É Treze, é sexta-feira!, por Marcelo Henrique e Júlia Schultz

Tempo de leitura: 6 minutos

Marcelo Henrique e Júlia Schultz

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O significado dos números é importante para o autoconhecimento e o conhecimento de quem convive conosco. E a Filosofia Espírita nos auxilia a entender que há explicações lógico-racionais distantes do misticismo e do sobrenatural.

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O imaginário popular e o inconsciente coletivo são forjados em meio à caminhada gradual da Humanidade. Certas situações, enredos ou datas guardam um mistério e alcançam um peso que se espalha e se consolida, mesmo entre pessoas que sejam mais racionais. Mas, quando se percebe, em face de um diálogo ou uma notícia, até estes se “contagiam” com superstições ou crendices.

É o caso do número 13 e, mais particularmente, quando associado a um dos sete dias da semana, a sexta-feira. Pois hoje é sexta-feira, 13 e, portanto, um excelente mote para tratar de razoabilidades e de fantasias, deixando a cada um o mister de seguir aquilo que “fale” mais de perto à própria consciência.

Antes disso, vamos aos “fatos” e aos “números”…

A sexta treze: os “fatos”

Há algumas ilações e lendas envolvendo a sexta-feira treze. Vamos a elas.

Inicialmente, o número treze e o dia da semana, associados, têm ligação com os últimos momentos de Yeshua sobre o planeta. Trata-se da sexta-feira da paixão, que foi celebrada, conforme o costume judaico, no dia anterior à Páscoa (que se celebra no dia 14 do mês Nissan, segundo o calendário hebraico). Além de ser o décimo terceiro dia do mês e uma sexta-feira, estavam presentes, segundo a tradição cristã, treze pessoas: Yeshua e os doze apóstolos. 

Uma lenda muito antiga entre os países nórdicos consagra uma divindade do amor e da beleza, Frigga (que inspirou os nomes “Frigadag” e “Friday”, este último, sexta-feira no idioma inglês), uma versão para a Afrodite grega e a Vênus romana. Conta-se que ela teria sido convertida em uma bruxa que se juntou a outras onze e mais o demônio, totalizando treze entidades para atormentar a humanidade: sexta mais treze, portanto.

Ainda entre os nórdicos, no Século XII, nos textos de Eddas, uma divindade é mencionada: Loki, conhecida pela astúcia e manipulação, magia, trapaças e travessuras. Conta-se que, numa sexta, 13, um banquete especial foi preparado para doze divindades e, na hora, apareceu mais uma, a décima terceira. Ente os comes e bebes, ele disseminou uma briga terrível, que resultou na morte de Balder, que era o mais simpáticos dos deuses, resultando no amaldiçoamento desta data.

Depois, em 1307, o rei francês Filipe IV (1268-1314), um monarca pra lá de polêmico, em 13 de outubro desse ano, uma sexta-feira, ordenou a prisão e execução dos Cavaleiros Templários na França, incluído o grão-mestre da Ordem, Jacques de Molay, queimado vivo na fogueira. O reino estava bastante endividado com os templários e os acuso de heresia, justificando a prisão em massa e o confisco dos bens da corporação. Isto levou a considerar, a partir de então, a sexta, 13, como “dia de azar”.

Ainda na Idade Média, vamos encontrar Jehanne d’Arc (1412-1431), heroína francesa da Guerra dos Cem Anos (França versus Inglaterra), que foi considerada bruxa, tendo sido julgada e apenada à morte na fogueira pelo Santo Ofício (Tribunal de Inquisição da Igreja Católica). A tradição da época era prender e torturar diariamente as feiticeiras, para executá-las. As primeiras foram mortas em um dia 13, uma sexta-feira. 

O “poder” dos números

O número treze, para a Numerologia Pitagórica é considerado em dois sentidos. 

O primeiro, representado pelos números que o compõem, isto é, o UM e o TRÊS, porque para a Numerologia Pitagórica importam os algarismos de 1 a 9.

Assim, o número UM é a energia do começo, tem o brilho do Sol, o símbolo dos inícios e reinícios, da individualidade (o ser, uno) e da coragem (iniciativa). Ele carrega a energia da liderança e da vontade íntima de que as coisas aconteçam, fazendo de tudo para isso. Também está associado à tendência do indivíduo ter coragem, iniciativa, sabedoria e disposição.

O número TRÊS, por sua vez, é a representação da criança, criativo, otimista, comunicativo, costuma ter uma abordagem leve em relação à vida. Ele está associado à expressão pessoal (visão exterior), à comunicação e ao desejo de aproveitar as oportunidades com alegria, estando correlacionado à autoconfiança, à fertilidade, à liberdade e ao otimismo.

Juntando-se ambos, tem-se a junção das características unitárias, fortalecendo o conjunto.

O segundo é derivado justamente da soma entre os números (1 + 3 = 4), e este novo número, o quatro, tem maior importância do que as energias dos números separadamente (o “1” e o “3’), simbolizando a energia dos mais velhos, dos avós, o respeito às regras, à estabilidade, às estruturas, ao planejamento e à delimitação de uma base sólida para crescer e a ausência de riscos. Difere, assim, da iniciativa característica do “1” e da alegria peculiar do “3”, sendo, então, mais organizado, metódico, objetivo e conservador.

Deste modo, é possível perceber a “magia” que o número 13 representa para a maioria dos indivíduos, em face desse “aparente” conflito entre os números unitários, com uma luta interna entre segurança e risco e, também, entre a postura tradicional e a rebeldia.

Então, a recomendação da Numerologia, no sentido do entendimento do número treze vai na direção de que, com ele, tem-se a possibilidade das pessoas conseguirem lidar com as características extremas (e, até, contraditórias) desse número. Como? Justamente pondo em prática o componente da comunicação interpessoal, com muita determinação e empenho para ser compreendida, sem perder a sabedoria (de entender as situações) e a originalidade (de ser quem se é).

Vale ponderar, também, que a atitude de receio em relação ao treze pode constituir, mesmo inconscientemente, uma resistência às mudanças e, por extensão, um freio (íntimo) para novas experiências. A atitude recomendável diante deste número “desafiador” é a de que se permitir sair dos limites da zona de conforto, para poder correr riscos (que é o que se tem quando se lança no desconhecido), mas sempre com os pés no chão: é justamente essa dualidade, essa incerteza, que é confundida ou indevidamente interpretada como “azar”.

É exatamente neste ponto que figura a soma, o quatro, já visto, porque este representa a ideia de exigência de previsibilidade e maior segurança. Equilibrando-se tais energias numéricas, é possível ao indivíduo ser mais criativo, otimista e determinado, dentro de uma vida ao mesmo tempo dinâmica, mas equilibrada.

Sorte ou azar?

Botticelli (2024), em seu artigo, pondera sobre estas duas circunstâncias antagônicas, sobretudo em relação à ideia de que os indivíduos possam ter sido “bafejados” pelo hálito divino, para existências com boa ou má sorte.

Diz ele: 

“a teoria mais básica, diz que nós produzimos nosso destino, e implica que quando acontecem tais situações, em que o azar e a sorte são atribuídos, são na verdade, situações cotidianas, onde soubemos (ou não) aproveitar as oportunidades. Isto mesmo, sorte e azar nada mais são do que as nossas escolhas, devidamente executadas, com resultados positivos (favoráveis) ou negativos (contrários)”.

É muito cômodo entender que circunstâncias externas sejam as determinantes para o sucesso/insucesso em nossos empreendimentos. Ou, também, justificar a influência de seres imateriais na condução das situações da existência, ou, ainda, um destino predeterminado para as criaturas.

Mesmo que muitas pessoas, presas a conceitos atávicos derivados das religiões ou crenças acreditem em graças e maldições divinas, não há sustentabilidade lógico-racional para tais pensamentos. É o que veremos a seguir.

A Filosofia Espírita

Concebida como uma doutrina filosófica que se sustenta sobre a racionalidade lógica, o Espiritismo não dá azo para crenças místicas ou para o sobrenatural. Por isso, não valida crendices ou superstições, embora respeite a forma peculiar de entendimento e as expressões populares ou vinculadas a seitas ou religiões.

Assevera Kardec (1998:20), que:

“O Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição”.

Na explicação dos fatos da natureza humano-espiritual (isto é, aqueles que ocorrem com o Espírito em sua vida como encarnado) e das relações entre os Espíritos (encarnados e desencarnados), a Filosofia Espírita se afasta de determinismos e causalidades fortuitas ou sobrenaturais. Em outras palavras, não se terceiriza a responsabilidade, porque os fatos de nossa existência decorrem de atos anteriores, na dinâmica da Lei (Universal) de Causa e Efeito e – no atual estágio em que individual e coletivamente nos encontramos – correspondem a expiações e provas às quais todos estamos sujeitos.

Portanto, não é uma data, um número, ou elementos materiais como talismãs são elementos capazes de atrapalhar, influenciar ou modificar o andamento de nossas vidas. Quando muito, é a interpretação ou consideração (mística ou sobrenatural) que pode condicionar, por nossas ações/omissões dada situações, isto é, é o condicionamento pessoal de receio, temor ou prevenção que pode fazer com que situações negativas ou positivas, em termos de azar ou sorte, sejam verificadas.

Assim, que possamos encarar a sexta-feira, 13, como um dia qualquer daqueles que compõem o ano e o calendário civil, esforçando-nos para realizar nossas melhores atitudes. E, intimamente, que a data seja encarada como mais um conjunto de 24 horas em que podemos estudar, aprender, trabalhar e sermos o quão felizes pudermos.

Boa sexta, 13, para você!

Referências:

Botticelli, A. H. (2024). Azar e Sorte: ensaio sobre as (Des)Graças Divinas. Espiritismo COM Kardec. Disponível em: <https://www.comkardec.net.br/azar-e-sorte-ensaio-sobre-as-desgracas-divinas/>. Acesso em 13. jun. 2025.

Kardec, A. (1998). O livro dos Médiuns. Trad. J. Herculano Pires. 20. Ed. São Paulo: LAKE.

Imagem de Paul Henri Degrande por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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2 thoughts on “É Treze, é sexta-feira!, por Marcelo Henrique e Júlia Schultz

  1. Apesar da razoabilidade do texto, sou obrigada a pensar que haverá alguma razão para a má fama da 6-feira 13…hoje 6-feira 13, do mês 6 de 2025 deu-se um evento que poderá desencadear um grande revés para a Humanidade, o Estado de Israel que se auto intitula o povo escolhido por deus, declarou guerra ao Irão, que poderá retaliar com uma bomba nuclear. É efectivamente um dia de tristeza para todos nós.