades imediatas? Você gasta, sistematicamente, mais do que ganha? Todos, portanto, elementos mensuráveis, quantitativos, matemáticos.
Então, voltando à sábia e abrangente (em termos de aplicações aos contextos da vida) resposta dada pelas Inteligências Invisíveis, por meio da mediunidade, a Kardec, pensei em uma fórmula matemática para representar o que seria a “tal” felicidade. Trata-se, pois, de uma equação ou fórmula complexa, composta por três variáveis que, em combinação, trazem como resultado a ideia (noção, vivência) da felicidade. Como qualquer composição matemática, os “quantitativos” das variáveis, quando somados, interferem na soma.
Isto significa, “a priori”, que, dependendo da alteração dos elementos (variáveis) da equação, ter-se-á resultados diferentes. Ou, em relação à nossa temática, o indivíduo terá MAIS ou MENOS felicidade, sendo MAIS ou MENOS feliz.
Em termos de matemática, a minha Fórmula da Felicidade seria:
F = PN + (CP + FF).
Representativamente: F (felicidade); PN (posse do necessário); CP (consciência pura); FF (fé no futuro). Ideias, aliás, da própria resposta ao item da obra primeira que estamos enfocando.
Voltando à fórmula, em temos matemáticos, há uma separação dos itens, já que dois deles estão entre parênteses e o primeiro, não. Isto porque o Espírito Luminar, na resposta ao prudente questionamento de Kardec, separou em “quadrantes” a resposta. Na sub equação que seria prioridade na resolução estão os itens de moralidade (consciência pura e fé no futuro, somados entre si), para depois ser acrescentado ao item material (a posse do necessário).
Este contexto também é excelente para pontuar acerca dos dois critérios de progresso em termos espirituais: inteligência e moralidade. O segundo está claramente explícito na explicação dada pelo Espírito, apresentando os dois valores que, moralmente, endereçam o ser para a sua própria felicidade. E o primeiro possui um elemento característico de racionalidade que quantifica os bens que são necessários para uma vida “tranquila”, isto é, sem precariedades nem insuficiência, ao mesmo tempo em que é recomendável que não haja desperdícios nem abusos.
Notemos, pois, que, aparentemente, não há ordem de “escolha” na dedicação às variáveis (consciência, fé, e o necessário), separadamente, porque é o conjunto formado por eles (somatório) que irá representar, em face do esforço pessoal e da melhor prática daquelas variáveis, a MAIOR ou MENOR felicidade, ou a felicidade MAIS ou MENOS duradoura. Todavia, é bom associar esta resposta a outra, do mesmo livro, assim expressa: o progresso moral, em relação ao intelectual “É a sua consequência, mas não o segue sempre imediatamente”.
Esta associação que fazemos, ao terminar este artigo, deveria ser o modo de estudo e aprendizado de TODOS os que se dizem espíritas, evitando a “ditadura” dos termos (palavras) ou a imposição estanque de uma afirmação (em algum trecho das 32 obras de Kardec, em posição superior a qualquer outra afirmação, nos mesmos títulos). Veja-se que para a Fórmula da Felicidade, o que parece ser mais “fácil” ou “rápido” agir com o entendimento lógico-racional (intelectualidade), entendendo, na composição constante da resposta à questão 922, que o “caminho” para (ou da) felicidade passa pela compreensão, em primeiro plano, da distinção entre NECESSÁRIO e SUPÉRFLUO. Depois, os elementos relacionados à consciência pura e à fé no futuro – de espectro moral, ou ético – ao primeiro se agregam e o indivíduo, conscientemente, passa a gozar de mais felicidade do que antes.
Assim, sabedores do “percurso” a ser empreendido por nós na direção da felicidade, que tenhamos perseverança e entendimento para prosseguir sendo, a cada dia que começa, melhores do que no anterior. Será que podemos fazer isso? A felicidade nos aguarda…
Imagem de Cheryl Holt por Pixabay
Sem dúvida, foi essa noção que aprendi com a Filosofia Espírita, procurar ser e agir hoje melhor que ontem e fazer aos outros o que gostaria que os outros me fizessem, essa máxima que me norteia. Tenho tido enorme retorno e tenho conhecido em muitos momentos a Felicidade. Os meus melhores votos são para que esse conhecimento chegue a mais dos que estão no meu entorno. Excelente reflexão para todos os que tiverem acesso a este artigo. Grata.
Dizemos sempre que o uso de fórmulas para guiar nossas vidas restringe nossa capacidade de pensar, mas essa fórmula nos ajuda a entender os conceitos. A partir dela podemos desdobrar nossas próprias fórmulas.