Somos todos idosos, por Claudia Jeronimo

Tempo de leitura: 4 minutos

Claudia Jeronimo

***

Nosso mundo precisa de todos, ao mesmo tempo em que todos precisam de um mundo saudável, seja os que figuram na juventude e os que estão na velhice. Os idosos hoje, amanhã serão crianças e jovens, assim como os jovens da atualidade se converterão em idosos, com os quais precisaremos conviver.

***

Numa semana tensa, a da divulgação dos dados do Censo 2022 sobre a adesão às religiões, ficou a reflexão do quanto estamos envelhecendo; principalmente, os espíritas.

Esse texto não é comparativo, não é sóbre gráficos ou números, mas para pensarmos juntos, diante de uma história familiar, que vamos relatar.

Trata-se de uma família que reside em um mesmo imóvel, no mesmo quintal. Numa das casas, mora uma senhora prestes a completar 89 anos, Dona Carolina. Ela sempre foi muito ativa, tendo trabalhado muito, numa vida sofrida, mas com muita diginidade.

Ela tem, é claro, algumas sequelas desses sofrimentos; porém, viveu e continua vivendo para a família.

Com seu trabalho de doméstica criou os quatro filhos, diante de um marido alcoólatra e mulherengo. E, ao se desquitar, ainda sofreu muito preconceito, principalmente da própria família.

Como doméstica, conheceu uma senhora médium, começando a frequentar reuniões mediúnicas que aconteciam em sua casa. Ficaram, então, muito amigas, a ponto de sempre se ajudarem, uma à outra. Só que a médium não podia mais morar sozinha, tendo ido residir com o filho, que não aceitava s reuniões espíritas. Então, nossa amiga , que passaram a ser na casa da nossa idosa. Mesmo após a morte daquela médium, as reuniões continuaram ocorrendo, até que foram partindo, um a um, os frequentadores. Hoje é feita com Dona Carolina e sua filha, pessoas de muita fé.

Nos anos anteriores à pandemia, ela mantinha uma rotina de viajar com amigos, em grupos da terceira idade, curtindo a sua aposentadoria com alegria.

Mas, diante do medo de uma doença desconhecida e tendo, como todos, que guardar distanciamento e cumprir o “lockdown”, começou a apresentar traços de senilidade.

Como é triste ver alguém que era sempre tão ativo, agora triste sentado em uma cadeira, no meio do quintal, como a esperar a morte chegar, sem ânimo e sem esperança…

Até que, nossa querida Carolina, dias atrás, passou por um momento intenso, triste e preocupante. Duirante a madrugada, pegou duas bolsas dizendo que iria viajar e precisaram seus netos a convencerem de que ainda não era o horário da viagem. Colocaram-na pra dormir, como se fosse um filho pequeno.

Porém, todos acordaram ao amanhecer com um barulho muito grande, que vinha casa de Carolina. Era ela, que gritava pra que a tirassem dali, dizendo estar presa em uma igreja. Afirmava que todos tinham ido embora, relatando estar conversando com seu irmão caçula, João. Ela tinha derrubado móveis e a televisão, assim como o tampo de uma mesa de pedra, deixando o chão de sua casa todo cheio de cacos de vidro. Um verdadeiro filme de terror!

Mas, o que chamou a atenção de todos foi que ela não havia sofrido um só arranhão, absolutamente nada de danos ou machucados.

Levada ao médico, fez exames que, a princípio, nada constataram para poder justificar esse delírio. Fica, então, um questionamento, poderia ter sido algo espiritual?

Ainda sob os efeitos daquele momento assustador, chegou para a família a notícia de que João tinha sofrido um acidente: ao subir numa cadeira teve uma grave queda doméstica, mas nada comentou com os filhos. Depois, reclamou de dores no braço, quando foi levado ao hospital. Ali se constatou que uma costela quebrada havia perfurado seu fígado e o caso era grave. Internado, com grave hemorragia, veio a falecer, dois dias depois.

Assim, é de se perguntar: por serem irmãos tão ligados, ela poderia ter sentido algo em relação ao acidente, que teria provocado o delírio?

Não temos as respostas quanto ao contexto espiritual. Porém algumas pessoas em situações similares já relataram ter sentido a presença de entes queridos que já partiram ou que estavam na iminência de desencarnar, em dias de intensa dor.

Trazendo tudo isso para o nosso dia a dia prático, temos situações de idosos cuidando de idosos. As pessoas estão vivendo cada vez mais; alguns, com boa qualidade de vida, mas outros totalmente dependentes de seus familiares. Muitos, inclusive, se revelam bastante teimosos, justamente por terem sido independentes a vida toda e sobreviventes de um período de muita dificuldade.

Carolina sempre foi muito corajosa. Enfrentou família e sociedade ao dar um basta em uma relação tóxica, quando conseguiu colocar  seu marido numa clínica para se reabilitar do vício em álcool: um ato de amor, coragem e esperança. Mas a gota d’água que encaminhou o divórcio foi o dia em que ela chegou para visitá-lo e o surpreendeu tendo um caso com uma enfermeira.

Enquanto isto, a sociedade e os familiares a culpando pelo fracasso do casamento…

Eis aí, uma história real, que também envolve mediunidade e que precisa ser conhecida porque pode estar sendo repetida em outros lugares.

Então, perguntemo-nos: como estamos nos preparando para envelhecer? Como estamos nos preparando pra ajudar e cuidar de nossos idosos? Como preparamos nosso filhos e netos para cuidar, respeitar ou apenas apoiar os idosos?

Devemos dizer que o Espiritismo nos orienta para a nossa autonomia, e para seguir o progresso, a ciência e o bem estar. O Espiritismo é um jovem (considerada a idade da Terra), mas os espíritas estão se comportando como se fossem cada vez mais velhos…

Assim, precisamos dar um ar de juventude pra ele. E isto se confirma na convivência entre diferentes saberes, em trocas salutares, sem a soberba de parecer ser o dono da verdade, nem que se ache que alguns são ultrapassados.

Nosso mundo precisa de todos, ao mesmo tempo em que todos precisam de um mundo saudável, seja os que figuram na juventude e os que estão na velhice. Os idosos hoje, amanhã serão crianças e jovens, assim como os jovens da atualidade se converterão em idosos, com os quais precisaremos conviver.

Essa é a Lei de Reencarnação: se nos preparamos e preparamos os jovens para um mundo melhor, nosso retorno será muito melhor, em um mundo transformado. Senão, quem irá nos receber?

Imagem de 🌸♡💙♡🌸 Julita 🌸♡💙♡🌸 por Pixabay

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

One thought on “Somos todos idosos, por Claudia Jeronimo

  1. Quem irá nos receber? Um texto de uma sensibilidade extrema para uma pergunta aos reencarnacionistas: por que viemos? para que viemos? para manter o mesmo status social e humanista? conservar o mesmo status social e humano é evoluir? evoluir é saber o valor da paz, da igualdade social, de raça, de gênero, de ter amor ao próximo via o humanismo e proteção ao seu desenvolvimento integral?