Aquelas mãos…, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 4 minutos

Marcelo Henrique

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É preciso que essas mãos façam mais. Que elas possam, neste momento de insegurança, ante tantas ideologias, enxertias e práticas que destoam da Doutrina dos Espíritos, mas que figuram atrativas e interessantes àqueles que ou não conhecem seus princípios, ou preferem permanecer atávicos às conveniências de seus costumes, desejos ou afinidades.
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O que dizer das mãos? Elas podem realizar muitas coisas: oferecem apoio, estendem-se na direção do outro para soerguer, amparar, consolar.

Mãos aproximam os que estão distantes. Sinalizam confiança aos que estão se conhecendo. Permitem que se projetem sonhos até a realização, unindo-se a outras mãos, igualmente receptivas.

Mãos podem acariciar, demovendo receios. Podem abençoar, desejando sucesso. Envolvem, propiciando segurança. Podem ser silenciosas, sem alarde, sem serem vistas ou percebidas, porque têm destinatário certo e necessitado.

Podem estabelecer limites, evitando que se confundam sentimentos e educando comportamentos. E, mesmo nas situações mais graves e agudas, ante mãos violentas, que agarram ou machucam, outras mãos podem conte-las, evitando maiores danos.

Mãos sinalizam o caminho. Escrevem roteiros. Agasalham ou protegem enfermos, infantes, idosos, doentes do corpo ou da alma, e podem aliviar dores, curando feridas.

Saúdam, sinalizam, se despedem, as mãos, desenhando no ar o até breve, nesta ou em outra existência. Uma mão erguida pode representar um pedido de ajuda ou a disponibilidade em servir. A mão que se estende abre uma nova estrada para quem a enxerga e dela se serve.

A mão, também, é veículo de paixão avassaladora, que se converte em amor, quando se percebe que além dos sentidos e das emoções físicas, há um elã que vincula as almas por toda a Eternidade.

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As mãos de Yeshua foram decisivas em um quadrante da Humanidade em que as Leis Espirituais eram interpretadas ao sabor dos interesses mundanos. Elas vieram acenar para os homens de boa vontade, apresentando a bonança que sucede à tempestade, instalando o Reino de Deus não nos templos físicos, nas igrejas suntuosas, ante a autoridade dos poderes temporais, mas dentro de cada ser, em Espírito e Verdade.

Mãos nazarenas que repartiram pão e vinho, mas que, muito além disso, dessedentaram fomes e sedes espirituais, tanto para almas jovens quanto para as mais vividas.

O Rabi também impôs as mãos sobre as crianças para abençoá-las e as chamou para perto de si, nos mostrando que o Reino seria para os que a elas, em Espírito, se assemelhassem. Com elas, recolheu pedras ou gravetos, para aguardar que os circunstantes meditassem sobre seus próprios atos, ensinando-os a paciência e a tolerância.

Estendeu, o Filho do Carpinteiro, as mãos na direção de inúmeros enfermos: a filha de Jairo, o filho único da viúva, o surdo-mudo, o cego de Betsaída, o endemoniado de Cafarnaum, o leproso, o coxo, o amigo Lázaro, e tantos outros.

Podia-se dizer que aquelas mãos transmitiam energias, seja pelo toque ou pela imposição, no ar, e ante a admiração dos discípulos, ele ensinou que todas aquelas coisas que ele fazia também eram possíveis para os que creem.

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Já as mãos de Kardec educaram a infância e a mocidade. Instruíram adultos, ambos na educação pública e gratuita, de qualidade, superando a indigência social e a imposição da moral religiosa da Igreja.

Depois, amparam os mais desvalidos e necessitados, que viviam na miséria das ruas parisienses, sem perspectivas, com o pão e o agasalho, a palavra e o afeto.

Foram mãos, também, que apertaram outras mãos, de amigos e conhecidos, que buscavam, na transcendência, entender melhor a Vida, a Morte, o Universo. Mãos que se davam, umas às outras em mesas simples, sem qualquer ritualística, no afã de buscar a afinidade da comunhão de pensamentos, no contato com as Inteligências Invisíveis.

Mãos que foram buscar, avidamente, nos dias que antecederam a 18 de abril de 1857, as caixas de livros na Editora Didier, para a distribuição do primeiro fruto de seu trabalho de intercâmbio mediúnico, “O livro dos espíritos”, entre amigos e colaboradores, antes do lançamento e da comercialização do mesmo.

Em cumprimentos nas sociedades de ciência e filosofia, de que participava, essas mãos buscaram apoio – e não o tiveram – porque as ideias expressadas pelo Professor Rivail eram revolucionárias demais para corações e mentes experientes e circunscritos às verdades já conhecidas.

E entre os representantes dos poderes temporais, do Estado e da Religião, as mãos de Kardec também se estenderam para apenas dialogar, sem cooptar nem ser cooptado, na dialógica e na dialética herdada das lições de Pestalozzi, rememorando a maiêutica daquele sábio da Antiguidade.

Essas mesmas mãos redigiram cartas valiosas, de ressonância entre seus contemporâneos. Estímulo para que eles prosseguirem suas pesquisas e o diálogo intermundos, propiciando que o Laboratório de Estudos Psicológicos, a Revue Spirite, permanecesse veiculando os resultados das experiências mediúnicas.

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Hoje, as mãos são as nossas…

Elas repetem, no escrever, no digitar, no folhear livros, na magnetização, na reunião em comunhão de pensamentos, na troca de informações e carinhos afetuosos, a dinâmica que figura na Pedagogia de Yeshua e na de Kardec.

São mãos revisoras, que buscam nos ensinamentos desses dois Espíritos Superiores uma bússola que direciona pensamentos, palavras e atitudes, em nome da Filosofia dos Espíritos, presente no Evangelho vivo do Homem de Nazaré e em toda a trajetória, mais contemporânea, do Professor francês.

Mas é preciso que essas mãos façam mais. Que elas possam, neste momento de insegurança, ante tantas ideologias, enxertias e práticas que destoam da Doutrina dos Espíritos, mas que figuram atrativas e interessantes àqueles que ou não conhecem seus princípios, ou preferem permanecer atávicos às conveniências de seus costumes, desejos ou afinidades.

Se a conduta espírita – que exala de nossas mãos – é importante, porque nos impele a SERMOS ESPÍRITAS em todos os momentos e ambientes do viver cotidiano, não nos esqueçamos da fundamentação teórica que exala da obra originária mas que já deveria, com o esforço que deve ser nosso, estar sendo complementada e ampliada por efeito das novas incursões mediúnicas de todos os dias, sendo que elas, as mãos, deveriam, como tal expressado na parábola nazarena, separa o joio do trigo e realizar a semeadura em terrenos propícios.

As minhas mãos estão em trabalho, nesta direção e sob essa diretriz. E quanto às suas?

 

Imagem de skalekar1992 por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “Aquelas mãos…, por Marcelo Henrique

  1. Quando estava lendo este texto, comecei lembrar do momento que vou buscar minha neta na escolinha, ela segura nas minhas mãos com tanta confiança que ali ela está protegida e que será bem conduzida e eu segurando aquelas mãozinhas tão pequeninas vindo na minha cabeça… quem será este espírito que neste momento se sente tão frágil, quais seus compromissos, e aí penso…tudo que eu puder passar e fazer e que estiver no meu alcance, procurarei na medida do possível servir de ponte para sua felicidade….

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