Sexo e Sensualidade, por Carlos Augusto Parchen

Tempo de leitura: 3 minutos

Carlos Augusto Parchen

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Das questões mais complexas da atualidade, a sensualidade precisa ser bem entendida por todos nós. Antes considerada preconceituosamente como pecado, algo proibido e exacerbação das paixões animais, a compreensão espiritual nos endereça ao caminho para os legítimos prazeres da vida, no equilíbrio entre sensualidade e espiritualidade.

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“Ensinam-nos [os Espíritos] que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria.”

(KARDEC, Allan. “O livro dos Espíritos”. Introdução, Item VI, Resumo da Doutrina Espírita.)

 

“694. Que se deve pensar dos usos, cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade?

Resposta: Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material.

(KARDEC, Allan. “O livro dos Espíritos”. Questão 694, em “Obstáculos à reprodução”.)

O sentido de sensualidade, como colocado na obra de Kardec, não é o mesmo de sexualidade, nem de erotismo. Sensualidade, nesse caso, está colocada no sentido de “paixão” pelo sexo, do vício pelo sexo, da busca desenfreada pelo sexo. Todo vício prende à matéria, pois causa dependência psíquica dos “prazeres” sentidos pelo corpo. A forte energização telúrica propiciada pelos vícios, liga o ser aos padrões materiais.

Perguntaríamos: mas, na relação sexual, seja ela entre marido e mulher ou simplesmente entre homem e mulher, a sensualidade não está sempre presente? Não no sentido colocado na época por Kardec. Lembremos e contextualizemos a época. Muito modernamente, nos últimos 50 ou 60 anos é que o sentido de sensualidade passou a ser sinônimo de erotismo. Na verdade, no contato sexual entre homem e mulher, ocorre sempre o erotismo, cujo sinônimo atual é de sensualidade. Mas, no sentido colocado em O livro dos espíritos, “sensualidade” é colocada no sentido de “paixão desenfreada pelo sexo” ou “vício pelo sexo”.

A sexualidade, o erotismo e o sexo são fatores naturais que, utilizados com responsabilidade e discernimento, trazem prazer e propiciam importantes trocas energéticas. Comer é necessário; comer de forma irresponsável mata! Beber vinho com moderação pode fazer bem à circulação e ao coração; beber vinho em excesso destrói o ser! Adrenalina é bom para aumentar nossas potencialidades; adrenalina em excesso provoca sérios distúrbios orgânicos! Não há nenhuma contradição entre sexo, erotismo e evolução. Tudo é uma questão de dose e de limites…

Outra questão importante diz respeito ao controle de natalidade; quando, hipoteticamente, um casal já teve os filhos que queria, as relações sexuais entre eles terão o único objetivo de satisfazer o desejo sexual? Neste caso, para se libertarem da matéria eles teriam que se abster de relações sexuais? Devemos entender que o sexo é somente destinado à reprodução? Claro que não! Temos todo o direito de controlar a reprodução e de ter prazer e trocas energéticas através do sexo. Mais uma vez, a palavra-chave é responsabilidade, é equilíbrio e é amor. A união estável entre homem e mulher necessita do sexo e do erotismo, e isso não ofende a Lei Divina ou Natural.

Sexo com responsabilidade, sexo com bom senso, sexo com amor. Esse é o tripé da sexualidade. Sexo é instrumento utilizado pela reprodução, mas sua finalidade não é só essa, pois se assim fosse, a mulher teria “cio” e o homem só teria o desejo despertado pelo feromônio do cio. Sexo é muito mais que isso: é entrega, é complementação, é cumplicidade, é troca, é dar e receber mútuos. Tudo é uma questão de dose e de foco.

Lembremos também, ao estudar Kardec, que os livros foram escritos em outra realidade temporal, cultural e social, e que, para serem trazidos à época atual, é necessário uma cuidadosa contextualização. Leia a “Teoria da Beleza”, em “Obras Póstumas”. Veja qual vai ser sua primeira impressão. Achará que Kardec estava louco e era preconceituoso, no entanto, é apenas uma questão de contextualização. O livro foi escrito na Europa, por um europeu, há mais de 150 anos atrás; tem que ser analisado na ótica da época, e não na atual, que mudou, e muito. Isso vale para a questão da sensualidade.

Entre homem e mulher, que se busque o amor verdadeiro; o amor sensual virá em decorrência. Simples e prazeroso.

Nota do ECK:

Artigo originalmente publicado na edição impressa (Ano XX – N. 149 – Fevereiro 2007), da Revista Harmonia. Por sua atualidade, o ECK resolveu republicar o mesmo.

Imagem de chiplanay por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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