Muitos barcos navegando em um mesmo oceano, por Júlia Schultz & Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 4 minutos

Este momento que estamos atravessando, o da pandemia, é peculiar para que olhemos para o nosso interior, para a nossa Espiritualidade e, por não dizer, para a nossa Mediunidade, já que todos somos médiuns.

A vida pode ser comparada como uma travessia num oceano gigantesco. Seu objetivo é sair de um porto e, após algum tempo, chegar ao seu “destino”, um outro porto. E, de preferência, “são e salvo”! Como será essa travessia, de antemão, nós não sabemos. Mas, aceitamos embarcar, içar âncora e desfraldar velas, no timão da embarcação.

No oceano, haverá dias bons e ruins. Como diz aquele bordão náutico: “Mar calmo não faz bom marinheiro”. Ou seja, haverá provas, contratempos e desafios, em que nossas habilidades e capacidades, permitirá vencê-los e seguir o curso.

Em dias como estes, da pandemia e das “quarentenas” a que estamos prudentemente submetidos, escutamos a frase: “Estamos todos no mesmo barco!”. Será mesmo?

Estar no mesmo barco significa que todos teriam situações similares, em que haveria semelhança no “preparo” do capitão da própria embarcação (vida) e, em suas mãos, estariam os mesmos ou parecidos recursos. Estamos num mesmo “oceano” (a existência neste planeta), mas em barcos separados (a vida de cada um). Na mesma tempestade, o seu barco pode afundar… e o meu não… Ou vice-versa.

A liberdade de escolha e de consciência nos fez optar por diversos caminhos, entre os disponíveis. Formação familiar, opções educacionais, área de atuação, cursos de aperfeiçoamento, processos seletivos, convites de trabalho, ter o próprio negócio, ser o próprio patrão, lugar para morar e trabalhar, etc.

A tempestade (pandemia) está à nossa frente e os barcos são diferentes uns dos outros. Alguns com a embarcação atracada ou presa à âncora, esperando a tormenta passar, pois têm “mantimentos”. Outros, precisam ser criativos ou dependem da caridade de outros.

Para alguns, este período pode ser ótimo. Ficam em casa, arrumando estantes, armários, reencontram objetos ou fotos antigas… Descansam, ficam até mais tarde na cama, olham pela janela, afagam um bichinho, conversam com filhos, pais, companheiros, assistem um programa favorito. Outros trabalham ou estudam em home-office…

Outros estão em crise, torturante. Querem voltar logo ao trabalho. “Como vou pagar minhas contas?!”. O dinheiro, no fim ou acabou. “O que vou fazer agora que me demitiram?”. Uns, com muita Fé em Deus e na esperança de “milagres”. Outros dizendo que o pior ainda está por vir!

Então, nós não estamos no “mesmo barco”! O meu barco é diferente do seu (e isto não significa melhores (ou piores) condições financeiras. É preparo, serenidade, criatividade, equilíbrio, temperança, solidariedade, maneira de encarar os revezes e fortaleza interior para olhar para a frente e viver da melhor maneira possível. Ou não.

Se todos, estamos passando pelo mesmo momento existencial, como coabitantes do mesmo planeta, cada um tem percepções, análises, experiências, convívios, necessidades e decisões que são pessoais e COMPLETAMENTE diferentes.

Por isso, cada qual irá viver de um jeito peculiar e individual esta “tempestade”. Lá na frente, para os sobreviverem, haverá frutos das semeaduras feitas, antes e agora a colher. Que qualidade terão? Como irão nos saciar? Por quanto tempo estarão disponíveis? Que plantios novos nos esperam? Ainda não sabemos…

O momento é delicado e decisivo. Religiosos e filósofos dizem ser uma encruzilhada para o câmbio de alguns paradigmas existenciais, na forma como encaramos a vida e as situações da existência, ou o tipo de relacionamento que travamos com os outros. Cientistas destacam a necessidade de transformação no trato para com o ambiente planetário, em relação a nós mesmos e as futuras gerações.

De qualquer modo, após a pandemia, o planeta não mais será o mesmo. Haverá mudado substancialmente. Para melhor, esperamos.

Algumas ideologias espiritualistas já prescreveram que o orbe estará mais qualificado, pelos progressos individuais e coletivos dos que aqui estão e dos que chegam. Uma nova revolução, quântica, sensorial, transcendente, irá aproximar pessoas e povos, remontando a velhos adágios e parábolas sobre o “como tratar o próximo”…

Oxalá!

Por hora, gostaríamos de dizer, carinhosamente, que é muito importante tentar ver o que não se enxerga (pelos olhos físicos), como um velho pensador teria dito sobre os “olhos de ver”. E transpor os muros que ainda nos separam dos outros, por ideologias, padrões culturais, classes sociais, preferências políticas, religiões, interesses corporativos ou associativos. Tentar enxergar além dos nossos próprios umbigos ou da direção comum para onde apontam os nossos narizes.

Entender além da mera visão inicial e costumeira. E o importante: não menosprezar as dificuldades, impressões, percepções, necessidades ou dores que o outro esteja sentindo. Necessário sair do bordão que se repete: “a vida boa é a do outro”, porque ele reúne as condições (materiais ou psíquicas) que você não tem. Você não sabe o que ele passou para estar naquela posição.

Portanto, não minimize nem ridicularize o outro e suas ideias, só porque discorda delas. Cada um pensa, se expressa e age da maneira como sabe e aprendeu. Não julgue! Fale sobre você, suas percepções, sua forma de enfrentamento das dificuldades. Divida suas impressões, nos diálogos das redes sociais, sem pretender submeter o outro às suas regras de procedimento, nem o ensinar a cuidar das próprias feridas…

Este é, singularmente, um momento de UNIÃO. De solidariedade e auxílio às dores dos outros. De compaixão por aqueles que têm menos condições e ferramentas para lidar com a navegação na tempestade. Se puder, ajude-o a enfrentar a tormenta, oferecendo alguns mantimentos ou equipamentos para ele. Isto é uma forma especial que todos temos de VIVER a NOSSA MEDIUNIDADE!

E, como estamos em barcos diferentes, que a sua travessia chegue ao destino final com menos avarias possíveis. Mas lembre-se de ofertar uma boia, um colete salva-vidas, um pequeno barco, uma corda para rebocar aquela outra embarcação. Como aquele que chega ao topo da escada e não se sente orgulhado, ensimesmado, vaidoso e se esquece daqueles que tropeçaram e ainda estão dependurados, prestes a cair.

Estenda, se puder, a sua mão! O oceano (a vida) agradece!

E D I T O R I A L: Perante a pandemia

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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