A primavera de uma eleição para melhores dias

Tempo de leitura: 6 minutos

Editorial Espiritismo COM Kardec

“O número dos retardatários ainda é grande, mas que podem contra a onda que sobe, senão lançar-lhe algumas pedras?”, Allan Kardec.

O Brasil está em transe há quatro anos. Uma força destrutiva, gerada artificialmente no ventre da nação, colocou no poder um grupo que tem como pauta principal a necropolítica. Para onde se olha, existem ruínas. O país respira por aparelhos e somente com uma atitude sensata poderemos novamente olhar para o futuro de forma otimista.

Na sua história, o Brasil sofreu e chorou; bailou e riu. Alternou momentos de progresso e ventura, entre espasmos de rudeza e intolerância. Há quem diga que são, ambas, experiências necessárias ao coletivo, como são em relação às individualidades. Tudo progride – apesar de muitos, ainda, não o quererem. E até lutarem contra o progresso.

Em “Os tempos são chegados”, Kardec desfila sua qualidade crítica, sua sapiente perspicácia e seu otimismo em relação ao futuro, (“Revue Spirite”, outubro de 1866):

“Dizendo que a Humanidade está madura para a regeneração, isto não quer dizer que todos os indivíduos o sejam no mesmo grau, mas muitos têm, por intuição, o germe das ideias novas, que as circunstâncias farão eclodir; então eles se mostrarão mais adiantados do que se pensava, e seguirão com ardor o impulso da maioria” (Sublinhamos).

O recado NÃO se destina – apenas – aos espíritas, mas aos humanos do planeta, inclusive neste 2022. Mas, como um coletivo espírita, o nosso recado é, sim, para os espíritas que o lerem e que possam pensar a este respeito. E há que se consignar, em primeiro plano, que a “regeneração” enquadrada neste artigo kardeciano tem sido um dos mais decantados bordões que o meio espírita repete à exaustão: – quando o planeta for um plano de regeneração, nós…

Não há “regeneração” plasmada, idealizada, fabricada nem outorgada. Não há estágio futuro, melhor e feliz, mais harmonizado e próspero, sem o suor dos rostos daqueles que encarnam neste orbe com a missão primeira de elevarem-se, em intelecto e sentimento, espiritualmente, para, depois, fazerem o coletivo planetário também se elevar.

Luta inevitável

Na mesma missiva do professor francês, ao final, ainda recebemos importante cátedra e recomendação: “O número dos retardatários ainda é grande, mas que podem contra a onda que sobe, senão lançar-lhe algumas pedras? Essa onda é a geração que surge, enquanto eles desaparecem com a geração que vai a largos passos. Até lá defenderão o terreno palmo a palmo. Há, pois, uma luta inevitável, mas desigual, porque é a do passado decrépito, que cai em farrapos, contra o futuro juvenil; da estagnação contra o progresso; da criatura contra a vontade de Deus, porque os tempos por ele marcados são chegados” (Nossas marcações).

A luta está posta. E ela não se acha circunscrita a nomes – que se opõem, ainda mais evidentemente num momento como o atual, de eleições governamentais nacionais. Trata-se de projetos. De linhas de pensamento. De valores. De virtudes. De como se considera e interpreta cada uma das situações que fazem parte da nossa vida de encarnados neste orbe. E neste país chamado Brasil.

A luta se tornou, pois, inevitável, porque experimentamos, com muito sofrimento, quatro anos de revivescência de ideais que já considerávamos superados e sepultados na história da Humanidade terrena. Épocas como as das duas Guerras Mundiais. Épocas dos séculos de escravidão e dominação cultural de povos, uns sobre os outros. Épocas de redução das liberdades, com o estabelecimento de ditaduras. Épocas de nazismo e fascismo. Épocas de repressão aos que pensam diferente. Tudo isto retornou, dando vazão a indivíduos que escondiam seus “piores lados” e que tiveram voz ou fizeram suas vozes reverberarem na voz do Inominável, suas bravatas, suas manifestações, sua falta de empatia com as dores alheias, seus “e daí?”, suas “motociatas”, seu cercadinho…

Cumpre-nos dizer que, se TODOS (ainda) somos imperfeitos, nossa preocupação como espíritas, seguindo outro dito célebre de Kardec, para sermos reconhecidos como tais, devemos “lutar contra as nossas más imperfeições”, ficando patente e inequívoca aquela condição de superioridade moral – que não temos, por ora. Mas a condição de imperfeição não deve ser a justificativa para fazer explícitos os rancores, ódios, sentimentos vis, a intolerância, a belicosidade, a agressividade, o desejo de exterminar os “diferentes”.

No palco do Brasil dos últimos quatro anos (2018-2022) experimentamos as vinditas de quem ficou com tais sentimentos represados – sabe-se lá por quanto tempo – para aplaudir e valorizar todas as pérfidas e desqualificadas manifestações do “sr. presidente da República” em infinitos instantes e distintos cenários. Todos. Sem exceção. Um país dividido entre os que “dizem amar a pátria”, “assumem-se como religiosos cristãos” e “valorizam a segurança dos cidadãos a partir do armamentismo e da oficialização da violência, institucional ou individual”, mas que se apossaram dos conceitos de povo, pátria e fé, para espezinharem e tentarem impedir qualquer outra manifestação contrária às suas “crenças” e “opiniões”.

Um país plural tem como valor imprescindível a diversidade de opiniões, a liberdade das manifestações e o respeito inafastável entre aqueles que se consideram “opostos”, separados pela natureza de suas próprias convicções. Um país plural requer uma democracia forte, estruturada sobre tríplices pilares (Executivo, Legislativo e Judiciário), que se fiscalizam, entre si, e que delimitam os arroubos que possam vir tanto das ideologias quanto da interpretação e uso das ferramentas legais, políticas e jurídicas disponíveis. Bradar, de um lado, contra os demais lados da estrutura de poder de um Estado já é, de início, uma malformação de caráter e uma manifestação clara de desrespeito ao próprio ideal de Estado Democrático.

E para que não fique no escopo da personalidade (candidato A x candidato B) – ainda que a “seleção individual” da melhor opção seja a decorrência de toda esta análise e construção ideológica espírita – devemos perpassar os olhos para as “realizações” do governo que se encerra, em todas e qualquer uma das áreas em que o Governo da República Federativa do Brasil atua e é constitucionalmente obrigado a atuar, para chegar às seguintes conclusões técnicas e jurídico-políticas:

a) Economia – retorno da inflação galopante; carestia; perda do poder de compra dos salários; fechamento de postos de trabalho; falência de empresas privadas; saída do país de grandes conglomerados industriais e econômicos; pobreza e miserabilidade do povo; ausência de manutenção dos estoques reguladores de alimentos do Governo Federal; redução dos subsídios aos derivados do petróleo; privatização de empresas e áreas lucrativas do Estado;

b) Saúde – retorno de doenças e enfermidades antes erradicadas no país; política de negação da gravidade (negacionismo) da Pandemia Covid19; atraso na imunização de toda a população; apresentação de alternativa medicamentosa (cloroquina) considerada imprópria para o tratamento da enfermidade; denúncias envolvendo a compra dos imunizantes;

c) Política Interna – retorno das “negociatas” com o Congresso Nacional; falta de transparência em relação ao orçamento com a adoção do chamado “orçamento secreto”; inabilidade de conversação e tratativas com blocos partidários; ataques contra os representantes do legislativo, quando opostos aos seus interesses; política permanente de combate ao Judiciário, especialmente ao Supremo Tribunal Federal, maior instância judicial do país; denúncias de malfeitos em vários Ministérios, importando no afastamento ou substituição de autoridades públicas, especialmente Ministros de Estado;

d) Política Externa – manifestações depreciativas em relação a povos, etnias e países, em discursos no país; expressões indignas e censuráveis em eventos internacionais, seja os realizados em órgãos internacionais (Mercosul, OEA, ONU) seja em visitas protocolares a outros Estados;

e) Segurança Pública – redução dos efetivos policiais, civis e militares, no patrulhamento e combate ostensivo à violência e à criminalidade; ausência de efetivo combate as milícias e organizações paramilitares; discurso e medidas legais de aparelhamento armamentista do cidadão comum, investindo na tese de que a segurança pública pode ser realizada pelo indivíduo civil, sem treinamento e preparo adequados, numa política baseada no “olho por olho e dente por dente”;

f) Meio Ambiente – aumento incomensurável das áreas devastadas em todos os ecossistemas brasileiros; permissão à exploração galopante e descontrolada (mineração, garimpo e extração de madeira, assim como comércio de espécies animais); ausência de monitoramento das áreas ambientais de interesse nacional e da efetiva prevenção de desastres ambientais;

g) Educação – atitude sistemática de depreciação do ensino técnico profissionalizante e do ensino superior, com achincalhamento dos profissionais que atuam em universidades; diminuição a níveis jamais conhecidos dos incentivos governamentais à formação educacional, como bolsas de ensino e dos percentuais repassados às instituições federais de ensino técnico e superior.

Sensatez e voto

Poderíamos, ainda, listar muitas outras áreas. Mas entendemos que o recorte acima já seja, por si só, suficiente. A regressão do “modo de administração” do Estado Brasileiro, na atenção aos seus deveres e misteres constitucionais, é flagrante e está exposta em números de qualquer instituição que se dedica, de modo independente, ao mapeamento e à apresentação dos resultados dos programas e ações governamentais.

Não, não se trata de um discurso político-partidário. Mas é, sim, um discurso político espírita, destinado a estabelecer, após a detalhada análise, a crítica sobre qual modelo de gestão e qual ideologia desejamos que prevaleça em nosso país. Lembrando o Codificador, no texto apresentado acima, a “luta inevitável, mas desigual”, entre o “passado decrépito, que cai em farrapos” e o “o futuro juvenil”, ou, ainda, “da estagnação contra o progresso” é a nossa luta do hoje.

E, para isso, a nossa opção se apresenta como contrária ao passado decrépito e à estagnação que representa o candidato Bolsonaro, admitindo-se que a construção do futuro juvenil e do progresso passam pela escolha do candidato capaz de dar um basta ao quadro acima apresentado, em riqueza de detalhes e em elementos reais, de fácil identificação para o homem comum, optando-se pela candidatura que, se não perfeita – já que estamos num plano de expiações e provas, repleta de indivíduos imperfeitos e passíveis a erros – representa a COMPLETA NEGAÇÃO do modelo político-administrativo-ideológico que aquele candidato representa e que “geriu” nosso Brasil de 2018 a 2022.

Assim sendo, o coletivo “Espiritismo COM Kardec” avaliza, endossa, assume e recomenda a TODO ESPÍRITA SENSATO, que entendeu a proposta contida na Codificação Espírita, o voto em Luiz Inácio Lula da Silva.

É a nossa posição, ainda respeitando a liberdade democrática, a livre convicção e a manifestação pacífica e ordeira, de cada cidadão espírita eleitor.

Brasil, 25 de setembro de 2022, a uma semana da eleição presidencial, em primeiro turno, 2 de outubro.

Coletivo Espírita “Espiritismo COM Kardec”.

Imagem de costasuellen por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

6 thoughts on “A primavera de uma eleição para melhores dias

  1. Finalmente me chega uma manifestação sensata e contrária a todos esses desmandos desse desgoverno, oriundo dos ditos espíritas. Em contraposição ao apoio vergonhoso de outros tantos, e não são poucos, profitentes do espiritismo. Vale um destaque aqui para as manifestações públicas de Divaldo Pereira Franco e Aroldo Dutra. Lamentável e um desserviço para o movimento. Entretanto, em uma democracia, nada mais justo, assim como aqui manifesti a minha opinião contrária a governança nacional.

  2. Maravilhoso! Esse cara, que não vou pronunciar o nome, encantou (no termo pejorativo da palavra) quase toda uma nação…. espero que as pessoas saiam desse transe de ódio e medo.

  3. O ECK onde estou abrigado por simpatia e sintonia de afinidades não poderia ser melhor e mais abrangente por discorrer nestas linhas a batalha entre a civilização e a barbárie, entre o amor que se encontra em construção e o ódio já construído que peleja em destruir as intenções de superação moral do Brasil. Realmente, este belo artigo me representa, é tudo que eu quero ver, é tudo que eu quero sentir e trabalhar pelas pautas que defende. Parabéns ao autor.

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