Wilson Custódio
O ponto crucial reside em: O que significa ser um ECKano?
Antes de responder à pergunta ‘O que é ser um ECKano?’, permitam-me fazer uma breve retrospectiva.
Tempos atrás, para ser preciso, há 40 anos, uma coordenadora de estudos e amiga, agora no plano espiritual, aconselhou-nos sobre a importância de estudarmos com profundidade e desprendimento a doutrina dos espíritos.
Ela compreendia que, ao se distanciar dos ensinos de Allan Kardec, as instituições espíritas estariam propensas a criar sistemas e métodos, portanto, fadadas ao mítico e ao religiosíssimo que poderiam, no futuro, conduzi-las a previsível ameaça de se tornarem templos de adoração e fé cega.
Na métrica do tempo que me cabe, sabemos que quatro décadas de atuação no espiritismo é ínfimo, todavia, nesse lapso, podemos afirmar: Minha querida amiga; sim, tinhas razão. Hoje não resta dúvidas: alteramos a compreensão de Allan Kardec, tornando o Mestre de Lionês numa incógnita até mesmo entre os próprios adeptos do espiritismo.
Mas a questão é: O que significa ser um ECKano? Minha resposta segue um viés crítico-analítico.
Inspirado pelas reflexões do renomado escritor Umberto Eco sobre o uso inadequado da internet, percebo paralelos relevantes com o MEB- Movimento Espírita Brasileiro e seus Órgãos Representativos. Antes da ascensão da internet, os autointitulados sábios do espiritismo podiam expressar suas opiniões em centros espíritas, após eventos institucionais organizacionais, sem causar grandes danos à coletividade. No entanto, o advento das redes sociais trouxe consigo um novo desafio: qualquer indivíduo, mesmo desprovido de conhecimento substancial, também extremamente providos, pode se autoproclamar detentor da verdade universal do espiritismo, ampliando assim o potencial de disseminação de ideias equivocadas.
Desta forma, consciente de que o acaso é apenas uma ilusão, o ECK – Espiritismo Com Kardec – surge diante de mim em um momento oportuno, levando-me a revisitar as 32 obras de Allan Kardec e a ressignificar a Doutrina dos Espíritos. Ser ECKano implica em adotar uma perspectiva interpretativa e reflexiva única; não exclusiva, sobre as obras de Kardec, permitindo uma compreensão renovada e atualizada dos princípios e ensinamentos do Espiritismo.
Muitos amigos de doutrina, vulgo, doutrinados, questionam o que digo: Por que? Orgulho de ser ECK; Por que? ECK – Espiritismo tratado a sério. Você não acha que é um tanto prepotente? Sinceramente, não. E posso explicar por quê.
No meio da turbulência atual no âmbito do espiritismo, a máxima de Yeshua ‘quem tem olhos de ver que veja’ ressalta a importância da perspicácia para compreender além das aparências. É crucial que cultivemos um mínimo de bom senso, mesmo que isso contrarie a vaidade e orgulho que nos são peculiares, a fim de despertar nossa razão. Pois é ela que nos orienta, não em busca da verdade absoluta, mas sim em direção ao entendimento e à evolução.
Entendemos que aqueles que se fecham na crença de possuir a verdade definitiva acabam por obstruir o progresso, pois cessam o discernimento e mortificam as perspectivas. Portanto, é fundamental para nós, enquanto ECKanos, adotarmos uma postura reflexiva e receptiva, que possa fomentar o desenvolvimento espiritual quanto intelectual, uma vez que ambos coexistem na trajetória espirita progressista.
Porém, a questão é: o que implica ser um ECKano? Minha resposta é uma mistura de emoção e gratidão.
Kardec é a bússola e se preocupou profundamente, consciente do que aguardava o futuro do espiritismo, pois, se em seu tempo os indivíduos impulsionados pelo orgulho, pela vaidade e pela presunção já eram abundantes, hoje não seria diferente.
Partindo do simplório supracitado, por um fim que não se finda neste texto, ser ECKano é revisitar Allan Kardec em sua forma mais singela: filosofia, ciência e moral. Eis o triângulo que não se fecha, mas aponta para nosso guia e modelo, Yeshua.
ECK Oito Anos: pelo olhar da razão
Destarte
Quando
a crença já não abraçavas,
Quando
luz te faltava à mente,
Quando
a busca era ilógica,
Quando
a fé era esmaecida.
Então
Quando
pediam-te: “Perdoa”,
Quando
o amor se tornava mudo,
Quando
te afogavam em dúvidas,
Quando
médiuns eram louvados.
Assim
Quando
expirei profundamente!
Quando
apontaram-me o dedo,
Quando
deliravam inquisidores,
Quando
o grito ecoava: “Raca!”.
Logo
Quando
tribunos do espiritismo,
Quando
gritavam: “És insano!”,
Quando
questionava: Onde está Kardec?
Quando
ouvias, és atormentado!
Por consequência
Quando
sobre os ombros fito
Quando
vejo homens inanimados,
Quando
estátuas de sal se desfaziam,
Quando
pseudos se diluem no tempo.
Por isso
Quando
nada mais esperava,
Quando
nas redes irrompia
Quando
Espiritismo Com Kardec
Quando
era genuíno: “Espírita!”.
Eis que sorria
Quando
relembrava Kardec,
Quando
fazia amigo e encontrava,
Quando
me redescobria então,
Quando
já não era pagão.
Sim
Quando
a dialógica fazia eco,
Quando
a dialética florescia,
Quando
Kardec por Kardec,
Quando
Espíritas, por si, Espírita.
Por fim
Quando
sabia-se que era sem fim,
Quando
percebia-se o incômodo,
Quando
aceitava-se os dissidentes,
Quando
Espiritismo Com Kardec, sim.
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