Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO:
- Introdução. 2. Conceito. 3. Aspectos Gerais: 3.1 O Sistema Planetário; 3.2. A Terra como um Sistema Único e Finito; 3.3. O Aparecimento do Homem e seu Impacto sobre o Meio Ambiente; 3.4. As Conferências Mundiais sobre a Conservação do Planeta. 4. Meio Ambiente: 4.1. A Caracterização do Meio Ambiente; 4.2. A Cadeia Alimentar; 4.3. Nosso Planeta Transformar-se-á num Depósito de Lixo; 4.4. Tudo Depende de Tudo. 5. Desperdício: 5.1. Definição; 5.2. Tipos; 5.3.Desperdício de Tempo. 6. Visão Espírita: 6.1. Transformação Conservativa; 6.2. Lei de Conservação e Lei de Destruição; 6.3. Equilíbrio entre Matéria e Espírito. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
- INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é refletir sobre a preservação da vida em nosso Planeta. Para tanto, analisaremos o Meio Ambiente, o desperdício e os subsídios que o Espiritismo pode nos fornecer para um comportamento ambiental mais consciente.
- CONCEITO
Ambiente – É o conjunto de todos os elementos, vivos ou não vivos, atuais ou passados, que, não fazendo parte intrínseca do organismo ou grupo de organismos, considerado, tem com ele ou eles relações diretas ou indiretas interagindo no tempo e no espaço (Polis).
- ASPECTOS GERAIS
3.1 O SISTEMA PLANETÁRIO
O nosso sistema planetário surgiu na Via-Láctea, há uns 5 bilhões de anos pela condensação de uma nuvem de gás e pó cósmicos. Via-Láctea, uma das 10 bilhões de galáxias existente no Universo, possui mais de cem bilhões de estrelas. O Sol, que é uma delas, suficientemente grande para produzir luz própria, situa-se em sua zona periférica (Enciclopédia Combi Visual).
3.2. A TERRA COMO UM SISTEMA ÚNICO E FINITO
O Planeta Terra, com 510.934.000 km2 de área total, dos quais 148.148 km2 (um quinto) são ocupados por terra e 149.500.000 km distante do Sol, está localizado na órbita ideal — entre a de Vênus e a de Marte — para sustentar a vida. Se mais próximo do Sol, estaria muito quente; se mais distante, muito frio. Forma um ecossistema único e finito, imerso no vento solar, bombardeado por partículas do espaço e radiado pela luz solar. Possui, ainda, um campo magnético que o defende de partículas de alta velocidade, vindas do Sol e do Cosmo (Gates, 1974, p. 40).
3.3. O APARECIMENTO DO HOMEM E SEU IMPACTO SOBRE O MEIO AMBIENTE
Desde que o homem surgiu no cenário planetário os impactos sobre o meio ambiente se lhe acompanharam. O fogo talvez tenha sido o primeiro elemento a empregar em tal empreitada. É claro que os primitivos, sem o conhecimento da tecnologia, tiveram um impacto menor do que aquele que se assiste na atualidade.
3.4. AS CONFERÊNCIAS MUNDIAIS SOBRE A CONSERVAÇÃO DO PLANETA
A Conferência de Estocolmo, em 1972, deu o primeiro grito de guerra contra a poluição causada pela proliferação da indústria no mundo todo. Dela extraiu-se o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e fez surgir a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1983. O desenrolar das idéias propiciou o aparecimento do Relatório Brundtland, em 1987, em que se estabeleceu o conceito de desenvolvimento sustentável.
A Conferência do Rio de Janeiro em 1992 gerou a Agenda 21, com programa mundial abrangente, que em seus 40 capítulos definiu as metas para as principais questões ambientais: poluição, recursos hídricos, lixo etc.
A Conferência de Johannesburgo, em 2002, teve por objetivo fazer uma avaliação das propostas de 1992 e inserir novas formas de salvar o ecossistema.
Paralelamente a essas conferências de âmbito governamental, há diversos ecologistas que se reúnem em grupos menores e, nem por isso, menos importante do que esses eventos mundiais.
- MEIO AMBIENTE
4.1. A CARACTERIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Por Meio Ambiente entende-se tudo o que nos rodeia, ou seja, o ar, as plantas, os animais, as indústrias, os aeroportos, os aviões etc.
Num sentido mais amplo, o Meio Ambiente tem relação com o Universo, pois qualquer depredação ambiental terá repercussão no cosmo. Observe a guerra entre os Estados Unidos e o Iraque: a repercussão atmosférica durará diversos anos, vença quem vencer, pois os poços de petróleo continuarão queimando e os mísseis jogados contra Bagdá deixarão elementos químicos no ar, o que comprometerá a camada de gás ozônio, que protege a superfície terrestre da perigosa radiação ultravioleta que compõe, junto com outras, a luz solar.
4.2. A CADEIA ALIMENTAR
Trata-se do sistema no qual se processa a transferência de energia, de organismos vegetais para uma série de organismos animais, por intermédio da alimentação e por meio de reações bioquímicas. Cada elo da cadeia alimentar alimenta-se do organismo precedente e, por sua vez, alimenta o seguinte.
Somos, assim, parte de uma vasta gama de inter-relações, onde uma espécie alimenta-se da outra para sobreviver. O homem encontra-se no final dessa cadeia transformadora. Cabe-lhe a responsabilidade da defesa e preservação ambiental, a fim de manter o equilíbrio do Planeta.
4.3. NOSSO PLANETA TRANSFORMAR-SE-Á NUM DEPÓSITO DE LIXO
Há estimativas de que cada ser humano produz 0,6 quilos de lixo por dia. Baseando-se numa família média brasileira, composta por quatro pessoas, obtém-se o total de 876 quilos por ano. Se projetarmos esses números para o mundo todo – uma população de mais de 6 bilhões de pessoas – , teremos lixo que não acaba mais. O aumento populacional e o consequente acréscimo de lixo criam-nos um problema: onde jogá-lo? Como fazer para que não contamine o ambiente? Isso sem considerar que a maior parte corresponde a materiais recicláveis, que no Brasil chega a 85% do total.
4.4. TUDO DEPENDE DE TUDO
Os animais, utilizando o instinto, só consomem aquilo que satisfaz as suas necessidades. Vivendo naturalmente, eles não causam desastres ecológicos, porque a própria natureza incumbe-se de manter o equilíbrio. Um exemplo: o excesso de formiga é eliminado pelo aparecimento do tatu.
O homem, sendo o elemento racional, nem sempre age racionalmente. Acaba interferindo na natureza e desequilibrando o meio ambiente. Observe o que aconteceu na Austrália, quando se introduziu o coelho para comer outras espécies. Como o coelho se reproduz muito mais rapidamente do que as espécies que ele deveria comer, acabou tendo um excesso de coelho, o que obrigou o governo a dar vacina para diminuir a sua reprodução.
- DESPERDÍCIO
5.1. DEFINIÇÃO
Desperdício, no sentido absoluto, é o gasto sem proveito e a utilização incorreta ou incompleta de bens econômicos, o que faz com que necessidades que poderiam ser supridas não sejam. Existe desperdício causado pelo planejamento deficiente e o desperdício provocado pela massificação do consumo. (Enciclopédia Mirador)
Por mais cuidadosa que seja a definição, nunca será suficientemente abrangente: na Suíça as ruas são limpíssimas; simplesmente ninguém as suja. Aqui tudo no chão, inclusive com lixeiras ao lado.
5.2. TIPOS
Há os evitáveis e os inevitáveis. Uma tempestade não se tem como evitar.
Dentre os evitáveis, podemos relatar:
– falta de infra-estrutura que nos faz perder entre 20 a 30 por cento da produção agrícola;
– o húmus da casca de laranja é perdido por jogá-la no lixo;
– água que se desperdiça por deixar a torneira aberta ao lavar o automóvel ou escovar os dentes.
– luzes acesas sem necessidade.
5.3.DESPERDÍCIO DE TEMPO
– Conversas prolongadas ao telefone;
– falta de ordem: procurando papéis que não foram arquivados corretamente;
– segurar um vendedor, por bagatelas;
– falta de organização: permitir interrupções que se “perca o fio” do que se pensa, diz ou faz;
– discurso oco, que faz perder tempo do expositor e dos ouvintes;
– maledicência: horas que poderiam ser aplicadas ao estudo;
– atender a reuniões que não dizem respeito ao nosso objetivo.
- VISÃO ESPÍRITA
6.1. TRANSFORMAÇÃO CONSERVATIVA
Para o provimento de suas necessidades, os homens são obrigados a transformar os recursos naturais. Política é a alteração do meio ambiente para a obtenção do bem comum. O nó da questão está em usar os bens naturais de forma conservativa, isto é, sem perder o equilíbrio cósmico.
6.2. LEI DE CONSERVAÇÃO E LEI DE DESTRUIÇÃO
Allan Kardec, ao tratar em O Livro dos Espíritos, da Lei de Conservação e da lei de Destruição oferece-nos subsídios para avaliarmos a questão.
Diz-nos, em resposta à pergunta 705 – Por que a Terra nem sempre produz bastante para fornecer o necessário ao homem?, que “A Terra produziria sempre o necessário, se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário. Vede o árabe no deserto como encontra sempre do que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é esperdiçada na satisfação de fantasias, deve o homem se admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando chega o tempo de escassez? Na verdade eu vos digo que não é a Natureza a imprevidente, é o homem que não sabe regular-se”.
Mais adiante, em resposta à pergunta 735: “- Que pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança […]?”. Diz-nos que é a “Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais não destroem mais do que necessitam, mas o homem, que tem o livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois nesses casos ele cede aos maus instintos”.
Resumindo: o egoísmo cria as necessidades artificiais e a fome é fruto da imprevidência. Propõem-nos, assim, o desapego aos bens materiais como condição fundamental par um equilíbrio ecológico consistente.
6.3. EQUILÍBRIO ENTRE MATÉRIA E ESPÍRITO
O fator moral elevado pode auxiliar sobremaneira a circulação de bens dentro da economia:
– O desperdício (destruição do excesso de safra) para obter preço. Por que não doar para pessoas carentes?
– Lixo seletivo — reciclagem. Mostra a responsabilidade para com o nosso Planeta no cosmo.
– Criar oportunidades para os outros. Quanta perda de talento por não lhe oferecer a ocasião?
– Desenvolvimento econômico deve estar a par do desenvolvimento espiritual.
- CONCLUSÃO
O Planeta Terra oferecer-nos-á sempre o suficiente desde que saibamos utilizar os seus recursos naturais com parcimônia. Quer queiramos ou não, há uma lei natural que rege todas as nossas ações: boas ou más. Assim, se comermos em demasia, poderemos contrair uma doença; do mesmo modo, se poluirmos o espaço mais do que ele pode suportar, poderemos presenciar alguma calamidade. Em sendo assim, uma reflexão sobre as Leis Morais capacita-nos a melhor utilizar os recursos que a divindade empresta-nos para auxiliar a nossa evolução espiritual.
- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ENCICLOPÉDIA COMBI VISUAL. Espanha, Edições DANAE, 1974.
ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, Encyclopaedia Britannica, 1987.
GATES, D. Modificações do Clima a Serviço da Humanidade: Promessa ou Perigo? In: HELFRICH Jr, H. W. A Crise Ambiental: a Luta do Homem para Viver Consigo Mesmo. São Paulo, Melhoramentos, Ed. da USP, 1974.
KARDEC, A. O livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
POLIS – ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.
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Nota do ECK: Artigo escrito em junho de 1996 e divulgado, originariamente, na página do Centro Espírita Ismael, de São Paulo (SP).
A natureza não agride ninguém; ela apenas reage à ação humana. Precisamos parar de evitar as aulas de Ciências Físicas Biológicas e compreender, de uma vez por todas, que para a natureza o Homo sapiens é apenas mais uma espécie nesse limitado laboratório planetário, igualmente suscetível à extinção. Fique tranquilo, somos espíritas, e você bem sabe que existem outros mundos habitados. Mas, cá entre nós, colega doutrinário, falando bem baixinho para ninguém ouvir: será que você está com essa bola toda? Acredite, já ouvi isso em seminário com expositores medalhões. Polêmicas à parte, é um excelente artigo, extremamente atual, alinhado com os ensinamentos de Allan Kardec.