Divulgamos a excelente entrevista de Júlia Schultz ao “Jornal do Pensador”, aproveitando o mote do Mês da Mulher.
Acompanhe o texto, abaixo. E, se o desejar, salve a edição completa do periódico para leitura e apreciação (link ao final).
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Carlos Barros
Estamos caminhando bem, em termos de avanços, ainda que falte bastante para termos igualdade e equidade. Nos últimos dez anos três marcos foram bem relevantes: o aumento do tempo de licença maternidade para seis meses, ainda que não seja em todos os casos, mas está se expandindo; a Lei do Feminicídio; e a criminalização da importunação sexual feminina.
Jornal do Pensador (JP) – Por que é importante comemorar o Dia Internacional da Mulher?
JÚLIA – Porque, ainda que o dia da mulher sejam todos os dias, a ONU oficializou esta data na década de 70, quando a principal luta era a equiparação salarial. Seguimos num mundo em que, há muitos lugares com discrepância salarial em relação as mulheres que recebem menos pelo simples fato de serem mulheres.
JP – Como você avalia a conquista de direito das mulheres nos últimos dez anos?
JÚLIA – Estamos caminhando bem, em termos de avanços, ainda que falte bastante para termos igualdade e equidade. Nos últimos dez anos três marcos foram bem relevantes: o aumento do tempo de licença maternidade para seis meses, ainda que não seja em todos os casos, mas está se expandindo; a Lei do Feminicídio; e a criminalização da importunação sexual feminina.
JP – Elas ainda têm muito o que conquistar?
JÚLIA – Certamente. Seguimos lutando pela igualdade salarial, mas, também, pela equidade em relação aos direitos das mulheres, as diferenças que poucos valorizam, mas todos precisam enxergar. Como é o caso da jornada dupla considerando vida profissional e cuidados com o lar, que ainda recaem muito mais sobre as mulheres e das diferenças hormonais, que tornam as mulheres mais vulneráveis a uma série de questões e nada disto é tratado com o devido cuidado.
JP – Quais as principais desigualdades enfrentadas pela mulher no campo profissional?
JÚLIA – A desigualdade salarial é uma das principais. Os maiores cargos que geralmente não consideram as mulheres, a disputa por vaga de emprego que em muitos lugares dão preferência aos homens pelo simples fato deles não engravidarem e não terem tantas oscilações hormonais, e o assédio moral e sexual que é mais frequente com as mulheres.
JP – Como você analisa a violência contra a mulher em pleno século vinte e um?
JÚLIA – Uma gravíssima falha humana, que precisa urgentemente ser extirpada. Porém, estamos caminhando muito melhor neste aspecto, visto que várias ações foram adotadas neste sentido. Como é o caso de empresas que têm sinal convencionado para a mulher comunicar que sofre de violência sem precisa falar – botão de socorro, campanhas em meios de comunicação e orientações de profissionais que ensinam formas de avisar acerca da violência, o que encoraja as mulheres à denúncia.
JP – Qual a relevância da Lei Maria da Penha neste contexto?
JÚLIA – Extremamente relevante, pois, a partir da sua criação em 2006, muitas mulheres passaram a se sentir mais protegidas, de modo que antes não ocorria. Visto que atualmente há a prisão preventiva do agressor, ele não pode cumprir pena alternativa e há possibilidade dele ser proibido de se aproximar novamente da vítima. Neste sentido, ainda que não seja possível evitar, por completo, a violência, é possível a não reincidência. Assim as agressões diminuíram, porque o agressor sofre consequências mais severas e isto também encoraja a denúncia.
JP – Houve melhora ao longo dos anos, com relação à proteção e ao acolhimento da mulher atingida pela violência doméstica?
JÚLIA – Houve, desde que a Lei Maria da Penha foi criada. A forma de punição foi modificada e maior incentivo às denúncias sobre a violência. Hoje há a Delegacia da Mulher que é especializada no atendimento à mulher. Também há, neste sentido, ONGs, abrigos, redes de proteção à mulher, instituições empresariais, grupos de mulheres que sofreram violência, para que estas tenham apoio tanto quando as situações ocorreram posteriormente, para o reestabelecimento da saúde física, psicológica e emocional.
JP – Suas considerações finais, com nosso agradecimento por sua especial participação nesta pauta de Bate Papo para a CEI Paraíba.
JÚLIA – Que possamos, todos nós – mulheres e homens – lutar pelos direitos e buscar a igualdade e equidade tanto na legislação quanto nos nossos trabalhos, lares e condutas. E, em cada pequeno gesto, que a empatia fale mais alto. Que sejamos capazes de ir além dos nossos muros, por um mundo melhor para se viver. Agradeço o convite do coordenador da CEI Paraíba, Carlos Barros, desejando-lhe paz, saúde e prosperidade espiritual.
* Entrevista publicada no “Jornal do Pensador”.
Para ler a edição completa:
JORNAL DO PENSADOR Março 2022 CEI Paraíba Edição Corrigida.pdf – Google Drive