Valéria Ledoux
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Temos muito a caminhar pra entender o que significa amar. Nossa capacidade de amar é ínfima, pautada em parâmetros equivocados, achando que existe amor incondicional na terra? No mesmo planeta onde se faz a guerra como justificativa pra se obter a paz?!
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Eu não gosto de religião. Penso em religiosidade em espiritualidade, em amor, em Deus. Porém, impedir o outro de ter uma religião, é o mesmo que o obrigar a seguir uma.
Quebrar templos, terreiros, imagens consideradas sagradas, queimar livros, proibir que se siga uma religião é catastrófico. Assim como hostilizar uma outra, que não a sua, também o é.
Gosto muito da figura e da ideia de um ser como Jesus. Mas como um homem que já tinha atingido um nível de desenvolvimento e progresso espiritual que não se deixava dominar pelas emoções. Um homem que tinha o eixo ego/self em equilíbrio e que sentiu a força do corpo, com suas sensações humanas, porém sem se deixar dominar por elas.
Deixou pra nós um legado imenso de amor! Falava em amar a si mesmo; em amar o próximo; em não fazer ao outro o que não queria que a si fosse feito; em empatia; em respeito ao próximo, fosse esse até seu inimigo; em trabalhar em si mesmo a paciência, aprendendo a se conhecer, reconhecendo suas deficiências sem deixar de valorizar suas próprias atitudes boas.
Um homem que passou pela vida, foi concebido por um ato sexual, nasceu por um parto, viveu a infância com naturalidade, passou pela adolescência, juventude e fase adulta. Ensinou a respeitar as pessoas, mas separar-se das posturas e pensamentos nao condizentes com a sua postura, mesmo que isso fosse em relação a pai e mãe. Separar-se sem romper. Afastar-se energeticamente do que não estivesse em acordo com sua ética e sua moral, que se traduzia em humildade, paciência, instrução e amor.
Como compactuar essa figura com posturas que pregam uso de armas, dominação, misoginia, racismo, homofobia, morte aos que estão em desacordo, aos que roubam, matam, estupram, aos que fazem maldades ?
Como comparar essa figura com impedir a beneficência, a doação de alimentos aos famintos, aos desprovidos do básico?
Como pensar em meritocracia apartada de equidade e de equanimidade, pensando em igualdade, quando não somos iguais?
Temos (apenas na lei) direitos iguais, mas não na prática; partimos de pontos muito diferentes!
Sinto dor ao ouvir pessoas dizerem que basta se empenhar, trabalhar e estudar com afinco e dedicação, que se vence. E a grande maioria, que foi negligenciada, mal alimentada, que passou fome e frio em todos os sentidos, que pega 2, 3 ou 4 ônibus pra chegar no trabalho, acordando às 3 ou 4h da manhã e continua em situação precária?
É muita falta de senso! Quem ficaria feliz, calmo, pacífico, com fome?
Precisamos entender de uma vez por todas que temos sim, dentro de nós, monstros, que se alimentados e bem provocados emergem e agridem. E aí a solução proposta é tirar-lhes a vida? Não seríamos iguais?
Colocar a responsabilidade em Deus ou na reencarnação (como fazem muitos espíritas), com explicações esdrúxulas e desprovidas de lógica, como se deus fosse pior do que muitos dos humanos? Não creio! Essa responsabilidade é nossa! Desenvolvida ao longo das várias encarnações, onde perpetuamos os mesmos equívocos do egoísmo, falta de auto avaliação e conhecimento e de muita vaidade e prepotência!
Quando eu penso em Deus, eu penso em inteligência suprema, em amor verdadeiro, em benevolência, em caridade real!
Temos muito a caminhar pra entender o que significa amar. Nossa capacidade de amar é ínfima, pautada em parâmetros equivocados, achando que existe amor incondicional na terra? No mesmo planeta onde se faz a guerra como justificativa pra se obter a paz?!
Acumulamos muito mais do que necessário e em alguns casos, sem condições de usar nem um centésimo ou mais, em 5 gerações, em detrimento de mais da metade da população mundial com fome!?
Achamos que nossos direitos são prevalentes aos direitos dos outros e que se quem causou o problema (crime, pedofilia, espancamento, traição, misoginia, roubo, etc.) foi um filho, ele merece ser poupado em detrimento do outro (mesmo que esse inocentemente tenha sua liberdade cerceada).
Há seres que precisam estar alijados da sociedade? Sim! Mas em prisão restaurativa. Esses se perderam tanto de si mesmos, que não conseguem discernir. Foram cooptados pelo mal. Como compactuar isso tudo, com amor incondicional?
Deus só age pelo bem e para o bem. Nosso conceito de sucesso se encontra atrelado a ter, e não a ser! Somos ainda um devir, um vir a ser, estamos em processo. Estamos equivocados! E muito!!!
Temos ainda um longo caminho a caminhar, mas, como disse um sábio, mesmo pra uma longa caminhada, há que se dar o primeiro passo e sejamos a mudança que queremos no mundo.
Imagem de Christian por Pixabay




