A Economia Política à Luz do Espiritismo, por Alberto Oliva

Tempo de leitura: 4 minutos

Os falsos religiosos não têm coragem de destilar seu materialismo às claras.

O Brasil gosta de dar vida nova a modelos de pensamento que no Primeiro Mundo já se encontram em adiantado estado de decomposição. O positivismo comteano, como sistema filosófico fechado, foi praticamente varrido da França e do mundo. No Brasil, pelo menos no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, tem até Igreja Positivista. O marxismo depois da queda do Muro de Berlim penetrou ainda mais fundo no universo mental das classes letradas e semiletradas de nossa Terra de Santa Cruz. Poucos patrícios operam com a categoria de caducidade intelectual. O universo mental brasileiro é generoso: aplaude – até pede bis – ideias que ficaram com pouca audiência nas sociedades mais avançadas.

Não cabe submeter as crenças religiosas a um critério de obsolescência rigoroso como o que vale para a ciência e frouxo como o que se aplica à filosofia. Mas não deixa de ser curioso o fato de que na pátria de Alan Kardec é diminuto o número de seus seguidores, enquanto que por aqui é expressivo o número de adeptos do espiritismo. Mais desconcertante que a entusiástica defesa de ideias com prazo de validade vencido, é o baile de máscaras no qual as pessoas disfarçam a matriz das ideias que professam.

Muitos de nossos religiosos, alguns desfrutando de enorme prestígio, nada mais são que materialistas enrustidos. Escondem a verdadeira identidade filosófica recorrendo à religião para ocultar o casamento que seus discursos promovem entre socialismo e fé. Em nome de Deus pregam o ódio e a luta de classes. Sua visão da história nada tem de religioso. Não distinguem, à maneira do grande Santo Agostinho, a Civitas dei da Civitas hominis, o amor dei do amor sui. Confundem o que é de Deus com o que é de César. Fingem acreditar em Deus apenas para tentar substituí-lo no coração dos sofredores e desvalidos, apresentando-se como demiurgos em condições de refazer o mundo do zero por meio do poder político absoluto. Sempre invocando utopias, terras prometidas, justiças perfeitas que, no fim do processo, geram um mundo ainda pior que aquele que ferozmente criticam. O que, no fundo, fazem é despudoradamente instrumentalizar a fé em nome da consecução de inconfessáveis projetos totalitários. Criam formas sutis de dar vazão à inveja e ao ressentimento defendendo conceitos de justiça que apregoam ser correto tirar de quem tem o que tem independentemente dos ingentes sacrifícios que tenha tido de fazer para ter o que tem.

Os falsos religiosos não têm coragem de destilar seu materialismo às claras. Manipulam a fé e a desesperança para transformar o desespero em ação política violenta. Recorrem a figuras de estilo, manipulam metáforas como as que se fazem presentes nos Evangelhos, com o fito de apregoar que os sofrimentos materiais, todo o mal do mundo, decorrem apenas de uma desigual distribuição da riqueza. No país em que a Teologia da Libertação não ousa assumir sua verdadeira identidade, a de braço religioso do materialismo histórico de Marx, vale a pena ler “O evangelho segundo o Espiritismo”, de Alan Kardec visto que lá não há lugar para simplificações e maniqueísmos.

No Capítulo XVI, desta obra, no item 8 – Desigualdade das Riquezas, indaga Kardec o porquê de não serem todos os seres humanos igualmente ricos. E ele mesmo responde:

“não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse a ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades”.

Com um espírito de antevisão extraordinário, Hume no século XVIII antecipa, em Enquiry Concerning the Principles of Morals (Uma investigação sobre os princípios da Moral”), o que acontecerá sob o socialismo real:

“tornem-se as posses iguais e as diferenças de habilidade, diligência e indústria ostentadas pelos homens não demorarão a desfazer a igualdade. Faça-se isso e se reduzirá a sociedade a mais extrema forma de indigência; e em vez de as carências e a mendicância de uns poucos serem extintas, acabarão se tornando inevitáveis para toda a comunidade. Será exigida a mais rigorosa inquisição para se surpreender cada desigualdade na sua primeira aparição, e a mais rigorosa legislação para puni-la e revertê-la. Tanta autoridade acabará rapidamente degenerando em tirania…”

Comparando os textos, fica a impressão de que Kardec se inspirou no filósofo escocês. O triste é constatar que no Brasil se dissimula a fome de totalitarismo com o ideal da perfeita igualdade. Para as ideologias que não conseguem conferir cientificidade às suas teses, a sugestão é que discutam economia com boas pitadas do bom senso do espiritismo. Ler Kardec é mais instrutivo que estudar teorias econômicas esclerosadas e especiosas teorias teológicas. Quem não tiver paciência para percorrer os intrincados meandros da ciência, pode optar por aprender alguma coisa com o Espiritismo.

* Artigo originariamente publicado na Revista Espírita Harmonia, em formato impresso, em dezembro de 2008.

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “A Economia Política à Luz do Espiritismo, por Alberto Oliva

  1. Faltou estudo. Desculpe. Recomendo ler a obra O Capital. Será útil. A visão está prejudicada por preconceitos do que soube de um lado e não tentou ver à fundo o que se é o que deixa de ser. Pena ver isso no espiritismo, que de seu lado é tão atacado. Só prejudica um real estudo das questões do capitalismo, que sempre é colocado acima de qualquer suspeita.

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