No três de outubro, nosso olhar novamente a ele se volta, com relativo saudosismo.
Ele é como aquele amigo, com quem tanto tempo convivemos e que deixa suas marcas em nós, quando se vai.
Tudo o que fazemos, aquilo que visualizamos, cada letra, cada página, está associado à personalidade ímpar do homem que empreendeu hercúleo e solitário esforço para legar à Humanidade uma perspectiva nova de encarar a vida, o passado e o porvir.
Da sua observação de fatos e fenômenos
Nasceu a interpretação lógico-racional das causas, a partir dos efeitos, compondo um sistema que se valia de princípios fundamentais e que permitia entender melhor o homem, a partir da lente que o apresentava como espírito, imortal, senhor de si, dotado da consciência de si mesmo e do livre-arbítrio.
Não mais as prescrições religiosas sobre seu destino, incerto.
Não mais o poder divino-temporal de autoridades eleitas ou reconhecidas, capazes de ser-lhe os únicos caminhos para a redenção ou a paz.
Não mais a perspectiva de granjear, no futuro, posição melhor, pela utilização de valores materiais na pavimentação de tal estrada de acesso.
Não mais temor, culpa, salvação. Apenas, merecimento, crença em si e oportunidades, tantas quantas possíveis e necessárias.
Imagino Kardec observando o que é dito em “seu” nome, ou em nome da Doutrina Espírita, hoje em dia
Pareço ver-lhe com o semblante carregado, até entristecido, por ver tanta dificuldade de compreensão daqueles princípios, e pela insistência em aglutinar, sob a bandeira da fé espírita-cristã, tantos adereços e complementos que são bastante naturais em ideologias-irmãs, erigidas sobre o pensamento atribuído ao Homem de Nazaré.
Chego a perceber, ainda, talvez, um desejo sincero de poder volver à carne, quem sabe neste imenso país sul-americano, para reunir em torno de si muitos dos que escutaram e aquiesceram ante o chamado da mudança, mas que se veêm limitados diante de tantas imposições e padronizações que pertencem, tão-somente, ao universo das associações humanas.
Talvez ele se recorde de que, com sua antevisão, previu que estaríamos, os espíritas, envoltos em cismas, sobretudo pela impossibilidade de ouvir, um ao outro, e de buscar um consenso possível, entre as similitudes de entendimento ou interpretação dos postulados espiritistas.
Ou, em algumas dissertações, disse que não seria necessário, ao adepto interessado da doutrina, que ele abandonasse suas crenças pessoais ou, até, a sua própria religião.
E, ainda, estabeleceu um cronograma de evolutividade da própria Filosofia Espírita, na forma de períodos, enquadrando o atual como o “religioso”.
E nós, ainda, permanecemos cuidando de pequenas rebarbas, de detalhes interpretativos quase que insignificantes, volvendo nossas atenções para as diferenças que nos distanciam, sem preferir um caminho ou uma ponte que nos aproxime enquanto partidários dos ideais de espiritualidade superior contidos nas obras que ele nos legou, a partir de colóquios sensatos com as Inteligências Invisíveis.
Há quem deseje, de coração aberto, o retorno de Rivail às hostes espiritistas para corrigir alguns percursos ou estabelecer novas diretrizes de organização material às entidades que congregam os partidários do Espírito Verdade.
Projetam, talvez, que ele, ao retornar, pudesse fazer novas “viagens espíritas”, publicar uma revigorada “Revue Spirite”, o seu laboratório, e se utilizar da ampla gama de recursos tecnológicos de ponta para alcançar a universalidade dos seres encarnados neste planeta, numa linguagem cativante, de esperança e de despertamento.
Ele precisa renascer!
Talvez, não como alguns imaginam, em uma encarnação que seus mentores haviam dito que ele teria, para “continuar a obra”.
Um novo nome, uma nova identidade, em personalidade humana que seria reconhecida por seus feitos, atuais, repaginados à altura da contemporaneidade, logo de pronto associada àquela do Professor Francês.
Kardec precisa renascer, sim!
Mas, em ESPÍRITO, em nós, seus adeptos e continuadores, para que seja, de fato, a inspiração para a retomada da trajetória de real INFLUENCIAÇÃO sobre os homens que estão encarnados neste orbe. Afinal, já tarda a oportunidade, o galo já cantou as três vezes, já se foi a undécima hora; os bons precisam assumir a predominância (“O livro dos espíritos”, questão 932)!
Excelente dissertação. Precisamos sim, despertar em nós, a fidelidade kardequiana, que anda um pouco adormecida em nossas almas.
Bonaserata. Estou a um tempinho sem entrar em conversas aqui mas sempre lendo e procurando ativar em mim os neurônios necessários para sempre e sempre e sempre buscar compreender, assimilar e questionar os pontos que julgo necessários em meu entendimento. Cai como uma luva este artigo mas posso assegurar que muitos irmãos de doutrina ainda continuam perdidos no mundo do zap. Falam absurdos e não ficam vermelhos. Vou continuar trombando com pensamentos retrógrados e sem fundamentações e se achar que é perda de tempo continuar não pensarei 2 vezes. Congratulations pela coragem de expor pensamentos que trombam com muito do que outros articulistas famosos continuam a proliferar nas redes. Estamos juntos e misturados. Abraços.
Se dúvidas houvesse ele próprio deixou escrito o seu pensamento para que todos tenham a certeza de que Espiritismo não é religião, como nos lembra este texto, ..”não seria necessário q o adepto deixasse a sua crença, ou a sua religião pessoal …” e nós os seus seguidores em vez de estarmos unidos no Espiritismo cujo conhecimento nos foi legado,continuamos a querer que ele Revail, nos venha repetir materialmente, o que já sabemos espiritualmente, mas que teimamos em divergir em interpretações enviesadas desta Doutrina tão sábia, que só inteligências superiores poderiam ter-nos ensinado. Sim desejo que o legado do Professor Revail, renasça no pensamento e nos corações de todos os que já o conhecemos e nos, que , pelo nosso exemplo o venham a conhecer. Está nas nossas mãos espalhar a mensagem no vento. Obrigada pela bela homenagem ao homem que nos deixou tão maravilhoso legado.