Construção, Desconstrução, Reconstrução

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O Momento é Delicado

O momento é delicado. Não que seja diferente (ou distante) de outros, já vividos. Traduzem o sentimento, primeiro, individual, depois coletivo, de uma Humanidade “sofredora”, mas em marcha (progressiva).

Há os Que Desejam a Neutralidade

E, ainda, assim, presume-se e atesta-se que tal seja, também, uma opção POLÍTICA.

Política enquanto “modus procedendi” de cada inteligência pensante, que se expressa em atitudes (mas, também, em omissões – ainda que este termo não deva ser encarado pejorativamente).

Há os que optam, na vida social, pelo silêncio, pela distância, pela equidistância.

E não podem ser criticados por isso.

Há os que defendem a boa-fé, a independência na expressão (livre manifestação do pensamento) e a atuação distinta entre o ser humano (individualidade espiritual) e o “cargo”, a “posição”, o “papel” e o “mandato” que tem ou que a ele delegam.

É possível dissociar?

Em sendo, consegue se fazer isso sempre?

Um político expressa as suas ideias ou as do partido que representa?

Um ator manifesta o seu pensamento ou o do “time” (elenco de teatro, de TV) em que esteja atuando?

Um jogador ou técnico de futebol fala por si ou pelo clube, pela empresa?

Um funcionário público atua por si ou pelo órgão em que está vinculado?

Boas questões essas, não?

Já passou o tempo da inocência. Ou, pelo menos, deveria.

Pessoas não são folhas em branco, tábulas rasas, nem são neutras. Têm ideologias, formações, instruções, vivências, vinculações e – ainda mais pelo viés espírita – bagagens que atravessam o portal da atual existência.

Não devemos romantizar a ambiência espírita. Nem “acreditar” que os Espíritos Superiores estejam à frente de tudo, nos mínimos atos da existência e também nos maiores, institucionais, corporativos ou, até, planetários (ainda que esta expressão seja utópica).

Não somos perfeitos, prontos, acabados, não estamos, todos, nos nossos “melhores momentos”

Não somos perfeitos, prontos, acabados, não estamos, todos, nos nossos “melhores momentos” e estamos sujeitos aos efeitos dos nossos próprios raciocínios, lógicos – ou nem tanto. Há décadas – presumo que o “start” seja 1949, com a oficialização da “unificação” entre os organismos que “dirigiam” regionalmente o Espiritismo tupiniquim – temos um MOVIMENTO ESPÍRITA OFICIAL.

Se não houve nenhum consenso, se não há eleições democráticas (como as que visualizamos em relação à República Brasileira, de quatro em quatro anos), se não há uma indicação das próprias federativas que compõem a “Casa-Máter”, porque esta é, apenas e tão-somente um centro espírita igual às centenas de milhares espalhadas por todo o Brasil e por outros países, de qualquer modo há, sim, uma OFICIALIDADE em relação aos dirigentes, expoentes, porta-vozes, palestrantes e médiuns.

O Espiritismo Brasileiro tem, senhores, uma face. Uma face conhecida. Se qualquer órgão governamental, qualquer mídia ou entidade de comunicação social, qualquer movimento social, político e ideológico, DESEJAR SABER qual é a opinião “do” Espiritismo, ela irá procurar a federação brasileira.

E esta irá indicar – como indica, costumeiramente – caso a caso, seus “representantes”, inclusive delegando-lhes atribuições no formalismo documental.

De outra sorte, quando uma instituição espírita, de qualquer tamanho ou matiz, convida alguém para falar “sobre” Espiritismo, salvo se tivermos uma “declaração assinada”, de próprio punho, pelo expositor ou redator, de que “tais e quais” ideias são EXCLUSIVAMENTE suas, pessoais e particulares, não haverá como DISSOCIAR uma de outra coisa. Fulano, Beltrano ou Coriolano estarão “a serviço”, “representativamente”, “delegadamente” em nome do Espiritismo.

Ainda mais se – e somente se – estivermos diante de um ou outro personagem que já é “reconhecido” como “voz oficial” daquela ideologia, pensamento, filosofia ou RELIGIÃO, como no caso do “coração do mundo e pátria do evangelho”.

Não sejamos, pois, ingênuos, nem tentemos distinguir convenientemente uma de outra coisa.

O cidadão A, espírita, em um evento espírita, promovido por uma conceituada ou reconhecida entidade espírita, para um público espírita fala, de regra, PELO Espiritismo, ou em nome deste. E se diz “barbaridades”, se “elogia” ou “critica”, se se arvora em crítico, juiz ou censor, a consequência direta disto é: o Espiritismo considera “isso” ou “aquilo” deste jeito, e não daquele.

Precisamos parar de ser convenientes.

Precisamos parar de ser convenientes. Precisamos deixar de lado o “deixa disso”. Precisamos demonstrar – ainda que sob formas imperfeitas – o nosso inconformismo com o “guiismo” exacerbado que, há quase 70 anos (sim, no ano que vem, estar-se-á “comemorando” efusivamente aquele pacto) se apossou do chamado “movimento espírita”.

Ninguém credenciou a federativa local como o “Comitê Central de Espiritismo” tratado por Kardec ao constitucionalizar o movimento de sua época, prospectivamente. E, levando-se em conta aqueles milhares de centros espalhados pelo mundo, assim como os milhões – declaradamente ou não – espíritas que estão por aí, e nos quais nos esbarramos, seja presencialmente seja pelas redes sociais, NINGUÉM delegou a ela o poder inafastável, completo, pleno e derradeiro de “falar por nós”.

Uma Fala Inconveniente

Uma fala inconveniente, politizada, preconceituosa, parcial, apressada, repleta de uma fundamentação que não condiz com os princípios e a filosofia da Doutrina dos Espíritos pode, até, não merecer uma resposta “no mesmo tom”.

Nisso até podemos, ainda que parcialmente, concordar.

Mas, diante de uma Humanidade esfacelada pelas lutas de poder – em que, notadamente, ainda se tenha, no segmento dos espíritas, também essa tendência e essa disputa – o comportamento dos homens que aqui estagiam, como espíritos de “provas e expiações” ainda não se constitui num quadrante “regenerado”.

O episódio que ilustra os nossos momentos neste ano de 2018, em que se questiona, até, a letra de uma das mais intrigantes obras de Allan Kardec, diante da sua (ou não) adulteração, deve servir não como motivo de afastamento e belicosidade, ainda que estejamos envoltos, também, numa dualidade “político-social” em que os ânimos já passaram do critério de “acirrados”, mas de profunda reflexão para nós todos.

Não desejamos qualquer “assunção” de poder

Não desejamos depor ninguém de (aparentes) poderes humano-sociais, ou de dianteira em relação aos profitentes espíritas. Tampouco desejamos a aposentadoria ou a morte de certos expoentes espiritistas.

O que desejamos, franca e verdadeiramente, é que existam fóruns abertos e pacíficos de discussão de todas as temáticas que interessam – não só aos espíritas – mas aos homens de bem. Se conseguirmos fazer isso, teremos superado mais uma FASE DE CISMAS, como previu Allan Kardec e os discípulos desta bela Filosofia, que transcende o tempo, que vem de datas imemoriais, que tem Sócrates e Platão como referências teóricas e o Amor de Jesus de Nazaré como baliza, possa ter a lógica, o bom senso e, até, a fé raciocinada de Rivail.

Que o Senhor do Infinito nos permita realizar esta tarefa!

Banner de convite para o grupo Espiritismo com Kardec

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Natural do Rio de Janeiro (RJ) e radicado há muitos anos em Florianópolis (SC), Marcelo Henrique se tornou espírita em 1981, vindo do catolicismo. É Secretário Executivo da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) e presidente da Associação dos Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina (ADE-SC), assim como do Centro Cultural Espírita Herculano Pires, em São José (SC). Também é delegado da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), associado da Associação Brasileira de Amigos e Delegados da CEPA (CEPA-Brasil), do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CP-Doc) e da Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas da Paraíba (ASSEPE). Atua, ainda, como representante da ABRADE, no Fórum das Entidades Especializadas de Âmbito Nacional, junto à Federação Espírita Brasileira. É Editor-Chefe da Revista Espírita HARMONIA, um periódico eletrônico e, como escritor e articulista, tem artigos e pesquisas em diversos sites, assim como é autor de "Túnel de Relacionamentos" (Ed. EME) e "Alteridade: a diferença que soma" (Ed. INEDE).

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