Desprezo pelos livros, por Cláudio Bueno da Silva

Tempo de leitura: 3 minutos

Cláudio Bueno da Silva

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Se em nações democráticas, com estabilidade entre os poderes e respeito às Constituições, não é simples avançar em conquistas por conta das forças contrárias que sempre há, o que dizer daquelas em que o delírio distópico atropela a razão e o bom senso, e em que os anseios vitais das populações são controlados por quem domina?

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Não me sinto confortável em saber que um Chefe de Estado possa odiar livros. E minha indignação aumenta ao pensar que deve haver muitos casos desse tipo no meio político. 

Fico pensando na sugestão destrutiva que um “líder de barro” exerce sobre os seus seguidores ao revelar possuir esse perfil tão pouco lisonjeiro e adequado a uma função pública. E penso também na responsabilidade que ele assume perante os milhões de pessoas submetidas à sua liderança. 

Entendo que odiar livros é um sentimento obtuso em qualquer indivíduo, e mais grave ainda quando se trata de um dirigente de um país, o que só atesta sua flagrante incapacidade para ocupar esse cargo.

Quem despreza os livros necessariamente desprezará a cultura, a educação, as artes, a ciência, e toda e qualquer referência humanística. Constatar a sua existência entre nós, hoje, é como estar diante de instigadores da desinformação, idealizadores de um futuro bárbaro para a Humanidade. 

“Livros… ora, o mundo pode muito bem passar sem eles”, afirma um personagem do escritor americano Ray Bradbury, em Fahrenheit 451, obra chamada distópica, escrita em 1953. Narra a perseguição de autoridades de Estado a pessoas que apreciam leitura e que expressam desejos de liberdade, igualdade e fraternidade. Onde quer que haja livros, equipes de bombeiros organizam operações para queima-los, impedindo assim a expansão “da praga do conhecimento”.

É, notadamente, uma obra de ficção, mas que denuncia o autoritarismo, a opressão, o cancelamento, a anulação das virtudes, a inversão de valores consensuais das sociedades civilizadas a que indivíduos despreparados para o poder submetem as populações. E lamentavelmente, temos visto essa ficção ameaçar a realidade em muitos lugares do planeta. 

O fato de um líder de país desprezar os livros expõe a catástrofe do seu governo. Sugere a iminência da desorganização da sociedade à qual deveria representar dignamente, e ainda a probabilidade de que ele poderá impor sobre tudo e todos as suas pobres ideias e convicções.

Se em nações democráticas, com estabilidade entre os poderes e respeito às Constituições, não é simples avançar em conquistas por conta das forças contrárias que sempre há, o que dizer daquelas em que o delírio distópico atropela a razão e o bom senso, e em que os anseios vitais das populações são controlados por quem domina?

O desprezo ao livro é um sinal característico do tempo atual, onde se assiste toda sorte de males derivados da ignorância, do orgulho e da soberba.  

É inevitável relembrar aqui a resposta dos Espíritos, na questão 784, de “O livro dos Espíritos”: “É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do bem e das reformas.”

O que se vê na Terra, hoje, é justamente o que disseram os Espíritos a Allan Kardec. O mal (aparentemente) no controle e se impondo sobre as mais nobres iniciativas humanas. Não só o mal estrutural, que sempre houve, mas o mal requintado, sofisticado. 

Uma passada de vistas sobre a miséria moral e os intrincados problemas que afligem a humanidade dá razão aos Espíritos.

Esse quadro é preocupante. Mas pior será se a parcela consciente e revolucionária da humanidade se entregar ao desânimo e deixar de fazer a sua parte. 

O contingente de Espíritos saudosos da barbárie não estará encarnado aqui indefinidamente. O fluxo de chegadas e partidas de seres na Terra é contínuo. De modo que essa situação será modificada, mesmo porque tudo o que advém da ignorância tende a se transformar pela lei do progresso. E também porque os homens conscientizados permanecerão atentos e não irão parar de lutar pelo mundo cada vez melhor.

Os prognósticos para os tempos que virão são de esperança e otimismo, já que os que propugnam o mal se autodestroem e vão desistindo pelo caminho, enquanto os bons não se cansam em buscar alternativas de resistência e aprimoramento dos métodos de amar. E sabendo, por experiência, que o mal causa tanta dor e sofrimento é que, tanto vítimas quanto verdugos compreenderão a necessidade das mudanças.

E quanto aos falsos líderes que odeiam livros e entravam o avanço da humanidade, eles “serão arrastados pela torrente que pretendem deter” (“O livro dos Espíritos”, item 781-a).

Referência:

KARDEC, A. O livro dos Espíritos. Trad. J. Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE, 2004.

Imagem de Bianca Van Dijk por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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One thought on “Desprezo pelos livros, por Cláudio Bueno da Silva

  1. Precisamos renegociar com a literatura. Em tempos de distrações fugazes e superficialidade, torna-se urgente restabelecer nosso vínculo com a leitura profunda e reflexiva. Como bem afirmou Monteiro Lobato, ‘um país se faz com homens e livros.’ Parafraseando, o Espiritismo também — mais que nunca, homens de bem.