Vozes para Gaza

Tempo de leitura: 4 minutos

Editores do ECK

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Gaza necessita de mais e mais vozes. Não é o momento de análises menores, é o momento de gritar — sem divisões — em nossas redes e grupos, para que possamos interromper esse ciclo impiedoso de violência contra pessoas, homens, mulheres e crianças.

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A imagem do “cara de bronze” discordando do primeiro-ministro israelense e reafirmando que existe fome em Gaza se nos afigura uma imagem tão chocante em um mundo disruptivo como o nosso — que ouvir um personagem polêmico falar o óbvio nos mostra a gravidade do assunto. E o óbvio hoje, acima de tudo, é oferecer vozes para Gaza: posto que silenciada em seu direito de existir, apagada, desumanizada, esmagada e oprimida. Tantos adjetivos poderíamos usar nesse momento, cada um mais chocante que o outro, para cultivar o essencial: vocalizar com destacada intensidade essa dor cada vez maior. Ser a voz de quem não tem — porque não pode ter — voz!

Assim, até mesmo falar em guerra à luz do Espiritismo pode parecer desconexo com a realidade — mesmo com tantos caminhos de compreensão nos oferecidos; como abordou o ECK no texto “Como o Espiritismo interpreta a guerra?”, assinado pelo coordenador do Coletivo, Marcelo Henrique: grau de desenvolvimento dos seres, nível de progresso das coletividades, falta de compreensão, valorização da discórdia e da destruição, fanatismo, motivações religiosas, incompreensão de Deus, natureza animal exacerbada, serventia para o progresso e aprendizado; isto além de tantos outros saberes tão bem colocados pelo pensador no citado artigo.

Não temos como saber o que diria Kardec atualmente diante do horror das imagens da Faixa de Gaza; mas devemos ter plena certeza de que sua atitude seria a de uma destacada indignação, além da capacidade de entendimento inteligente e sensorial (espiritualidade) em face desta barbárie moderna: seria como dar voz ao sangue que escorre permanentemente em Gaza. Como todos os Espíritos sensatos, o Professor francês teria a consciência de que, sim, existem dois lados nessa guerra: um, com armas, pretensamente dono do status quo mundial, em que se destacam a mídia, as finanças e os (diversos) sistemas (político, tecnológico, empresarial, monetário). Do outro, os palestinos: um povo sem armas, sem exército e sem a plenitude estatal, ainda. Um povo totalmente indefeso diante da força.

Desde os primeiros atos de terrorismo do Hamas em 7 de outubro de 2023, matando cidadãos israelenses em suas próprias casas, vemos o horror de uma disputa que já se estende por mais de 100 anos, incendiada por um grupo até então financiado por Israel para dividir forças políticas na administração da Palestina. O resultado: pessoas sequestradas, assassinadas, mostrando como a política — ou as disputas territoriais — podem levar a níveis de violência nunca vistos. Crimes hediondos!

A desproporcionalidade de mortos entre os dois lados chama ainda mais a atenção, assim como a falta de alternativas que possam interromper a montanha de corpos que se acumula do lado palestino. Isso por si só já é suficiente para nos mostrar que qualquer outro viés de debate soa ingênuo e, por consequência, é intelectualmente desonesto.

Mas existem algumas vozes para Gaza: a França ofereceu a sua, ao anunciar que reconheceria oficialmente um Estado da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2024. Depois, mais 14 países se uniram a essa causa: Canadá, Austrália, Andorra, Finlândia, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovênia e Espanha.

São necessárias outras Vozes para Gaza: para que todos saibam que esse conflito é único, sem paralelo. Não é guerra, é genocídio! E não somos somente nós, do ECK, a afirmar. Quem diz isso são grandes pensadores judeus. O tema já saiu da esfera política, para adentrar o âmbito da crise humanitária. Não se trata de um exército contra outro — é exército contra um povo. O professor judeu Michel Gherman, a propósito, ao ser perguntado, em entrevista à “Folha de S.Paulo, se o que ocorre em Gaza é um genocídio, não teve dúvida na resposta:

“Vou me apropriar das palavras de um intelectual de altíssimo nível, o professor de estudos sobre Holocausto da Universidade Brown, nos EUA, Omer Bartov: ‘Eu sou um pesquisador do genocídio, eu reconheço um quando eu vejo.’ Como disse a historiadora Hannah Yablonka, dos Museus dos Guetos em Israel, uma referência em estudos do genocídio: o que acontece em Gaza é produto de vingança, e não de estratégia. E vingança produz genocídio.”

Marcelo Henrique, no mesmo artigo citado, colabora por desvendar esse sentimento:

“Sempre que uma nova guerra eclode, se percebe a presença do mal — não como uma ‘entidade’ ou força espiritual independente —, mas como a exacerbação e a exteriorização de sentimentos peculiares ao homem transitório, ainda bastante animalizado e com vícios e tendências inferiores. E, em face da capacidade intelectual de uns, o desejo de escravização, de domínio e subjugação dos semelhantes, individual ou coletivamente, aflora no sentido de satisfação das paixões, não importando o preço (custo) de suas vontades e desejos. Dominação, esmagamento, dizimação e destruição passam a ser atitudes comuns, substantivos naturais para aqueles que só enxergam os seus direitos, independentemente de legitimação ou senso de justiça.” Leia o artigo completo

São, também, as NOSSAS Vozes para Gaza. O Coletivo ECK une-se a esse clamor, como tem feito em sua linha editorial em variados momentos de crises humanitárias planetárias, ameaças à democracia e outros temas sensíveis, em diversos campos. O que o ECK acrescenta é que, independente de onde venham — individuais ou coletivas, laicas ou religiosas, de qualquer espectro político —, Gaza necessita de mais e mais vozes. Não é o momento de análises menores, é o momento de gritar — sem divisões nem tergiversações — em nossas redes e grupos, para que possamos interromper esse ciclo impiedoso de violência contra pessoas, sejam homens, mulheres ou crianças.

Esse é o nosso dever urgente!

Imagem de hosny salah por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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5 thoughts on “Vozes para Gaza

  1. O silêncio de grande parte do movimento espirita – federativas, instituições e seus representantes – diante o caos em Gaza e ensurdecedor – vergonhoso. Assim se sentiria Kardec, mas, não calado.

    O artigo Vozes para Gaza expressa, com clareza, a urgência moral de denunciar o massacre contra o povo palestino. No contexto espírita, não há espaço para neutralidade diante da opressão — calar é ser conivente.

    Kardec nos ensinou que a caridade é benevolente e ativa; portanto, solidariedade aqui significa ação concreta e voz firme.

    Ao romper com narrativas hegemônicas e reconhecer o genocídio, o texto cumpre o dever de colocar o Espiritismo ao lado dos oprimidos. Que esse clamor se mantenha vivo, pois fora da solidariedade efetiva não há verdadeira caridade

  2. O sentimento é de dor, horror e de indignação.
    Imagens que se não causam esses sentimentos na humanidade, estamos mesmo no fundo do poço.

  3. O problema de Gaza já existe há muitos anos, agravou-se a situação desde que em 7 de Outubro, o braço armado do Hamas , que era governo em Gaza entrou em território de Israel e praticou uma matança com requintes de crueldade inimagináveis e fez reféns Israelitas. Agora o governo sionista de Israel que antes colaborava com o Hamas (governo) que subsidiou e ajudou a manter no poder, quer vingança aplicando a Lei de Talião ao povo pobre e abandonado pelos seus dirigentes que os deixaram ao abandono durante anos vivendo a suas lindas vidas em países ricos vizinhos e agora os sionistas de Israel aplicam ao povo de Gaza o mesmo tratamento que os guerreiros do Hamas dão aos reféns Israelitas. O povo de Gaza é e tem sido sempre um povo abandonado a um destino miserável que agora passou a ser mais visível devido à matança indiscriminada pelas balas da vingança. Clamar pelos massacrados de Gaza e por quem os possa ajudar é um dever, que as Nações Unidas e todos os povos do mundo têm o dever de fazer. Trump e Netanyahu podiam mas não lhes convem, porque quem lhes dá o dinheiro para as armas são os “amos”que querem o extermínio do povo não só de Gaza como de toda a Palestina, para se apoderarem do território na sua totalidade e explorarem as riquezas do seu subsolo. O lobi que os apoia é o mesmo que provoca e desenvolve conflitos e guerras em todo o mundo nas pessoas físicas dos governos norte-americanos desde sempre, onde a industria da guerra e o objectivo da supremacia do mundo são as suas prioridades. Gaza é só uma ponta do icebergue.Todo o mundo está na lista. Teria muito mais para escrever, mas o tema aqui é a impunidade que se faz sentir sobre os massacres em Gaza que envergonha a Humanidade em geral. Não podemos ignorar, temos direito à indignação sobre a hipocrisia dos governantes que só agora parecem ter-se apercebido da ignomínia do que tem acontecido em Gaza desde há muitos anos.

  4. Estamos vivendo o que não deveríamos viver. A humanidade caminha lentamente quando se trata de repetir o que jamais deveria ser repetido , por isso é preciso falar e dar voz aos silenciados, apagados , esquecidos

  5. Gaza precisa ser ouvida… e muitos outro locais! Até quando nós (humanos terráqueos) continuaremos a viver a violência como forma de ‘solução’ de problemas? Que, aliás, nós mesmos é que criamos esses problemas, e com a violência apenas os deslocamos no tempo, fazendo-os explodir ainda mais graves no futuro…