A moral do Espiritismo, por Amílcar Del Chiaro Filho (in memoriam)

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O Livro Terceiro – Leis Morais –, de “O livro dos Espíritos”, apresenta teorias avançadas para a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.

Absurdamente, os críticos do Espiritismo, ao tempo de Kardec, acusaram a doutrina de imoral, simplesmente porque ele afirmou que a mediunidade se manifestava nas pessoas independentemente da sua moral. Confundiram o médium, ser humano falível, com a Doutrina Espírita, ditada pelos espíritos superiores, com a contribuição dos homens e, em especial, do próprio Kardec.

O Espiritismo tem uma moral límpida, clara, sem concessões especiais, sem fanatismo ou exigências absurdas. Aprendemos com ele que viemos dos reinos inferiores da natureza, e hoje somos humanos em demanda à angelitude, entendida esta como sabedoria e virtude. Como homens, vivemos a dualidade matéria/espírito, pois temos as necessidades materiais de alimentação, vestuário, abrigo, escola, trabalho, lazer, sexo e aspirações de levantar voo em busca da nossa espiritualização. Nenhum Espírita consciente de sua Doutrina despreza a oportunidade de viver e aprender.

Que (quem) lê “O livro dos Espíritos”, sem pensamentos preconcebidos, admira-se de sua simplicidade e profundidade. Não existem teorias esdrúxulas, conflitantes, mas tudo é claro e natural. O seu Livro Terceiro – Leis Morais – apresenta teorias avançadas para a sua época, especialmente no que concerne aos direitos da mulher e ao direito de viver.

Não queremos deixar este artigo demasiadamente longo e enfadonho, mas dar um rápido passeio sobre os temas, destacando uma ou outra coisa, aqui e ali, a começar pela Lei de Adoração. Aprendemos com a Doutrina Espírita a não ter medo de Deus, portanto, nossa adoração não é para aplacar sua ira, mas a submissão consciente e pacífica da criatura ao seu Criador. Se o adoramos, é porque o amamos. Também não o adoramos exteriormente, com pompas e ouropéis, mas sim no coração, no sentimento.

Na Lei de Destruição, aprendemos que, ao morrermos, apenas o invólucro material perece. O espírito escapa do casulo e levanta seu voo para a espiritualidade. Quem poderá entender melhor que os espíritas as palavras de Paulo de Tarso: “Semeia-se corpo animal e nasce o corpo espiritual”?

Na Lei do Trabalho vem a sentença sábia: o limite do trabalho é o das forças do homem. Aquele que não pode (se sustentar) sustentar-se deve ser cuidado pela sociedade. A falta de trabalho é flagelo. Sim, é um flagelo talvez superado, somente, pelo egoísmo da humanidade.

Na Lei de igualdade fica demonstrado que Deus não criou as classes sociais. Todos somos iguais perante Deus, e Kardec eleva a mulher à sua verdadeira condição. Homens e mulheres têm os mesmos direitos, mas deveres, ou funções, diferentes. Mesmo que para alguns pareçam modestas as funções, há cento e quarenta anos era essa uma posição avançadíssima.

As Leis Morais aniquilam o aborto, a eutanásia, a escravidão, o domínio do homem sobre a mulher, e chama a atenção de pais e educadores para a necessidade da educação moral, formadora de bons hábitos, e não apenas a instrução.

Mas, nos deleitamos com a Lei de Justiça, Amor e Caridade, (em que) onde os espíritos afirmam que o primeiro direito do homem é o de viver. Para nós é um hino de amor, um grito de alerta, antes mesmo da existência de entidades que defendem os direitos humanos. O direito de viver compreende a dignidade da vida.

O Livro afirma que ninguém pode atentar contra a vida de outrem. É fácil compreender que não se trata de atentado com arma ou com agressão, mas também atentar-se contra a vida de outrem com a má distribuição de renda e dos bens da Terra, com a justiça morosa e, às vezes, imoral em relação aos fracos e oprimidos.

A Doutrina Espírita é viril, corajosa, revolucionária. A nosso ver, erram aqueles que pregam uma doutrina de submissão, dizendo que os que sofrem, hoje, gozaram e abusaram ontem. É essa sociedade injusta e opressora que fabrica as “candelárias”, os massacres de presos, as revoltas da FEBEM, as torturas, as ditaduras e os crimes bárbaros.

Não pregamos a violência, mas a coragem de dizer a quem erra que ele é o responsável pelas consequências advindas de seus atos. A coragem de mostrar a hipocrisia dos que desvirtuam um mandato outorgado pelo povo, para exercê-lo em favor do povo, e não de si mesmo ou do seu corporativismo.

Cremos que já é hora dos espíritas aperfeiçoarem a sua assistência social, que é importante, com mudanças sociais. Viver não pode ser uma concessão dos mais fortes, e sim um direito natural. Fazer aos outros o que queremos que nos seja feito é, ainda, uma regra de ouro para a humanidade.

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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