A moral do Espiritismo, por Amílcar Del Chiaro Filho (in memoriam)

Tempo de leitura: 3 minutos

O Livro Terceiro – Leis Morais –, de “O livro dos Espíritos”, apresenta teorias avançadas para a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.

Absurdamente, os críticos do Espiritismo, ao tempo de Kardec, acusaram a doutrina de imoral, simplesmente porque ele afirmou que a mediunidade se manifestava nas pessoas independentemente da sua moral. Confundiram o médium, ser humano falível, com a Doutrina Espírita, ditada pelos espíritos superiores, com a contribuição dos homens e, em especial, do próprio Kardec.

O Espiritismo tem uma moral límpida, clara, sem concessões especiais, sem fanatismo ou exigências absurdas. Aprendemos com ele que viemos dos reinos inferiores da natureza, e hoje somos humanos em demanda à angelitude, entendida esta como sabedoria e virtude. Como homens, vivemos a dualidade matéria/espírito, pois temos as necessidades materiais de alimentação, vestuário, abrigo, escola, trabalho, lazer, sexo e aspirações de levantar voo em busca da nossa espiritualização. Nenhum Espírita consciente de sua Doutrina despreza a oportunidade de viver e aprender.

Que (quem) lê “O livro dos Espíritos”, sem pensamentos preconcebidos, admira-se de sua simplicidade e profundidade. Não existem teorias esdrúxulas, conflitantes, mas tudo é claro e natural. O seu Livro Terceiro – Leis Morais – apresenta teorias avançadas para a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.

Não queremos deixar este artigo demasiadamente longo e enfadonho, mas dar um rápido passeio sobre os temas, destacando uma ou outra coisa, aqui e ali, a começar pela Lei de Adoração. Aprendemos com a Doutrina Espírita a não ter medo de Deus, portanto, nossa adoração não é para aplacar sua ira, mas a submissão consciente e pacífica da criatura ao seu Criador. Se o adoramos, é porque o amamos. Também não o adoramos exteriormente, com pompas e ouropéis, mas sim no coração, no sentimento.

Na Lei de Destruição, aprendemos que, ao morrermos, apenas o invólucro material perece. O espírito escapa do casulo e levanta seu voo para a espiritualidade. Quem poderá entender melhor que os espíritas as palavras de Paulo de Tarso: “Semeia-se corpo animal e nasce o corpo espiritual”?

Na Lei do Trabalho vem a sentença sábia: o limite do trabalho é o das forças do homem. Aquele que não pode (se sustentar) sustentar-se deve ser cuidado pela sociedade. A falta de trabalho é flagelo. Sim, é um flagelo talvez superado, somente, pelo egoísmo da humanidade.

Na Lei de igualdade fica demonstrado que Deus não criou as classes sociais. Todos somos iguais perante Deus, e Kardec eleva a mulher à sua verdadeira condição. Homens e mulheres têm os mesmos direitos, mas deveres, ou funções, diferentes. Mesmo que para alguns pareçam modestas as funções, há cento e quarenta anos era essa uma posição avançadíssima.

As Leis Morais aniquilam o aborto, a eutanásia, a escravidão, o domínio do homem sobre a mulher, e chama a atenção de pais e educadores para a necessidade da educação moral, formadora de bons hábitos, e não apenas a instrução.

Mas, nos deleitamos com a Lei de Justiça, Amor e Caridade, (em que) onde os espíritos afirmam que o primeiro direito do homem é o de viver. Para nós é um hino de amor, um grito de alerta, antes mesmo da existência de entidades que defendem os direitos humanos. O direito de viver compreende a dignidade da vida.

O Livro afirma que ninguém pode atentar contra a vida de outrem. É fácil compreender que não se trata de atentado com arma ou com agressão, mas também atentar-se contra a vida de outrem com a má distribuição de renda e dos bens da Terra, com a justiça morosa e, às vezes, imoral em relação aos fracos e oprimidos.

A Doutrina Espírita é viril, corajosa, revolucionária. A nosso ver, erram aqueles que pregam uma doutrina de submissão, dizendo que os que sofrem, hoje, gozaram e abusaram ontem. É essa sociedade injusta e opressora que fabrica as “candelárias”, os massacres de presos, as revoltas da FEBEM, as torturas, as ditaduras e os crimes bárbaros.

Não pregamos a violência, mas a coragem de dizer a quem erra que ele é o responsável pelas consequências advindas de seus atos. A coragem de mostrar a hipocrisia dos que desvirtuam um mandato outorgado pelo povo, para exercê-lo em favor do povo, e não de si mesmo ou do seu corporativismo.

Cremos que já é hora dos espíritas aperfeiçoarem a sua assistência social, que é importante, com mudanças sociais. Viver não pode ser uma concessão dos mais fortes, e sim um direito natural. Fazer aos outros o que queremos que nos seja feito é, ainda, uma regra de ouro para a humanidade.

Administrador site ECK

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “A moral do Espiritismo, por Amílcar Del Chiaro Filho (in memoriam)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.