Onde está a Justiça?, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 3 minutos

Marcelo Henrique

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O sentimento da Justiça “Está de tal modo em a Natureza, que vos revoltais à simples ideia de uma injustiça” (“O livro dos Espíritos”, resposta parcial ao item 873).
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A Justiça (e a injustiça que caminha, ainda, lado a lado com a primeira, devido à precariedade espiritual dos que habitam a Terra) é um dos temas mais apaixonantes da Humanidade. E, em especial, da Doutrina dos Espíritos.

Ao se interessar pelo tema, ainda na fase inicial da Filosofia Espírita, consultando os Espíritos (Superiores) nas preliminares reuniões mediúnicas de meados do Século XIX, na França, Kardec desejou conhecer a dinâmica da Justiça Divina. Com a habilidade de um professor, foi delineando, parte a parte, o livro primeiro e resolveu organizar a terceira parte para tratar das Leis Morais (ou Divinas, ou Universais), interpretando-as com os parâmetros do Espiritismo.

Nesta obra, a última das Leis que Kardec organizadamente explana, é a Lei de Justiça, Amor e Caridade (itens 873 a 892, de “O livro dos Espíritos”). Note, preliminarmente, que a Justiça não aparece sozinha, como as demais nove leis anteriores. A Justiça, portanto, anda de mãos dadas com o Amor e a Caridade, representando uma perfeita e inafastável simbiose na “administração” das Leis Divinas, e em sua aplicabilidade em relação aos Espíritos.

E por que o Amor associado à Justiça? Porque na distribuição das valorações que costumeiramente fazemos em relação às atitudes dos outros – julgando, na expressão popular – é recomendável que exercitemos o verdadeiro amor, dentro de nossas capacidades, já que somos seres ainda bem imperfeitos. Para que nos espelhemos, ainda que de forma bem distante, no padrão de gestão da Justiça no Universo, que se vale da amorosidade para “dar a cada um segundo suas obras”, conforme teria dito o Magrão, há dois mil anos.

Já a Caridade… bem, esta é o “amor em ação”, simbolizando que o Amor precisa estar em movimento, e que as atitudes direcionadas ao próximo, no sentido de auxílio, envolvendo a misericórdia, a compreensão e o perdão das ofensas. Lembrando, novamente, do Rabi, o amor ao próximo – e quem é o nosso próximo? – é uma “chave” que nos direciona à perfectibilidade espiritual.

Deste modo, imaginemos, mesmo com a falta de um vocabulário (humano) mais preciso e diante no nível de compreensão de Espíritos imperfeitos que somos que, no Universo, vige a Justiça embasada do Amor (do Pai e entre os Espíritos) e na Caridade (o “fazer aos outros o que quereríamos nos fosse feito”, não é Magrão?).

Ainda no capítulo mencionado, na primeira parte (Item I, do Capítulo XI) estão presentes alguns elementos que merecem destaque, por serem os caracteres gerais da Justiça segundo o Espiritismo (entre parênteses o número da questão da obra primeira):

I) A melhor noção de Justiça deriva do progresso moral do Espírito, razão pela qual, na existência física, pessoas simples, sem instrução formal possuem dela noções mais exatas, por vezes (873);

II) O entendimento acerca da Justiça é variável entre os Espíritos, de modo que o senso da diferença entre justo/injusto (874);

III) O conceito espiritual de Justiça consiste no respeito aos direitos, de um para os demais humanos, tanto segundo a lei natural (Divina) quanto a humana (875);

IV) A noção de justiça está no “coração” do homem (Espírito), o que, na verdade, é a consciência espiritual (876), sendo que em outro tópico, ficou consignado que as Leis Divinas estão “grafadas” na consciência do Espírito (621);

V) O respeito ao direito dos semelhantes é a primeira de todas as necessidades da vida em sociedade (877);

VI) O limite para o entendimento de quais direitos nos pertencem ou aos outros está no reconhecimento que eles têm os mesmos direitos que nós (878); e,

VII) O homem que pratica a Justiça em toda a sua pureza é o verdadeiro justo, frisando, novamente, a união entre Justiça, Amor e Caridade e não a sua dissociação (879).

Vale lembrar ainda que o tema “Justiça” não foi esgotado no primeiro livro de Kardec. Depois, em “O Céu e o Inferno” – cujo subtítulo é “A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, o tema volta à baila, mas com outro contorno, para expressar o (necessário) conhecimento espiritual-espírita acerca do Porvir (isto é, o pós-morte, o retorno ao Mundo dos Espíritos), com o “futuro” dos Espíritos após o desencarne, que, também, recomendamos a leitura.

Se é fato que, por ora, ainda não tenhamos uma noção mais acurada do que seja realmente a Justiça de Deus, os apontamentos contidos na Filosofia Espírita nos endereçam a olhares mais aguçados que nos permitem entender as contingências da vida física e os relacionamentos que travamos com outros homens (Espíritos), buscando, na essência da proposta espírita, uma melhor compreensão interpessoal (ou interespiritual) a fim de sermos, o quanto possível, melhores, seguindo o Progresso que é uma outra lei aplicável a todos os Espíritos. E aí conseguiremos responder à pergunta-título deste ensaio: – Onde está a Justiça?

Explicando estas circunstâncias, podemos ter, se quisermos, um desempenho melhor, abreviando a nossa caminhada. Que tal?

Imagem de Jim Semonik por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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