Temos força política enquanto mulheres espíritas?, por Ana Claudia Laurindo

Tempo de leitura: 2 minutos

Ana Claudia Laurindo

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Temos um cenário de renovação em pleno movimento de deslocamento representativo, mas nem de longe ainda podemos afirmar que a presença da mulher tenha o espaço justo no campo do pensamento espírita brasileiro.

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Quando Beauvoir lançou a célebre frase sobre não nascer mulher, mas tornar-se mulher, obviamente não se referia ao fato biológico, pois o nascimento corpóreo da mulher é na verdade, o primeiro passo para a modelagem comportamental que a sociedade machista/patriarcal elaborou.

Deste modo, o sentido de se tornar mulher não é uma negação biológica, mas uma reafirmação do poder social que se constituiu dominante sobre este corpo, arrastando a uma determinação representativa dos vários papéis atribuídos ao gênero, de acordo com as convenções patriarcais, que sempre lucraram sobre este domínio.

Após o preâmbulo de contextualização, nosso foco de análise é o papel social criado para a mulher espírita brasileira, em um contexto histórico no qual a presença do chefe de família, do profissional de prestígio na medicina, da insígnia militar e política, foram importantes para a afirmação do que chamaram de nova religião, embora sempre oscilassem entre a filosofia e  ciência.

A mulher espírita foi constituinte de um cenário de importância política no Espiritismo brasileiro apenas na posição de médium. Era uma representação muito mais ditada pela espiritualidade do que pelo espaço político/cultural onde estava imersa, que no caso, foram os centros espíritas ou espaços semelhantes.

Como amplo território filosófico, o Espiritismo no Brasil foi ocupado por homens de destaque social garantido, e para as mulheres que não eram agraciadas pelo dom mediúnico sobravam as alçadas da caridade, organização de eventos e administração interna das casas e centros, que na prática, foi a negação da participação feminina na elaboração do pensamento espírita.

O que temos hoje no Brasil, com relação a isso? Temos um cenário de renovação em pleno movimento de deslocamento representativo, mas nem de longe ainda podemos afirmar que a presença da mulher tenha o espaço justo no campo do pensamento espírita brasileiro.

Os homens espíritas são apenas homens culturais e sociais, imbuídos das mesmas ideias de gênero que a maior parte da sociedade, e utilizam recursos semelhantes na manutenção do território. Por esta razão, o perfil da mulher espírita autônoma ainda está cerceado pelas assertivas de pacificação relacional e harmonia.

O caminho aberto não será fechado se persistirmos escrevendo e falando, no cultivo consciente de que também aqui temos uma luta de gênero em curso.

Se não assumirmos este posicionamento político a sonhada evolução continuará estacionada nos abraços convencionais e na manutenção de postos de prestígios intelectuais que o masculino, sendo espírita ou não, aprendeu a manejar com precisão.

Olhos para cima que a submissão sempre orientou olhar por baixo! Essa é a revolução, seja onde for, que a mulher assuma posicionamentos políticos libertários!

Nota do ECK: Artigo originalmente publicado no Blog da Autora, no site “Repórter Nordeste”.

Imagem de Alana Jordan por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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