Felipe Felisbino
***
O mundo tecnológico oferece riscos à sensibilidade humana, se não for equilibrado com experiências afetivas, presenciais e simbólicas, pois, no fundo, não se trata de ser tecnológico ou não. Trata-se de continuar sendo humano com: presença, afeto, tempo, olhar, corpo, escuta e silêncio.
***
Nós, da faixa etária compreendida entre 45 e 65 anos, somos uma geração privilegiada. Temos a graça de sermos ponte entre dois mundos, o analógico e o digital. Vivemos as cartas, vimos a máquina de escrever, o computador, a chegada da internet, do e-mail, as máquinas que entendem e respondem com naturalidade, e a inteligência artificial evolui a cada minuto.
Mais do que observar, nós vivemos essas mudanças. Adaptamo-nos ao novo mundo sem esquecer o anterior. Carregamos em nós a memória de tempos mais lentos, mas também a capacidade de lidar com a velocidade das transformações contemporâneas.
Não fomos espectadores passivos, mas protagonistas. Também experimentamos revoluções sociais e culturais profundas, novos modelos de trabalho, as relações sociais ganharam novas formas e o mundo se tornar, de fato, globalizado.
Hoje, convivemos com a Geração Alpha, que cresce em um universo altamente conectado, cercada de telas, algoritmos e inteligência artificial. Ela é moldada por uma era de incertezas, crises ambientais e sociais.
Porém, ao mesmo tempo, essa nova geração traz consigo uma consciência ampliada sobre diversidade, inclusão e responsabilidade planetária. Nasce digital, sim, mas também mais atenta, mais crítica, mais aberta. O futuro que vislumbramos pode ser mais empático, sensível e colaborativo.
Na expectativa da Geração Beta, as gerações deste momento devem de se preparar para inspirar, orientar e dialogar com os que virão, para que a tecnologia não substitua a humanidade, mas a potencialize.
A frieza não está no chip e nem todo código é frio. A tecnologia não é sinônimo de frieza. Pode ser ponte ou barreira. Cabe a nós orientarmos os que hão de vir, para que não se percam em si mesmos. O mundo tecnológico oferece riscos à sensibilidade humana, se não for equilibrado com experiências afetivas, presenciais e simbólicas, pois, no fundo, não se trata de ser tecnológico ou não. Trata-se de continuar sendo humano com: presença, afeto, tempo, olhar, corpo, escuta e silêncio.
A maturidade humana adquirida nas travessias geracionais derrete na ação de alguns que incorporam os bebês “Reborns” — bonecos ultrarrealistas, os quais se parecem com recém-nascidos, adotados por adultos que os tratam como filhos, vestem, alimentam, colocam para dormir [1].
Em princípio, parece apenas uma extensão inofensiva do afeto. Entretanto também pode revelar um esvaziamento profundo da afetividade real, substituindo o toque humano pela fantasia, anestesiando a ausência do outro, o toque verdadeiro, o calor do abraço, o cheiro da pele.
A realidade nos chama: é preciso reconectar o humano com o humano. Não apenas simular vínculos, mas vivê-los com a capacidade de amar e sermos amados, em efetiva presença.
Nota do ECK:
[1] Esta temática foi também abordada no seguinte artigo, em nosso Portal:
Henrique, M. (2025). O Direito de Existir ante os Tribunais de Internet e as Doenças Humanas: o caso “reborn”. Espiritismo Com Kardec – ECK. Disponível em <https://www.comkardec.net.br/o-direito-de-existir-ante-os-tribunais-de-internet-e-as-doencas-humanas-o-caso-reborn-por-marcelo-henrique/>. Acesso em 15. Jun. 2025.
Edição: Junho de 2025
Editorial: Kardec ante os paradoxos humanos, por Nelson Santos e Manoel Fernandes Neto
É preciso retomar algumas práticas esquecidas, por Cláudio Bueno da Silva
O papel de cada um na transformação do Mundo, por João Afonso G. Filho
O privilégio de ter vivido a transformação do mundo, por Felipe Felisbino