Marcelo Teixeira
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Procurei pelo Natal. E encontrei, enfim, o Cristo: o que tanto me ouve e me entende, o que precisa renascer em mim e em todas as pessoas. O Cristo que precisa tomar as ruas: fraterno, acolhedor e, ao mesmo tempo, consciente e aguerrido.
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Saí por aí à procura do Natal. Fui pelas ruas, pelos noticiários, pelas conversas entre amigos e parentes e por minha consciência também. Onde estará o Natal, pensei eu?
Pesquisei os incontáveis 25 de dezembro pelos quais já passei e vi muita gente passar. Deparei-me com comida e bebida em excesso, gente se endividando no cartão e no cheque especial, Papais Noéis com aquela roupa que lembra uma garrafa de Coca-Cola, ruas apinhadas de gente, shoppings centers com escadas rolantes lotadas de consumidores atrás daquele presente que não pode faltar, reuniões de confraternização que as empresas fazem, estridentes brincadeiras de amigo oculto… Não encontrei o Natal em nada disso.
Fui buscá-lo, então, nos veículos de comunicação. Sites, jornais, revistas, telejornais… Claro que havia uma ou outra notícia alvissareira. Na maioria das vezes, no entanto, vi autoridades despreparadas primando pela falta de educação e de decoro, pela crueldade e pela ignorância… Vi negros, pobres, gays e índios sendo perseguidos, ridicularizados e mortos; o meio ambiente sendo dilacerado; animais sendo maltratados; gente sendo escravizada para dar conta da produção de bens de consumo… O Natal seguramente não estava em qualquer dessas matérias jornalísticas.
Resolvi me arriscar pelos templos religiosos. Afinal, não existiria, a meu ver, local mais certo para encontrar o Natal. Vi muita gente sincera utilizando os ensinamentos de sua crença para melhorarem a si próprias e ao mundo. Foi bacana! Ao mesmo tempo, me deparei com mercadores da fé, falsos profetas iludindo multidões desavisadas, gente utilizando o local para se promover, pessoas dizendo que “bandido bom é bandido morto”, comemorando prisão de políticos e votando em candidatos com pautas reacionárias…
Tentei encontrar o Natal nos lares. Nada melhor do que o aconchego doméstico para aninhar o espírito natalino. Decerto vi famílias comemorando a data na santa paz. Mas vi tantas outras se desentendendo por motivos variados, tanta gente esquecida passando a festa sozinha, tantos pais e mães agoniados por estarem sem condições de dar um Natal digno aos filhos, tanta falta de perspectiva ante o desemprego que grassa pelo país, tantos sonhos deixados de lado, que me entristeci. Perguntei, então, mais uma vez, por onde andaria o Natal?
Mergulhei, então, no fundo de meu ser para tentar encontrar um pedacinho de Natal que fosse! E também encontrei sonhos ainda não realizados, mas que um dia se realizarão! Encontrei carências que aturdem, mas que um dia serão preenchidas! Encontrei tensões familiares, mas que podem ser resolvidas! Encontrei talentos que podem ser desenvolvidos! Pessoas acolhedoras e incentivadoras! Alternativas não tentadas, caminhos ainda não percorridos, gente disposta a estender a mão aos necessitados de toda ordem e em qualquer direção, amigos de ideias e ideais…
E encontrei, enfim, o Cristo. Não o Cristo convencional, mas o Cristo que tanto me ouve e me entende! É esse Cristo que precisa renascer em mim e em todas as pessoas. É esse Cristo que precisa tomar as ruas. O Cristo fraterno, acolhedor e, ao mesmo tempo, consciente e aguerrido. O Cristo que sabe ter autoridade sem ser autoritário. O Cristo que se mistura com os publicanos e pecadores e convida a todos a tomar parte no banquete de luz espiritual e justiça social por ele preparado. O Cristo que, com o terno olhar, faz cair a máscara da hipocrisia e revela o quanto ainda somos frágeis e carentes de amor; carentes uns dos outros. O Cristo que faz com que realizemos o mais importante de todos os encontros: o encontro com nós mesmos, com nossa potência divina!
Com esse Cristo sendo descoberto e colocado em prática por todos nós, haverá um Natal. E haverá dois, três, quatro, infinitos Natais que se estenderão por todos os dias de todos os anos e farão o mundo, o templo, o lar e o íntimo de cada um festejar um constante Natal!




