Cooperação: um antídoto para o ciclo de destruições abusivas, por Jair Alves da Cruz e Rosildo Raimundo de Brito

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Jair Alves da Cruz e Rosildo Raimundo de Brito

A máxima da cooperação está presente em todas as leis (naturais ou divinas), atuando na contramão de toda e qualquer forma de destruição abusiva.

Embora este artigo trate da Lei de Destruição, uma das dez Leis encontradas na terceira parte de “O livro dos Espíritos” (As Leis Morais), é muito importante compreendermos que toda a criação funciona por cooperação e que, para uma melhor compreensão em torno desta, faz-se importante uma maior reflexão sobre a força regenerativa da cooperação. Não por acaso, as outras nove Leis – a Lei de Adoração, a Lei do Trabalho, a Lei de Reprodução, a Lei de Conservação, a Lei de Sociedade, a Lei de Progresso, a Lei de Igualdade, a Lei de Liberdade e a Lei de Justiça, de Amor e de Caridade – abordam acerca disso.

Uma análise mais apurada, nos faz entender que a máxima da cooperação está presente em todas as leis (naturais ou divinas), atuando na contramão de toda e qualquer forma de destruição abusiva. O átomo nada mais é do que a cooperação entre as partículas que o constituem. O corpo humano é a cooperação entre células, tecidos, órgãos e sistemas. A sociedade é a cooperação entre pessoas. O meio ambiente é a cooperação entre o mundo orgânico e inorgânico. Todo o complexo de galáxias é a cooperação dos astros.

O planeta Terra se mantém e evolui materialmente a partir dos ciclos naturais que realiza: o ciclo da água, o ciclo do nitrogênio, o ciclo do carbono, o ciclo das rochas… Em um rearranjo contínuo de um pouco mais de uma centena de elementos químicos conhecidos neste planeta. Um conjunto de leis e etapas que cooperam entre si para que o planeta exista como ele é.

O corpo humano, que é uma etapa de evolução, sendo uma ferramenta de aprendizado e desenvolvimento usada por um determinado Espírito, limitado a uma etapa de tempo, precisa estar inserido nesses ciclos naturais, obedecer a essas leis, submeter-se a elas, até que o Espírito que o anima coopere com o Divino Criador ao ponto de não ser mais necessário repetir o ciclo (re)encarnatório.

São quase infinitas as formas e as gradações com que a alma imperfeita interfere – direta e indiretamente – nos ciclos naturais, isto é, nos ciclos de evolução de outras almas e nos próprios ciclos evolucionais. Ora auxiliando, ora prejudicando – e até destruindo – etapas ou ciclos inteiros.

A etapa humana é caracterizada pela posse da consciência, que permitirá a lembrança e avaliação de todas as ações durante a encarnação. Cada ação é uma escolha, um movimento pensado e decidido, pois há também a posse do livre arbítrio.

O Espírito possui em si o germe da perfeição, alimentado e mantido pela Lei de Amor, que o rege desde o princípio da sua criação. Ele deverá ser parte integrante do Amor Divino ao final da necessidade de reencarnar. No entanto, durante as encarnações, lapida seus sentimentos e emoções, destruindo o egoísmo e o orgulho, e todos os seus derivados, transformando-os em sentimentos nobres, próprios das criaturas que desenvolvem as condições de compreender a Deus e seguir o fluxo do amor e do bem, sem que haja a cogitação de outra opção.

Mas, até que essas transformações aconteçam, o Espírito encarnado comete excessos. Extrapola as destruições necessárias à sustentação dos ciclos e provoca destruições abusivas. Motivadas por sentimentos inferiores que ainda o dominam: crueldade, impiedade, ganância, avareza, insensibilidade, desumanidade… Indícios ainda fortes da predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual, sobre a divina semente amorosa que ainda está ganhando espaço para germinar.

Há destruições abusivas no planeta, na natureza, na sociedade, nas famílias, nos relacionamentos, que servem para sustentar a luxúria, a vaidade, a futilidade, o narcisismo. Outras há, cuja chama é proveniente do ódio, da rebeldia, do rancor, do ressentimento, da teimosia. Umas e outras interferem no equilíbrio das leis que sustentam o planeta, na evolução dele e dos Espíritos que aqui estagiam, os quais estão em prova, em expiação ou em missão. E essa destruição, como nos advertem os Espíritos Instrutores, pode alcançar um nível tal que impeça o Espírito de aqui reencarnar.

Há muitas guerras – na atualidade assim como ao longo da história – suscitadas para que uma pessoa ou um grupo de pessoas obtenham determinado proveito. E nestes casos, dizem-nos os Espíritos Amigos, na questão de número 745, da obra primeira, ao responder a Kardec: “(…) precisará de muitas existências para expiar todos os homicídios dos quais foi a causa, porque responderá por cada homem, ao qual causou a morte para satisfazer sua ambição”.

Muitos líderes de nações ou de sociedades, desde o início das civilizações, se consideram representantes de superioridade em relação a outros povos, a outros humanos, a outros habitantes, a outros filhos de Deus. Alguns desses chegam a se considerar como deuses. Nessas condições autoimpostas, julgam poder determinar ao seu bel prazer os destinos de outros seres humanos: isolando-os, castigando-os, escravizando-os e matando-os, de acordo com os seus julgamentos e interesses particulares.

Esse comportamento pode ser observado em outras lideranças: de religiões, de seitas, de exércitos, de grupos extremistas.

São pessoas que quebram ou impedem a formação de qualquer elo de cooperação no amor fraterno universal. Só permitem a colaboração se esta ocorrer sob o manto indigno da subjugação a uma suposta superioridade autoimposta.

Guerras, conflitos e flagelos destruidores, podem ser permitidos por Deus para pôr fim a esse mundo comportamental atual, de provas e expiações. Deve o indivíduo, assim, solidarizar-se, humanizar-se e aprender com eles. Matar o comportamento injusto e ser nova criatura.

Este modo atual de viver deixará de existir. Será destruído. Em seu lugar um novo mundo de atitudes e comportamentos. Numa gradativa evolução que é motivada de duas formas: os Espíritos comprometidos no bem terão volume de trabalho aumentado e os insistentes na prática do mal, na ignorância moral, irão reencarnar em mundos menos evoluídos e, mesmo assim, irão contribuir com a evolução destes.

Nestes ambientes, saudosos do grau de desenvolvimento, avanço tecnológico e comodidade que dispunham, trabalharão para voltar a desfrutá-los. E terão, no curso do processo, nova oportunidade de aperfeiçoamento moral. É quando esses se darão conta da necessidade do esforço da cooperação mútua, enquanto uma das atitudes essenciais para o progresso moral, objetivo maior e final de todos os seres rumo à condição de propagadores da luz divina.

É bem verdade que todo Espírito imperfeito carrega em si o peso de suas imperfeições. Esse peso na consciência é que impulsiona cada um a ser cada vez melhor. Uma busca de leveza no viver, de equilíbrio, de harmonia, de mansuetude, de ternura, de fé, de justiça, de paciência, de simpatia, de desprendimento.

Contudo, o que não se deve ignorar é que, por meio do comportamento e convívio genuinamente cristão, estão os recursos imprescindíveis para a destruição das nossas chagas morais. E que, é por meio de uma cooperação mútua, alicerçada no sentimento de união em torno do bem comum que se descortina o portal para o ciclo de regeneração. Sob esta ótica, não podemos jamais nos esquecer de que, só mesmo na qualidade de cooperativistas do bem, alicerçados nas lições eternas e infalíveis do divino mestre, Jesus de Nazaré, é que alcançaremos a nova era da qual o Espiritismo se faz instrumento legítimo.

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